Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

​Contradição mortal

Como é possível que uma pessoa que se posiciona contra a tortura e a pena de morte apoie uma legislação que condena ao sofrimento e à morte milhares de seres humanos inocentes de qualquer crime?

Como é possível que alguém que defende os direitos humanos negue o direito à vida a milhares de seres humanos?

Como é possível que organizações que defendem os setores mais frágeis e oprimidos da sociedade celebrem a legalização da morte daqueles que são os mais indefesos entre os humanos?

Infelizmente, inacreditavelmente, isso ocorre, como vimos em inúmeras manifestações acerca da recente aprovação na Argentina de legislação que autoriza o abortamento de humanos até a décima quarta semana de gestação.

Procuro, mas não encontro explicação racional, lógica, ética ou científica para tamanha contradição.

Como é possível que intelectuais e lideranças que se autoconsideram progressistas sejam porta-vozes entusiasmados de procedimentos que mal dissimuladamente estimulam a prática da eugenia, com a eliminação de bebês portadores de síndrome de Down e outras patologias detectáveis em exames intrauterinos nas primeiras semanas de gestação?

Como é possível que pessoas que proclamam o seu respeito à ciência, à cultura e à razão ignorem a evolução da medicina que confirma o início da vida desde a fecundação?

Como é possível ignorar que na décima quarta semana de gestação o nascituro já tem atividade cerebral, coração, movimentos, respiração, rosto e todos os seus órgãos formados?

Como é possível aceitar que um pequenino ser humano em desenvolvimento seja descartado como coisa indesejável, incômoda e defeituosa?

Como é possível que gente ilustrada continue a propagar números estapafúrdios e inflados de mortes de gestantes decorrentes de abortos clandestinos em frontal incongruência com as fidedignas e minuciosas estatísticas de registros de óbitos do Sistema Único de Saúde – SUS?

Como é possível que movimentos que defendem o meio ambiente admitam que aos embriões e fetos humanos não seja concedida a mesma proteção que a legislação brasileira acertadamente, em especial a Lei 9.605/1998, assegura aos ovos de tartarugas, às mudas de bromélias e às demais formas de vida da fauna e da flora?

Como é possível que tantas vozes inteligentes e vibrantes em tantos importantes debates públicos silenciem diante dessa mortal contradição? O que explica a sua omissão? Indiferença? Comodismo? Receio de serem confundidas com extremistas religiosos ou oportunistas políticos que, por diferentes motivos, também se opõem à ampliação das hipóteses de abortamento legal? Temor de perder prestígio ou de ser hostilizado em certos círculos tão arrogantes quanto intolerantes?

Quanto a mim, não tenho dúvidas. A legislação pró-aborto é um retrocesso civilizatório. Sua defesa por lideranças humanistas/progressistas é uma contradição mortal com os valores e princípios com que elas mesmas se definem e um erro histórico do qual um dia se arrependerão.
 

Luiz Henrique Lima é professor e autor do e-book Aborto ou Vida? Reflexões não dogmáticas.
 
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