Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

O ostracismo pandêmico

Nós não estamos habituados a parar. Nossa sociedade, cada vez mais interligada com a tecnologia, nos obriga a viver num ritmo acelerado, correndo contra o tempo, cumprindo metas atrás de metas.


E então, repentinamente, o isolamento social chega a nossas vidas. A necessidade de nos afastarmos à conta da rápida proliferação do novo coronavírus desregula nossa preciosa rotina. O isolamento é indispensável em tempos pandêmicos, e sua legitimidade não é diminuída por conta de alguns irresponsáveis. Contudo, o desafio é homérico. Willian Glasser, no século passado, atestou que somos, por natureza, seres sociais; o confinamento não é natural para a gente.


Somos apaixonados por um modelo, uma rotina, algum paradigma para seguir. Sem isso, perdemo-nos. Nem sempre dispostos a mudar um padrão que apreciamos, o isolamento social atinge a todos indistintamente, obrigando-nos a saltar da zona de conforto.

De repente, nos damos conta de que o ciclo acelerado em que estávamos, para muitos, diminuiu: um botão é desligado dentro da gente, e ele se chama “piloto automático’’. Em algum momento, você já deve ter flagrado sua mente vagueando por uma sucessão de pensamentos ou memórias sem sua permissão; ou então executado uma tarefa chata sem se dar conta de como a fizera. Presumimos ser desatenção. Entretanto, é apenas você funcionando no modo automático.


Familiarizados a repetir padrões de comportamento, o automatismo é essencial para que possamos lidar com o mundo; às vezes, a mente decide tirar essa folga. É uma vantagem evolucionária. Não obstante, o confinamento desliga nosso piloto automático, e então, de improviso, estamos com as mãos presas ao volante da gente, guiando-nos por um novo modelo, uma nova rotina.


O sofrimento emocional acompanha a quebra de muitos dos nossos paradigmas. Precisou de um vírus letal para nos parar, nos despertar, diminuir nosso tempo tão acelerado e apontar o esgotamento emocional da sociedade. Sem o piloto automático, somos impelidos a nos repensar, a nos redefinir e a nos encarar. Talvez este seja um dos maiores tormentos durante o ostracismo pandêmico.


Heduardo Del Pintor Vieira é Psicólogo – CRP: 18/05294 e pós-graduando em Psicoterapia Psicanalítica. Meu contato está aberto para te ouvir: (65) 98124-3734 / Email: psi.heduardodelpintor@gmail.com
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