Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

Bons votos

No mundo da vela, costumamos saudar os amigos que se preparam para zarpar em suas embarcações com a expressão “Bons Ventos!”.

Nas orientações que passo aos meus alunos, presencialmente ou pelas redes sociais, sempre concluo a fala ou o texto com a expressão “Bons estudos!”. Dependendo da situação, acrescento ainda “Boa prova!” ou “Boa sorte!”.

Hoje é dia de dizer aos meus concidadãos “Bons votos!”.

Da mesma forma que desejar aos velejadores “Bons ventos!” significa que se almeja evitar tanto as tempestades quanto as calmarias, ambas nefastas para a boa navegação, ao expressar “Bons votos!” o que preconizamos é que as escolhas eleitorais de cada um sejam feitas de modo consciente, que o processo de apuração seja seguro, que os resultados sejam respeitados, que vitoriosos e derrotados aprendam a lição da humildade, que o exercício da democracia nos congregue como nação e que os futuros mandatários, no executivo e no legislativo, tenham êxito na implantação de suas plataformas e atuem sempre com obediência à Constituição e visando o interesse público.

Quanto a mim, confesso que sempre me emociono quando vou votar.

Não porque nutra alguma paixão, positiva ou negativa, por essa ou aquela campanha. Há muito aprendi que os candidatos são seres humanos, como nós outros cidadãos, com qualidades e defeitos, potenciais e limitações. Não são sobrenaturais nem têm superpoderes, para o mal ou para o bem. Já houve situações em que gostaria de votar em mais de um nome para determinada função; houve outras em que nenhuma proposta me entusiasmou. Houve escolhas das quais me arrependi pouco depois de fazê-las e outras das quais me orgulharei para sempre. Mas todas as vezes compareço às urnas e exerço esse direito com emoção.
Direito de voto. É isso que me emociona.

Ao me aproximar do recinto eleitoral - no meu caso, uma escola municipal de Cuiabá - é como se passasse um filme pela minha memória. Recordo a juventude e as lutas estudantis contra a ditadura. Lembro como minha voz hesitou na primeira vez que me dirigi a centenas de pessoas numa assembleia universitária, sabendo que ali estavam me filmando os agentes da repressão. Ainda sinto o frio da madrugada durante as panfletagens nas estações de trem suburbano, cujos muros havíamos pichado com cal durante a noite. Fui detido uma vez, apanhei mais de uma. Escondia as camisas rasgadas ou manchadas para não preocupar minha mãe. Fui abordado algumas vezes por gente armada e nunca contei quantas noites fui acordado por telefonemas anônimos com ameaças, coisas daquela época. Não, não fui herói, nem perto disso. Mas, por certo, não fui omisso numa causa justa, o que me conforta.

Não tínhamos direito de voto. Não tínhamos liberdade. Não tínhamos democracia. Vivíamos sufocados pela censura e pelo medo. Foi só com muita luta de milhões e milhões de brasileiros que conquistamos a democracia.

A democracia e o direito de voto nos trouxeram inúmeras conquistas civilizatórias.

Olhando para 1982, minha primeira eleição, constato o quanto o Brasil evoluiu em todos os aspectos: na universalização da educação básica, na implantação do SUS, na estabilidade econômica após anos de hiperinflação, na evolução legislativa reconhecendo os direitos do consumidor e das mulheres, protegendo o meio ambiente, criminalizando o racismo e a homofobia, aprimorando a gestão pública com mecanismos de controle e transparência etc.

Olhando para o futuro, observo o gigantesco caminho que ainda temos para percorrer e tenho certeza que somente a via democrática nos conduzirá a um destino melhor. Tenho orgulho do que conseguimos alcançar e esperança no que podemos construir exercendo nosso direito de voto.

Desde a longínqua primeira vez em que votei, ao depositar o voto escrito em papel numa urna de pano; até hoje, ao digitar números na urna eletrônica, sempre profiro uma prece íntima, pedindo a Deus que abençoe o Brasil e seu povo.

Assim, caros leitores, neste domingo, desejo bons votos e - por que não também? - bons ventos aos brasileiros.
 
Luiz Henrique Lima é Conselheiro Substituto do TCE-MT.
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