Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

O que será presente no seu final de ano?

Ouro, mirra ou incenso. Nas celebrações de final de ano, nós levamos o que temos, mas nem todos têm bons presentes a oferecer. 

Sem queimas de fogos, com as maiores festas de Réveillon do país canceladas, viagens adiadas e distanciamento social, tradições precisaram se adaptar à nova realidade. Manter distância ainda é a opção mais segura, mas algumas famílias pretendem se reunir, outras já estão em reunião forçada há meses, convivendo muito mais do que o desejado. 

A mitologia em torno dessas comemorações prega que devemos estar felizes, sorrindo e sentindo o amor florescer. Lindo, mas utópico para muitas pessoas.

Relações são como fogueiras, podem aquecer, iluminar o caminho, espantar o frio e proteger. Ficar perto demais, no entanto, pode queimar e até deixar cicatrizes. Por isso, a realidade do Natal e Ano Novo pode ser muito diferente do retratado pelo marketing natalino. 

A data, o presépio, uma árvore e roupas brancas não fazem desaparecer os distratos, o preconceito, as imposições, as mágoas plantadas no passado.  

Em 2020 sofremos desabastecimentos em vários setores da economia, mas algumas pessoas vivem na escassez das matérias primas da boa convivência. Empatia, autocrítica, bom senso e respeito não vem embrulhados em uma caixa e não surgem magicamente na última semana do ano.

Me desculpo pelo balde de água fria, mas alguém precisa falar sobre isso. 

Se esse momento não te desperta angústia, agradeça porque sua família está bem estruturada, mas reflita se você, ainda que sem perceber, se torna inconveniente para alguém. 

É relativamente comum não enxergar os limites entre você e o outro, você é uma pessoa, seu familiar é outra. Ele tem objetivos diferentes do seu, valores que talvez você não conheça. 

Comentários que cobram um casamento, perder peso, um filho, um diploma ou uma namorada são uma tentativa de impor sua visão de mundo, de vida. Não são conselhos se não forem pedidos. 

As óbvias consequência do consumo exagerado de álcool, a ressaca política de eleições polarizadas, discussões sobre vacinas e reclamações sobre o mundo também são ingredientes de uma ceia indigesta.

Então, esteja disposto a escutar mais do que falar, a enxergar qualidades e elogiar conquistas, por menores que elas sejam. Transforme lamentações em gratidão pelo o que foi aprendido. Se a conversa se tornar uma discussão, mude de assunto, quem quer estar certo sempre, acaba sendo o mais chato. 

Respeite seus limites, seu humor e vontade de participar. Está tudo bem se não estiver no clima de celebração. Lembre que ainda existe uma pandemia acontecendo e não se exponha além do necessário. 

E finalmente, que paz e saúde mental se tornem presentes no seu fim de ano. 


Manoel Vicente de Barros é Psiquiatra em Cuiabá e atua no tratamento de Depressão e Ansiedade, CRM 8273, RQE 4866. Instagram: @dr.manoelvicente
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