Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

Os estudantes e a desmotivação frente a pandemia

A pandemia do Coronavírus – COVID-19 já causou e deve continuar causando mortes e destruição por todo o mundo. As tragédias parecem não ter fim e até a finalização deste artigo mais de 370 vidas haviam sido perdidas para esta terrível doença e contando ... infelizmente.

A COVID-19 escancarou as fragilidades do sistema de saúde brasileiro, concebido para ser universal por meio do SUS, mas com infraestrutura que não suporta receber nem a mais ínfima parcela da população em seus leitos e UTIs que já são levados ao mais completo colapso.

Temos assistido uma guerra não contra o vírus por meio das sonhadas vacinas, mas entre a presidência da Repúblicas e os governadores; e falando do nosso quintal entre o executivo estadual e o prefeito da capital. Nada mais lamentável e lastimável para o momento.

Enquanto milhares de brasileiros e mato-grossenses se despendem de seus entes queridos, muita gente ainda se aglomera em festas clandestinas, churrascadas na casa de amigos, balneários e outros locais de divertimento lícito e/ou ilícito ao passo que o comércio não sabe se abre ou fecha, a que horas fecha, abre com capacidade reduzida, põe todo mundo de máscara, disponibiliza álcool em gel ... bem, quem durante a escrita deste texto não saiu outra determinação, do executivo estadual, municipal, do legislativo ou judiciário, vai saber.

O fato é que dentre as diversas áreas que estão tendo de administrar os percalços da pandemia está a educação, onde atuo e vivencio a nova rotina dos estudantes na pandemia, suas aflições, decepções e expectativas frustradas. Muitos entraram no ensino superior e sonhavam com um novo tempo em suas vidas: a descoberta da futura profissão, os caminhos e descaminhos da universidade, em alguns casos a descoberta do amor, a formação de uma família e a construção de amizades que seguem para toda a vida.

Mas nada disso aconteceu. Eu pude neste ano de pandemia ministrar minhas aulas por meio do ensino remoto para estudantes de diversos cursos. Mediado pelo computador lecionei para futuros advogados, jornalistas, agrônomos, engenheiros civis, eletricistas e de produção; além de futuros professores de língua portuguesa, pedagogia, geografia e biologia. E em que pese as diferenças de expectativa de cada um deles, sua grande maioria estava desmotivada e alguns até pensando em desistir; o que de fato foi consumado por muitos ao longo do último período letivo.

Não estamos aqui procurando culpados: os professores estão se desdobrando para se virar neste novo normal e apresentando novas estratégias de ensino, os estudantes igualmente continuam empenhados na aprendizagem, embora ainda tenham dificuldade de acesso a certas ferramentas tecnológicas. Mas o estresse do isolamento social, o próprio grau de dificuldade de um curso superior e a frustração de ser universitário sem ter uma vida universitária está minando a resistência dos acadêmicos. É isso que eles dizem quando conversam conosco.

Nós professores tentamos motivá-los ainda que também estejamos desmotivados. Como faz falta a sala de aula, o olho no olho, a boa roda de conversa, os seminários, as aulas de campo! Teve estudante dizendo que tem saudade até das provas presenciais: para vocês verem até que ponto vão os efeitos de uma pandemia.

Seguimos trabalhando da forma que é possível no momento e dizendo aos nossos estudantes: não desistam, pois quando essa pandemia passar teremos um futuro de reconstrução pela frente e vocês são a geração de novos profissionais que vão contribuir neste processo.





Miguel Rodrigues Netto jornalista. Licenciado em Letras. Mestre em Política Social (UFMT) e Doutor em Ciências Sociais (PUC/SP). Professor efetivo na Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. E-mail: miguel.rodrigues@unemat.br
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