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Opinião

Do garimpo das Pombas ao munícipio de Dom Aquino

Lidiane Álvares Mendes

Mutum, 1920, garimpeiros oriundos de Poxoréo encontraram no local denominado Pombas o minério dourado que consolidará a povoação em seu entorno. OURO. Não era em grande quantidade, mas foi o suficiente para dar origem a um lugarejo que com o passar do tempo foi sendo povoado por migrantes vindos do Nordeste do Brasil, fugindo da seca e consecutivamente da fome. De boca em boca a notícia se espalhava que “pras” bandas de Mato Grosso a prosperidade e terras férteis estavam circundadas pelo risco de encontrar ouro. Famílias inteiras, a pé (viagem que durava mais ou menos seis meses), a cavalo ou em pau de arara, migravam para a região em busca de sobrevivência. A viagem longa e difícil era realizada debaixo de sol, poeira e chuva. As paradas ao longo da estrada consistiam em descanso, pausa para que alguma parturiente pudesse se restabelecer para continuar o percurso, ali plantavam pequenas hortas, construíam barracos e esperavam o resguardo acabar para, enfim, chegarem em seu destino. Tais pausas na jornada fez com que muitas corrutelas surgissem, principalmente em Goiás, fazendo com que virasse conto de viajante: “goiano é baiano cansado!”[1]

Ao longo das próximas décadas a pequena corrutela de Mutum[2] recebe além de nordestinos, mineiros e paulistas que contribuíram para o aumento da população, fomentando a vinda de lojas comerciais, armazéns, trapiches, pensão, linha de transporte até a capital, dentre outras transformações que moldaram a urbe. As primeiras letras começaram a ser ensinadas, a saúde ganhara seus primeiros médicos, o lazer se faz em bailes e quermesses, e os esportes passam a fazer parte do cotidiano daquele núcleo populacional.

Elevado à categoria de município com a denominação de Mutum, pela lei estadual nº 1196, de 22.12.1958, desmembrado do município de Poxoréo, tão logo se tornou munícipio, seu topomínio passa por alteração contrariando a população local, o então deputado Walderson Coelho que em sua concepção era necessário homenagear o bispo católico Dom Aquino Corrêa (este havia falecido cerca de dez anos antes). Memorialistas relatam que a população mutuense não aceitou de bate pronto, várias foram as manifestações contrárias a mudança do nome. Por fim, não tiveram muito o que fazer, a não ser aceitar diante da lei estadual nº 2.492, de 24 de setembro de 1965, que implantou em definitivo o nome Dom Aquino.

Com o tempo, a população passa a se identificar com o novo nome do município, e os símbolos de formação da identidade local como o hino, a bandeira e o brasão são enaltecidos em jogos estudantis, festas de comemorações religiosas e profanas. Dom Aquino ou Donkas como é carinhosamente chamada por seus filhos e amigos que guardam lembranças de tempos idos, da imaginação fértil em perpetuar histórias como a mulher de branco no banheiro do grupo escolar, dos batuques de samba em frente à praça central, do sino da Igreja que ao tocar poderia em suas badaladas estar convidando os fiéis a missa ou anunciando algum acontecimento. Da escola das irmãs ao centro educacional, do festival de praia no Rio São Lourenço a folia de Reis, dos bailes da AFADA, de Carnaval, matinês dançantes, festas de aniversário e casamento realizadas no Clubão à festa de peão. De tantas memórias guardadas e histórias contadas que acalentam o coração e refrescam a memória afetiva de quem por lá viveu ou passou.

As transformações ocorreram a seu tempo, e o município atualmente, busca nos projetos sociais, na economia variada, no investimento em saúde, educação e lazer proporcionar aos seus habitantes melhores condições de vida e bem-estar! Prosperando a seu modo!

Ah! Dom Aquino, de tempos idos, de seus 65 anos de história, da história dos seus filhos e amigos.  
Parabéns, terra querida!
 

Lidiane Álvares Mendes é natural de Dom Aquino/MT, mestra em História/UFAM e doutorando em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT. Bolsista Capes.
Site oficial: https://www.domaquino.mt.gov.br/
Contato por e-mail: lidianemendes2@hotmail.com -Instagram: @lidihistoria
 
 

[1] Expressão utilizada para designar o surgimento das vilas e corrutelas oriundas das famílias que devido a distância da Bahia ao Mato Grosso e o cansaço da viagem, resolveram fazer moradia no território goiano.
[2] O nome foi atribuído devido a grande quantidade de pássaros desta espécie na região.
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