Olhar Direto

Terça-feira, 16 de abril de 2024

Opinião

O conforto de ser amigo de si mesmo

Identificamos o amigo como outra pessoa que não a gente; um ser externo que julgamos digno de partilhar das nossas intimidades e das nossas aventuras. Amizade é processual, e a ela somos apresentados logo na infância, sem data de encerramento. Ao longo da jornada, alguns amigos distanciam-se e novos amigos surgem; é um ciclo que se mantém mais ou menos fluído para a maioria. Por isto, somos expertos quanto à amizade. Não obstante, ousemos refletir: temos sido bons amigos para nós mesmos?

A saber: se amigos têm problemas, não dizemos a eles que são incompetentes ou incapazes; se eles reclamam das amarguras da vida, não falamos que merecem o que recebem. Não! Nós reafirmamos que – nossos amigos – são boas pessoas e que – se possível – queremos ajudá-los a superar a turbulência de uma fase ruim. Isto só é possível porque desenvolvemos estratégias de consolo muito eficazes para lidar com o sofrimento de outrem – infelizmente, poucas vezes a empregamos em nós.

Sem pretensão de esgotar as possibilidades, existem atitudes indispensáveis que um bom amigo comumente toma e que podem, muito bem, servir de guia para como deveríamos (ao menos, idealmente) conversar com nós mesmos. Em primeiro lugar: o bom amigo gosta de você do jeito que é. Mesmo quando o amigo sugestiona que, talvez, você reproduza alguma atitude que devesse ser repensada, não há tom de ameaça, pois não será abandonado se não mudar. Em segundo lugar: sem bajular, o bom amigo frequentemente leva em consideração aquilo que fazemos certo. Ele valoriza nossos pontos fortes, aos quais perdemos facilmente de vista quando os problemas emergem. E, por fim, o bom amigo tem compaixão: quando falhamos (ninguém é imune a isto), ele é compreensivo sobre nossas escolhas erradas, por isto nossa tolice não nos exclui do coração dele.

E quando falharmos (porque iremos falhar, não só às vezes), não seria melhor se compreendêssemos que a falha não é o fim do mundo, mas sim inerente a todo o mundo? É irônico como podemos ser ótimos amigos para nossos conhecidos e péssimos amigos para nós mesmos. O lado bom é que já possuímos todas as ferramentas importantes da amizade; basta direcioná-las para as pessoas que, provavelmente, mais precisam – nós mesmos.


Heduardo Del Pintor Vieira é Psicólogo – CRP: 18/05294 e pós-graduando em Psicoterapia Psicanalítica. Meu contato está aberto para te ouvir: (65) 98124-3734 / Email: psi.heduardodelpintor@gmail.com


 
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