Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

O espaço político de Pedro Taques

Tive a oportunidade de entrevistar o ex-Governador Pedro Taques, junto com o colega jornalista Hugo Fernandes. É óbvio que ele tem suas chances na eleição para o Senado, por ter uma boa densidade eleitoral em todo o Estado fruto de três eleições majoritárias consecutivas.

Primeiro, é interessante observar que ele continua um político localizado no centro, numa equidistância entre os extremos. Ele já tinha esse comportamento nas eleições anteriores e durante o Governo do Estado. Mas percebi algumas mudanças em seu posicionamento, já que o centro é mais móvel que os outros setores do campo político. Ele se moveu mais para a esquerda em relação às manifestações anteriores. Apresentou um discurso bem focado na defesa dos interesses dos servidores públicos, dos excluídos e do desenvolvimento sustentável. Abrandou a celebração que fazia dos resultados econômicos de Mato Grosso, passando a enfatizar os problemas na área social.

Este movimento responde à ocupação da direita pelo Bolsonarismo e que empurrou eleitores e políticos de centro um pouco mais esquerda. O fato de Nilson Leitão ser candidato a senador pelo PSDB com discurso mais focado na área econômica e fiscal deslocou Taques para a busca destes espaços. Ele deverá explorar este território político entre os candidatos mais vinculados ao agronegócio e aqueles com perfil nítido de centro-esquerda, como o deputado Valdir Barranco (PT) e o Procurador Mauro (PSOL).

A meu ver Taques está querendo ocupar o vácuo político deixado pela saída de Gisela Simona (PROS) da eleição para senador. Está se colocando como um candidato defensor dos servidores públicos e da população de renda mais baixa, com perfil conceitual baseado na sua reputação. A forte presença nas mídias sociais também é uma grande semelhança. Está bem parecido com sua primeira candidatura a Senador em 2010, quando se apresentou como um nome novo vindo de fora da política e com forte apelo na agenda de combate a corrupção.

Ocorre que o relógio não anda para trás. Desde então Pedro Taques foi Senador e Governador. Acumulou alguns ativos políticos que está explorando agora, como os merecidos prêmios por sua atuação no Senado e as entregas que conseguiu realizar no Governo do Estado. Porém, é preciso considerar o passivo político que ele também tem pelo que fez e deixou de fazer nesse mesmo período. A relação difícil com os servidores públicos, a instabilidade administrativa, os problemas fiscais, o forte alinhamento com o agronegócio e os escândalos de corrupção que marcaram a sua gestão como Governador. São situações que lhe serão cobradas, com certeza, pelos adversários e eleitores.

Algo que me chamou a atenção também foi a ênfase na sua biografia pessoal. Ele continua se comportando como um jurista ou notável na política, se definindo como um servidor público que oferece seu preparo e experiência para atuar no Senado em favor da cidadania. Mas sabemos que a política é feita em grupo e que se não houver muita articulação consegue se concretizar pouca coisa num órgão colegiado. Ele demonstrou uma postura independente em relação a Bolsonaro, concordando com algumas ações realizadas pelo Governo Federal. Mas está filiado ao Solidariedade, partido que compõe o Centrão no Congresso e tem como presidente o deputado federal Paulinho Pereira da Silva, da Força Sindical. Pesam sobre ele acusações importantes que maculam a imagem do partido.

Estas e outras ambiguidades precisarão ser trabalhadas por Pedro Taques na sua campanha. Talvez esteja apostando num racha dos demais setores que estão congestionados, o que poderia favorece-lo. Ou na procura do eleitor por sua postura de anti-político. Ou preparação para 2022. A conferir.
 
Vinicius de Carvalho é gestor governamental, analista político e professor universitário.
 
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