Olhar Direto

Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Opinião

O processo da dor e a busca da felicidade

“Não se pode transformar o escritório em setting terapêutico, mas acolher e encorajar as partes para o enfrentamento dos problemas é imprescindível”.

Não tenho dúvidas de que os escritórios especialistas em Direito das Famílias representam, para a parte, um divã para a sua dor.   São tantas as amarguras, as perdas, as mágoas, os desencontros e as decepções que envolvem os que ali se aportam que o profissional necessita estar extremamente equilibrado, forte e tentar ser o mais técnico possível para que não tome para si, os problemas que não são seus. E como manter-se neutro? Por mais que o profissional seja técnico, não há como não levar aos que sofrem uma palavra de esperança e de luz. Esse acalento deve se ater ao acolhimento e encorajamento para enfrentar o rito de passagem que se dá entre a ruptura da união, discussão dos termos do divórcio e, por último, a sentença que colocará fim à conjugalidade. E é inevitável não lembrar da figura daquela ferida que se ganha na infância, com uma casca bem grossa que fica ali, seca por cima e purulenta embaixo. Qual a técnica ideal para que o medicamento atinja efetivamente as bactérias que se instalam por baixo   e que vão comendo a carne no dia a dia? É preciso remover a casca. Não tem outra saída! E essa remoção é um processo doloroso demais, é um momento de dor intensa. No entanto, feito isso e a assepsia do local é possível matar as bactérias  e a cura vem.
 
E os processos de divórcio se enquadram bem nesta metáfora. É um processo doloroso, que já vem sofrendo a pior das perdas que é o afeto. E como é que as pessoas, que já se amaram um dia, veem no ser amado de outrora, um inimigo poderoso? Essa perda é o resultado da ingestão de   uma gota de veneno todos os dias na corrente sanguínea, através de uma convivência tóxica.  Aliás, está provado que as relações tóxicas matam mais que muitas doenças graves porque delas decorrem outras mazelas para a saúde física e emocional. Ela vai afetando aos poucos, adoecendo a pessoa vagarosamente e minguando a sua alma. A sensação que se tem naquela fase é que se matam os sonhos, a esperança, o projeto de vida. Os divórcios já trazem consigo a dor da separação agregados ao dissabor da discussão sobre partilha de bens, guarda e proteção dos filhos e muitas, mas muitas mágoas. E é necessário que haja esse rito de passagem para que, após a solução de toda a parte prática, venha a cura e a tranquilidade para se continuar a vida de forma mais feliz. 

É preciso, mesmo com uma atuação técnica, repassar às partes uma experiência colhida ao longo dos anos atuando em Direito das Famílias que é o fato de existirem duas situações totalmente antagônicas - o casamento que une e o divórcio que separa e que após um longo caminho, terminam em um ponto convergente, com a busca do mesmo resultado: as pessoas se casam para ser feliz e se separam, também, para ser feliz. E é preciso ter como norte que novos tempos virão e que é proibido se perpetuar na infelicidade por comodismo ou mesmo falta de coragem. Viver bem é preciso!
 

Janete Garcia de O Valdez Advogada, Membro do  IBDFAM  e da  ABA
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