Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

A nova Pistóia

A Força Expedicionária Brasileira (FEB), criada em 1943, desembarcou em Nápoles(Itália), em 16 de junho de 1944, e era formada por 25.834 combatentes (homens e mulheres) que enviamos ao teatro europeu da Segunda Guerra Mundial para combater o nazi-fascismo. Eram homens e mulheres que, então, colocavam suas vidas à prova em nome de nosso país para combater um dos regimes mais ignominiosos que já existiram sobre a face da Terra, um regime ditatorial, racista, homofóbico, intolerante, responsável pelo massacre de 6 milhões de judeus em toda Europa. Nomes como os dos pracinhas Benedito Flávio Martins e Feliciano Moreira da Costa honram as tradições mato-grossenses de pessoas que não se furtaram ao chamado da pátria para defender valores que mais alto se colocam, a democracia, a liberdade e os direitos de todos os seres humanos. Na Itália, nossos combatentes registraram feitos notáveis, como as vitórias em Monte Castelo, Montese, Castelnuovo e Fornovo di Taro, além da inestimável atuação do 1º Grupo de Aviação de Caça, comandado pelo Major-aviador Nero Moura.

Ao final da guerra, 462 dos nossos haviam tombado no campo de batalha. Lutaram uma guerra justa, lutaram por uma causa que valia apena lutar. O povo italiano, povo irmão, tanto que minha esposa é Spinelli, reservou o campo santo de Pistóia para o descanso dos nossos. Repousavam sob a guarda de nossa bandeira. Seus corpos foram transladados ao Brasil e hoje resta um monumento ao soldado desconhecido, mas o povo italiano, a cada ano, reconhece o que fizemos. (Se quiser, procure na internet a cerimônia das crianças italianas cantando, em português, a Canção do Expedicionário).

Hoje, estamos em uma guerra, mas um tipo diferente de guerra. Nosso inimigo é pequeno, invisível, mas é mortal. Na linha de frente, não vemos pracinhas ou artilharia, mas homens e mulheres de branco, jaleco, estetoscópio, termômetros...

São pessoas que todos os dias, médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras, deixam seus lares para travar uma luta árdua, incessante contra esse inimigo viral. Cumprem o juramento que fizeram em sua graduação, sem medir esforços em salvar a vida do próximo, colocando a sua em risco, tudo em nome da vida e da humanidade.

Como dizer que não são guerreiros? Como entender seu sacrifício? Como compreender o que se passa quando mais um de nós se vai? Como é dizer para alguém que seu ente querido morreu? Não sei o que é isso, sou professor.

Então, muito me revolta, mas não me espanta, em um governo de cínicos e cretinos, que o Ministério da Economia tenta barrar um projeto que prevê indenização a profissionais de saúde incapacitados para o trabalho em razão da Covid-19 e reparação a cônjuges e dependentes de profissionais que morreram infectados pelo novo coronavírus.

Será que essa canalha não tem limite? Será que extirpamos o bom senso do nosso meio? O Brasil, tristemente, é o país do planeta que tem o maior número de médicos e enfermeiros mortos pela Covid-19 no mundo!!

E nós deixaremos suas famílias desamparadas? Existe sacrifício maior do que o que foi feito por eles? Abandonaremos nossos pracinhas de branco? Será que seguiremos um cretino como Paulo Guedes, que trata isso como “números”, “estatísticas” da Previdência?

É necessária a urgente mobilização da sociedade para que essa lei, esse auxílio seja aprovado! Estamos falando de pessoas que perderam suas vidas, porque não arredaram o pé do leito de seus pacientes tentando salvá-los. Esquecê-los seria como esquecer aqueles que, na Itália, tombaram para que hoje sejamos livres. Que nós saibamos reconhecer seu sacrifício e nunca nos rendamos a uma visão estúpida e mesquinha que enxerga, na vida humana, acima de tudo, um número.

Marcelo Alonso Lemes é Professor



 
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