Olhar Direto

Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Opinião

A elegância do amor próprio como requisito para amar o outro

Para alguns, apaixonar-se apresenta perigos, e um dos mais excêntricos é a reação que se tomará quando o outro resolver amá-lo de volta. Pode soar contraditório (porque acreditamos que se amamos e somos amados em contrapartida viveremos uma história de amor), mas soará esclarecedor ao longo do texto.

Muitas razões justificam nossas paixões, e uma das mais recorrentes é o desejo de escapar de si mesmo; afogar-se no abraço de uma pessoa que pareça extraordinária, bela e realizada à proporção que nos sentimentos incapazes, imperfeitos e inseguros. E então a ameaça vem à tona: se a pessoa nos aprova no amor, isto só pode significar que ela tem muito mau gosto. O dilema surge aqui, e é um processo inconsciente.

Ainda que sem verbalização, muitos sabem (ou acabam descobrindo durante a jornada da vida) que um dos requisitos para o bom relacionamento é certo grau de afeto por si próprio. Para muitos, não é uma tarefa fácil, uma vez que é uma construção que se origina principalmente na infância. Sem o legado de que somos merecedores de amor, nós responderemos às ternuras que nos são concedidas com, no mínimo, confusão. Sem uma quantia decente de amor próprio, o amor da outra pessoa sempre parecerá doentio e equivocado; e daí revela-se a direção que muitos tomam, inconscientemente, de autodestruir, de repelir ou de desapontar as pessoas que genuinamente as amam de volta. Acontece que, para elas, parece mais normal e, assim sendo, confortável rejeitar ou ignorar, quando isso é o que elas mais conhecem.

Sem o convencimento da própria capacidade de amar e ser amado, o sujeito que recebe afeto pode sentir como se estivesse recebendo um prêmio por alguma realização que nunca conquistou. Segundo Lacan, somos seres desejantes, incompletos por natureza; viajamos não à deriva, mas a bordo de nossos desejos. Nossa incompletude preenche-se com desejos e quereres, e, por isto, estamos sempre em busca de algo que possa nos completar. No amor, não é diferente.

Evitando-se a covardia emocional, quem se envereda no amor sabe que precisa estar preparado para saldar as dívidas que vem com ele.

Geralmente, a maneira como um relacionamento simboliza o bom (e o realizador) ou o ruim (e o abusivo) depende da balança entre o amor próprio e o ódio de si mesmo. Caso o ódio prevaleça, pode ser que a pessoa-que-ama-de-volta sinta-se infeliz em receber toda a autodestruição do outro (quem nunca ouviu a famosa frase ‘’não é você, sou eu’’? Ela traz verdade). Agora, caso o amor a si sobressaia, ambos os parceiros poderão desfrutar do fato de que o amor correspondido não é a prova de que não somos bons o suficiente, e sim que somos admiráveis o bastante para sermos amados.

Portanto, amar pode ser uma das coisas mais gentis e românticas que podemos fazer se aprendermos a nos amar primeiro.



Heduardo Del Pintor Vieira é Psicólogo – CRP: 18/05294 e pós-graduando em Psicoterapia Psicanalítica. Meu contato está aberto para te ouvir: (65) 98124-3734 / Email: psi.heduardodelpintor@gmail.com


 
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