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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

O policentrismo da economia globalizada: o paradoxo da democracia e do estado

Autor: Fernando Henrique da Conceição Dias

03 Mai 2021 - 08:00


A globalização financeira chegou na década de 90 e em decorrência desta globalização, o Estado perdeu o monopólio da mediação política. Dessa forma, passou a compartilhar decisões com múltiplos atores, internos e externos, e não é capaz de controlar diversas variáveis que interferem na vida nacional. Isso tem impactos sobre o funcionamento e a legitimidade das instituições representativas. Estas vivem um momento de anomia e descrédito total, muito pela paixão ideológica exacerbada e pela crença da injustiça. A democracia brasileira enfrenta um grande paradoxo: ao mesmo tempo que se consolidou a ideia de que é o único regime político legítimo, cresce a descrença das pessoas em relação às instituições democráticas.

Nesse aspecto, com o avanço desse fenômeno aprofundando cada dia mais, já é possível vislumbrar a desigualdade e a exclusão, uma vez que os ganhos de produtividade em grande parte têm sido obtidos às custas da degradação salarial, da informatização da produção e do subseqüente fechamento dos postos de trabalho convencional, gerando subemprego, confundido com “empreendedorismo”, Uma  verdadeira simbiose entre marginalidade econômica e marginalidade social obrigando as instituições do Estado-nação a concentrar sua atuação na preservação da ordem, da segurança e da disciplina. Com o apogeu da globalização econômica, os excluídos dos postos de trabalho e consumo perdem progressivamente as condições materiais para exercer os seus direitos. Inclusive o discurso sofista das reformas de Estado, ganham volúpia em um país pobre como o Brasil. Reformas para quem?

Dessa forma, atualmente no Brasil, vivemos em um crescimento da apatia política e do voto pautado por interesses clientelistas frente ao decréscimo do voto orientado por convicções – o que denota que muitas decisões políticas não têm como motivação critérios públicos nem racionais. Os quadros políticos passam desde sujeitos sem nenhuma condição de exercer o papel de um político que são eleitos puramente por convicções ideológicas ou até mesmo pelo chamado voto de protesto. Um erro gigantesco, que só atrasa a fraca e desacreditada política brasileira, levando a total descrédito. Schumepeter e Keynes defensores ávidos da tecnocracia, chorariam rios de sangue ao ver o quadro político brasileiro, composto atualmente por apresentadores de TV, influenciers, justiceiros, terraplanistas, amante de intervencionismo militar e sujeitos que saíram praticamente de um livro de Tolkien.

 A clarividência de Bobbio, em relação a democracia enfrenta “paradoxos” e não cumpriu suas “promessas”, pois prometeu: eliminar os corpos intermediários entre o indivíduo e o Estado, mas surgiram diversos grupos, como sindicatos e partidos políticos, que exercem o protagonismo da cena política; que os representantes políticos buscariam o interesse nacional, mas representam interesses parciais (por exemplo: bancadas ruralista, religiosa, dos bancos, da indústria de armamento, ambientalista, etc.); derrotar o poder oligárquico, mas a representação política já constitui uma oligarquia (os representantes compõem uma elite); ocupar todos os espaços em que são tomadas decisões vinculantes para a comunidade, mas existem muitos casos de decisões que afetam a todos que são tomadas por métodos não democráticos, como as pertinentes à política econômica; eliminar o poder invisível, mas ele ainda persiste, por exemplo, na tecnocracia.

Nos economistas temos um pouco de características de oráculos, uns até gostam disso, apesar de fletarmos com números enganosos e mecanismos duvidosos de legitimação para políticas daquilo que acreditamos, uma coisa é certa... Economia não é uma receita de bolo e o Estado NÃO É O PROBLEMA. Teoria, discurso e ideologia são incongruentes. Ou você sabe o que precisa ser feito, ou vai ficar eternamente nessa triguetra, que se repete ao longo da história econômica brasileira e só muda os personagens. O eterno paradoxo entre democracia e economia.
 
Fernando Henrique da Conceição Dias (fhdias1290@gmail.com) Economista Mestrando em Economia pela UFMT Pós graduando em Gestão de Projetos Gerente Comercial.
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