Opinião
Taxa que eu taxo
Autor: Luciano Vacari
04 Fev 2025 - 08:00
Definitivamente o Presidente Donald Trump voltou ao poder com sangue nos
olhos. E isso tem se mostrado nas ações e métodos a que ele tem recorrido
logo nos primeiros dias de seu mandato. Ameaças à China, Rússia, Brasil,
México, Canadá, todos de uma só vez, isso sem falar das deportações, do
abandono do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde. O que se vê é
um novo arsenal de guerra, que não usa armas, mas a oratória e o poder
econômico.
Taxou o México e o Canadá em 25%, e como se não bastasse mandou um recado
claro aos países do BRICS que, se por obra de Deus eles decidirem abandonar
o dólar americano como moeda comercial, serão taxados em 100%. Pronto,
começou o novo realinhamento da ordem mundial. O último foi após a 2ª guerra
mundial.
Por aqui, quando perguntado o Presidente Lula disse "se nos taxar, haverá
reciprocidade", quem diria hein, vivemos para ouvir o Brasil dizer isso aos
Estados Unidos da América!
Mas vamos lá, a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos transcende
200 anos, e no último ano terminamos empatados entre o que exportamos e o
que importamos em 40 bilhões de dólares. Para a terra do Tio San enviamos
petróleo bruto, ferro, aço e muito café torrado; ao passo que para cá
mandaram basicamente tecnologia, maquinários principalmente.
E o agro como fica? Aí é outra história. Os gringos assim como nós são
grandes produtores de alimentos, fibras e energia, a diferença é que ao
invés de exportar muito como o Brasil faz, ele consome.
Mas vejam que engraçado, o mesmo Presidente Lula que respondeu de pronto ao
colega americano que haveria resposta à taxação de produtos brasileiros,
disse, praticamente no mesmo dia que, taxaria os alimentos nacionais para
conter o aumento de preços e a inflação. É para acabar não? Alguém precisa
dizer ao Presidente que o agronegócio nacional é literalmente a salvação da
lavoura, ou melhor, a salvação do Brasil.
Em 2024 o agro respondeu por 23% do produto interno bruto nacional, e se
tivemos superávit, foi graças ao agronegócio, e só não colocou mais comida
na mesa dos brasileiros porque faltou renda, faltou dinheiro ao cidadão para
comprar a comida que produzimos aqui. A inflação nos últimos 12 meses foi de
4,83% de acordo com o IPCA, e é fato que os alimentos subiram 7,69% no mesmo
período, de acordo com o IBGE. As razões para esse aumento, clima,
desvalorização do real.
Mas vamos voltar às taxações. Já vimos isso acontecer algum tempo atrás na
vizinha Argentina, quando em 2014 a então Presidente Cristina Kirchner
restringiu as exportações de carne bovina, milho e trigo na esperança de
conter o avanço dos preços e garantir o abastecimento interno. Não funcionou
e pior, desestruturou totalmente o setor produtivo de los hermanos que até
hoje sofrem com tal medida.
Sabem qual o problema? A turma que rodeia os palácios sempre procura a
solução aparentemente mais fácil. Ao invés de taxar a produção, por que não
incentivam a produção? Por que não reduzem o custo Brasil?
Não é hora de medidas autoritárias e populistas como o taxa que eu taxo. É
hora de gerar emprego e renda para garantir a comida na mesa do brasileiro,
ou logo logo alguém vai ter a brilhante ideia de sugerir que o Presidente
traga de volta as fiscais do Sarney, só falta essa.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.