O Rei Artur já estava cansado de tanto marasmo em sua vida. Com a Inglaterra unida, fortalecida e próspera, o reinado de Artur foi acometido de uma tremenda monotonia. Sem greves, baixa taxa de desemprego, o país semifinalista da Copa do Mundo, PIB nas alturas e as pessoas felizes apesar do humor inglês sem graça. Artur queria aventura, reviver os tempos de glória. Foi até Merlin:

- Merlin, me dê uma missão muito, muito, muito difícil de fazer. Que seja um verdadeiro desafio para mim e para meus cavaleiros.

Merlin pensou, pensou, pensou. E finalmente disse:

- Tenho uma missão para você, ó nobre rei. Vá até a República do Brasil e encontre
um candidato honesto para as próximas eleições presidenciais.

- Mas Merlin, eu pedi algo muito, muito, muito difícil. Não algo impossível.

- Não se aflija, meu rei. Há uma pessoa que se encaixa no perfil. E quando você o encontrar, ele estará envolto em uma luz resplandecente e falará a frase mágica.

- E qual é a frase mágica?

- Você saberá no seu coração.

E lá se foram Artur e os cavaleiros da Távola Redonda para a república brasileira. Enfrentaram uma enorme fila na imigração, pois a Receita e a PF estavam de greve. Mas já em território brasileiro começaram as buscas.

Percival, o esquerdista disse para pegarem o caminho da esquerda, pois por ali era maior a chance de encontrarem o candidato honesto. Após passarem por diversas estatais, diversos assentamentos, várias invasões de terra e uma fila gigante do Minha Casa Minha Vida, o primeiro a encontrarem foi Guilherme, do MSC, movimento dos sem castelo. Guilherme disse:

 - Vou governar para os pobres, os ricos que se danem. Vou desapropriar todos os castelos (menos os meus) e dar aos pobres. Tenho como espelho a próspera e magnífica Venezuela. Meu grande ídolo nos céus é Chaves e na terra Dom Luís. Viva a distribuição de renda de todos, menos a minha.

Os cavaleiros viram que ele não resplandeceu e aquelas palavras não tocaram o coração. Continuaram pela esquerda. Encontraram Manuzinha, a parteira:

 - Vou governar para todos: ricos, pobres e maconheiros. Sou a favor do aborto, mas tenho horror à pena de morte, pois os bandidos são vítimas da sociedade opressora e machista. Quero implantar um regime de governo moderno, mais justo e onde as pessoas não tenham o desejo de fugir do país. Quero transformar o Brasil em Cuba.

Novamente, nada de luz brilhar e muito menos aquelas palavras entraram no coração dos cavaleiros. Continuaram pela esquerda, a procurar e procurar até que se depararam com uma nave espacial. De lá saiu Marina, a ETeimosa e começou a discursar com uma voz pastosa:

- Eu quero agradar a todos. Tudo que eu fizer vai ser na base do paz e amor porque eu não quero deixar ninguém bravo comigo, pois ninguém tem paciência comigo. Não sou contra e nem a favor do aborto. Não sou contra e nem a favor do Bolsa Família. Não sou contra e nem a favor de alguém ser contra ou a favor de alguma coisa.

Os cavaleiros ficaram tontos com aquele discurso maluco e resolveram ir embora. Tentaram ouvir Luís Inácio Capone que estava preso, mas a juíza de execuções penais vetou a visita, pois o dia certo é às quintas-feiras e hoje já é sexta. Tristão, o direitista sugeriu irem para o caminho da direita e após passarem por diversos bancos com lucros estratosféricos, vários latifúndios improdutivos e uma fila enorme de desempregados, encontraram Riquinho Meireles e este começou a falar, com um ovo inteiro na boca:

- Defeoov sdaokfdskfpsfkpcvkpod kpodskvopsd ovmmp emmkvr emewov km pem kmpevmimn cvu fdsafds....

Os cavaleiros viraram as costas e foram embora, pois não entendiam nada do que ele falava. Encontraram logo depois Jair Billy The Kid e ouviram seu discurso.

 - Quero que todos tenham uma arma, homens, mulheres, velhos e crianças. Quero liberar o porte dos sabres de luz, das espadas de Thundera, do martelo do Thor, da motosserra do Jason, do martelinho do Mario Bros, da Manopla do Infinito do Thanos, da Adaga Dragão dos Power Rangers e do anel do Lanterna Verde, porque pra mim bandido bom é bandido morto.

Os cavaleiros acharam esse discurso um pouco violento e não viram nenhuma luz sair daquela pessoa e sentiram o coração pesado. Seguiram pelo caminho dos tijolos amarelos e encontraram Chuchu Alckmin.

- Teremos todo rigor ético na condução da presidência, pois temos exemplos de ética em nosso partido: colocaremos Neves no combate às drogas, Serra para cuidar da merenda, Dória para o assistencialismo, Fernando para cuidar das concubinas, Nilsinho para cuidar da reforma agrária, Pedro para a Gestão e os paulistas para redescobrirem o Brasil.

 Os cavaleiros perceberam que aquele também não era o homem certo. Jamais encontrariam um candidato honesto nem pela esquerda e nem pela direita. Lancelot, o cavaleiro do meio, sugeriu prosseguirem pelo centro. Após diversas planícies, muitas indecisões, subidas no muro e indefinições, toparam com Ciro Canabrava. Apesar do forte bafo etílico, deram uma chance a ele. Cambaleando, falou:

- Seus vagabundos! O que estão fazendo aqui na frente do meu prédio a essa hora. Vão dormir cambada de vagabundos. Ninguém vai fazer algazarra na frente do meu prédio, bando de safados, cornos e vagabundos. Só porque andam de armadura e espada pensam que são alguma coisa? Eu sou Ciro Canabrava, governador do Beach Park. Vão embora seus vagabundos ou ponho o nome de todos vocês no SPC!

Os cavaleiros, vendo que de um bêbado violento jamais sairia luz resplandecente foram embora dali desolados, quase desistindo de encontrar o candidato honesto. Estavam começando a achar aquilo impossível. Encontrar o cálice sagrado foi muito, mas muito mais fácil.

Estavam a ponto de voltar para casa, quando alguém disse que, talvez, nas cavernas do extremo oeste poderia ser encontrado alguém honesto. Os cavaleiros se animaram. Passaram por Goiás onde ficaram uma semana ouvindo música sertaneja. Passaram por Mato Grosso onde se alimentaram apenas de soja por 10 dias. Passaram por Rondônia, onde descansaram no único hotel do estado e finalmente chegaram ao seu destino. Avistaram uma caverna e de lá saiu uma pessoa envolta em uma luz resplandecente. Antes de ele falar algo, sentiram em seu coração que aquele era o escolhido e pediram.

- Discurse para nós, ó escolhido. Ao que o candidato respondeu:

- Meu nome é Enéas!    
 

Eustáquio Rodrigues Filho é Servidor Público e Escritor. Autor do livro "Um instante para sempre". Instagram @eustaquiojrf.