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Segunda-feira, 28 de abril de 2025

Opinião

​O grito de Nasi no país do silêncio

Recentemente, o vocalista Nasi, da banda Ira!, foi vaiado durante um show ao se manifestar contra a anistia a golpistas. Em resposta, reforçou sua posição com uma coragem rara nos tempos atuais: disse que quem o vaiava jamais entendeu suas músicas, e que poderiam se retirar do show e deixar de ouvir sua banda.

Nasi, certo ou errado, se posicionou. Sem medo da patrulha ou do público perdido. Talvez já esteja numa fase da vida em que a coerência fala mais alto do que os contratos. E convenhamos: o Ira! não depende da aprovação de grupos ultraconservadores para manter seu legado. A banda sempre teve público e sempre terá palco. E mais do que isso: o Ira! sempre se posicionou, nunca foi uma banda preocupada em agradar a todos.

É quase irônico ver o espanto de tantos com a atitude de Nasi. Afinal, o que se esperava de um representante do rock brasileiro que surgiu na efervescência do pós-ditadura, numa época em que a arte e a música eram fortes armas? Os ideais da extrema direita são absolutamente incompatíveis com o espírito contestador que molda o rock brasileiro.

A nota da organização que cancelou os shows do Ira! é, por si só, um retrato do conformismo dos tempos atuais: “Artistas deveriam subir ao palco apenas para cantar e mostrar seu talento.” Essa é a falácia que se tenta impor ao artista: que ele deve entreter, não incomodar. Que sua arte deve ser estética, não ética. Mas essa lógica apenas cria artistas domesticados, reféns do medo de não serem aceitos.
 
No fim das contas, talvez o incômodo causado por Nasi tenha sido só uma boa oportunidade para alguns descobrirem, com algumas décadas de atraso, que o rock não é música de condomínio. Quem procura conforto e neutralidade erra feio ao buscar isso logo no rock, que nunca pediu permissão para existir.

Bruno Moreira (@obrunocos) é publicitário e gestor de marketing.
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