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Opinião

Acidentes e violências em Mato Grosso

Maurício Gomes dos Santos

Os agravos à saúde referentes a acidentes e violências englobam os agravos relacionados a homicídios, acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, quedas, afogamentos, suicídios, violência doméstica e sexual, entre outros, sendo que estes são classificados como causas externas, de acordo com a classificação internacional de doenças (CID 10).

No Brasil, as causas externas são consideradas a terceira causa de mortalidade, em Mato Grosso, as causas externas se configuram como a segunda causa de mortalidade, conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (SVS/SES/MT, 2007). Diante do aumento dos casos, este tem se constituído como um grave problema de saúde pública devido às repercussões na qualidade de vida e pelo seu impacto na economia do Estado, uma vez que vem atingindo principalmente a população jovem e economicamente ativa.

De acordo com o Ministério da Saúde, assume-se como violência o evento representado por ações realizadas por indivíduos, grupos, classes ou nações que ocasionam danos físicos, emocionais e morais a si próprio ou a outros – por exemplo: agressão física, abuso sexual, agressões e lesões autoprovocadas. Já Acidente é entendido como o evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas e ou emocionais. Assume-se que tais eventos são, em maior ou menor grau, perfeitamente previsíveis e preveníveis, tais como acidentes de trânsito e de trabalho, quedas, envenenamentos e afogamentos (BRASIL, 2004).

Em recente estudo que realizei sobre as mortalidades por causas externas no Estado de Mato Grosso, referente o ano de 2007, através das informações disponibilizadas pelo Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS), que permite captar dados sobre os óbitos e fornece informações sobre a mortalidade em todas as instâncias do sistema de saúde, cheguei a alguns dados interessantes.
Os resultados analisados dizem respeito ao universo de 2.491 óbitos por causas externas ocorridos no Estado de Mato Grosso no ano de 2007. O coeficiente de mortalidade encontrado foi de 87,26 casos para um grupo de 100 mil habitantes, sendo de 73,77 / 100 mil hab. para o sexo masculino e 13,45 / 100 mil hab. para o feminino. A razão entre os coeficientes masculinos / feminino foi de 5,5%, isto é, o sexo masculino é quase 6 vezes mais vulnerável do que o feminino, demonstrando a mesma tendência em relação à razão do coeficiente Nacional. Do total de óbitos, excluído 01 caso de sexo ignorado, 2.106 são masculinos e 384 são femininos.

A distribuição segundo a mortalidade por causas externas mostrou que as principais causas são os acidentes de transporte com 908 casos (36,5%), sendo 748 para os homens (30%) e 160 para as mulheres (6,4%), significando que o risco de um homem se tornar vítima fatal de um acidente de transito é 4,7 vezes maior que o da mulher. A segunda causa de mortalidade são as agressões, com 854 casos (34,3%), porém é a causa que apresenta a maior sobremortalidade dos homens: a razão masculino /feminino é de 7,9 vezes. A terceira causa de mortalidade são as lesões autoprovocadas com o total de 159 casos, seguido das quedas com o total de 122 casos.

A distribuição segundo faixa etária mostrou que jovens e adultos na faixa dos 20 a 39 anos concentraram o maior número de mortes, total de 1.168, com o coeficiente de mortalidade de 40,9 casos para 100 mil hab., sendo a principal causa de mortalidade as Agressões com 464 casos (18,7%), seguido dos Acidentes de transporte com 442 casos (17,8%), o que mostra uma inversão da principal causa em relação ao total da mortalidade por causas externas no Estado de Mato Grosso em 2007, em que a principal causa foi Acidentes de Transporte.

Nas faixas etárias de 0 a 09 anos, 40 a 59 anos e acima dos 60 anos a principal causa de mortalidade foi Acidentes de Transporte, com 31 (1,3%), 242 (9,8%) e 88 (3,5%) casos, respectivamente, já na faixa etária de 10 a 19 anos, as Agressões voltaram a ser a principal causa de mortalidade com 31 casos (1,3%), demonstrando a vulnerabilidade dos jovens a esse tipo de evento.

O maior coeficiente de mortalidade registrado está na faixa etária dos 20 a 39 anos, com 40,92 casos para 100 mil hab., a razão masculino / feminino é de 6,4 vezes, seguido da faixa etária dos 40 a 59 anos, com coeficiente de mortalidade de 23,09 / 100 mil hab., que apresenta a mesma razão masculino / feminino de 6,4vezes.
Os achados evidenciaram que o perfil das causas externas difere quando visto pela faixa etária e pelo sexo, demonstrando que o sexo masculino, na faixa dos 20 a 39 anos, está mais vulnerável a mortalidade, o que é preocupante, pois atinge uma população jovem e economicamente ativa.

Entendo que, a redução da mortalidade por acidentes e violência no Estado não depende somente de ações de saúde pública, mas também de políticas públicas nas áreas de segurança pública, trabalho, cidadania e trânsito, além da necessidade da articulação e integração de outros setores, através de parcerias efetivas com diferentes segmentos governamentais e não-governamentais, como também da mobilização da população, principalmente a masculina, com a instituição de hábitos e estilos de vida saudáveis; o conjunto dessas ações pode contribuir para a prevenção e redução dos acidentes e da violência no Estado.

Maurício Gomes dos Santos é especialista em saúde pública (ESP/MT) e mestrando em gestão de políticas públicas (UNIVALI/SC)
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