Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

A carne barata do servidor público concursado

Como já dizia Seu Jorge, na letra cantada pela incomparável Elza Soares: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”!

E você cidadão, consegue entender as entranhas que estão por trás do poder e do dinheiro e que estabelecem e decidem qual o preço da sua carne?

É nesse viés que vem o mais NOVO e ARROJADO projeto do Governo Estadual de Mato Grosso de Reforma da Previdência no Serviço Público, vem estabelecer o preço da CARNE DO SERVIDOR PUBLICO, seguindo algumas diretrizes do que já está sendo realizado a nível Federal, com alguns requintes extras de crueldade.

Oras, não era difícil imaginar que os poucos e grandes afortunados, donos do poder e do dinheiro do nosso País, quando dizem que se deve “cortar na própria carne”, certamente não queriam dizer: “fatiar a própria picanha”. Claro que não, pois se há de se cortar, que seja na carne mais barata, que no caso da Reforma da Previdência Estadual, concluímos que mais uma vez indubitavelmente será a carne do servidor público do executivo.

O projeto de desmonte do serviço público é grandioso, e não vai parar nas terceirizações, o projeto é destruir o servidor perante a sociedade, alegando que o servidor é um privilegiado, que tem um bom salário e primordialmente, que não trabalha, o que não é um mito falacioso criado exatamente para tirar as trancas e deixar as portas abertas à liberalidade das contratações políticas sem critérios e sem qualificação.

Logo o servidor, que escolheu por seu sacerdócio a atividade de servidor público, que por dom resolveu dedicar-se a ensinar as crianças e jovens, proteger a vida dos cidadãos expondo a sua, a cuidar e curar os doentes mesmo sem qualquer estrutura a seu dispor, é na carne desse servidor que será o corte, o único capaz de na prática conter os desmandos dos governos que entram e saem sem projetos, garantir um mínimo de eficiência e probidade no âmbito do serviço público e a manutenção do propósito de servir a todos.

Não estamos falando de um estado de benefícios ao servidor, mas de um modelo que é baseado na profissionalização e responsabilização dos funcionários públicos, e se o Estado por seus cidadãos, almeja ser democrático e desenvolvido, precisa fazer as reformas certas, sem que se perca o sentido nobre dessa função.

Mas sabemos a verdade, é o servidor público concursado que terá sua velhice totalmente afetada pela Reforma da Previdência, não o terceirizado ou o comissionado, ou os políticos e grandes afortunados do dinheiro e do poder, esses se manterão preservados, sem cobrança dos débitos tributários das suas grandes fortunas e empresas, cercados dos privilégios do poder, como altos salários, verbas de gabinete, verbas indenizatórias – as famosas VI”s, jetons, cartões corporativos, verbas em sua maioria sem qualquer incidência tributária, rodeados das famosas prerrogativas dos cargos que ocupam: carros com motoristas exclusivos, escritórios pomposos com arquitetura rebuscada e acesso privativo, garçom e cardápio de luxo, regalias de caráter até acintoso, se pensarmos nas condições dos hospitais públicos, das escolas e demais instrumentos que deveriam ter qualidade para servir o público e mão possuem nenhuma.

É nesse momento que temos o José da Silva, que estudou por anos, passou num concurso sonhado, se qualificou a vida toda, e recebe uma remuneração que é de pouco mais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), do nada, o nosso provedor da família, que comeu pó de giz durante 30 (trinta) anos ensinando e cuidando das nossas crianças e jovens, quando adquirir seu direito a se aposentar, poderá receber um benefício previdenciário equivalente a 1/3 (um terço) da sua remuneração na ativa, mesmo tendo recolhido a vida toda sobre a integralidade de sua remuneração.

Tudo isso, sem projeto, sem estudo técnico, sem auditoria nas contas do MTPrev para apurar onde estão os verdadeiros problemas, que em sua maioria é recurso da previdência dos servidores que foi utilizado em outros projetos de Estado ou de Poder - com desvio de finalidade – e sem a devida prestação de contas. Fato é que não há alternativas postas na mesa para discussão, não se aceitam debates nem argumentos, o que o Governo do Estado de Mato Grosso quer e vai fazer como o dono da verdade, e com o auxílio da maioria dos Excelentíssimos Deputados, que se eximem da defesa do povo, é mais uma vez cobrar do bolso do pequeno uma divida que não é dele, vão cortar na carne do servidor público concursado a falta de zelo e de responsabilidade pela coisa pública.

Aos cidadãos comuns, indignos de conhecer a Disney, o peso da lei e o e a foice da justiça, e aos ricos e poderosos, pelo simples fato de serem extraordinários, a condescendência para a prática de toda sorte de injustiças.

Viva a carne barata do servidor público concursado! Que pode ser cortada, fatiada e exposta às moscas, em benefício da manutenção dos privilégios dos poderosos e afortunados!





Ana Claudia Aparecida Lisboa é Analista Administrativo da Área Meio do Executivo, Advogada, Especialista em Direito Administrativo e Processo Administrativo, Pós Graduada em Gestão de Projetos e em Gestão Pública e Doutoranda em Ciências Jurídicas.


 
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