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Opinião

A exaltação da mentira e o desprezo à verdade

MARCELO AUGUSTO PORTOCARRERO

A cada dia ficam mais evidentes as manipulações dos fatos para mascarar a realidade de quase tudo que acontece e se noticia na política nacional.

As eleições já acabaram, o presidente eleito já tomou posse, mas o paradigma da notícia manipulada permanece inalterado.

Como é impossível saber quando teve início essa forma canhestra de divulgar um fato ou evento, a qual serviu e ainda serve de modelo para a exaltação da mentira e o desprezo à verdade nós meios de comunicação, sua origem permanece desconhecida.

Exemplo disso foi a forma como um dos jornais de maior circulação no país noticiou a questão da utilização das mídias alternativas pela campanha de apenas um dos candidatos como se aquela forma de se comunicar com os eleitores não tivesse sido utilizada por todos, sem exceção. E o pior, o assunto foi imediatamente replicado por todas as empresas e sites de comunicação sem que ninguém tivesse checado os fatos. Alegaram após o fiasco nacional que a culpa foi da jornalista que plantou a notícia e assim acreditaram ter lavado as mãos. Foi realmente um furo, mas um furo n’água. Um típico caso de exaltação à mentira.

Com o mesmo intuito foi editado um trailer digno do prêmio de ficção político-científica sobre o episódio da tentativa de assassinato ( até agora comentam o assunto como “atentado”) daquele mesmo candidato onde ele, a vítima, passou a ser tratado como articulador de uma trama quixotesca, um esquema montado pelos liberais de direita com a participação de um executor por eles contratado, dois hospitais, suas equipes médicas, a Polícia Federal e as pessoas comuns que lá estavam foram cúmplices, como se aquilo não tivesse acontecido ao vivo e a cores.

Ainda agora, após a posse do Presidente fazem especulação sobre tudo que a ele diz respeito. Basta haver uma reunião de trabalho onde naturalmente assuntos e planos serão debatidos à exaustão antes de serem colocados em prática que já noticiam o fato como se desavenças incontornáveis existissem entre os participantes. Alguém em sã consciência ainda não percebeu que as reuniões das equipes do governo são para isso, para trabalharem as propostas e planos de governabilidade? Se não sabiam ou fingem não saber fiquem então cientes que elas vão acontecer durante todo essa gestão exatamente como aconteceram naquelas que a sucederam.

Parte de imprensa e dos analistas políticos, em especial aqueles que o confrontaram desde o início já cobra do Presidente que desça do palanque. Mas que palanque? Ele sequer teve tempo de usar palanque porque desde o início da campanha eleitoral esse acesso lhe foi constantemente dificultado por essa mesma imprensa e seus articulistas até que foi definitivamente impedido de fazê-lo pela ferida física da tentativa de assassinato que, aliás, ainda o prejudica. Vale ressaltar que nem dos debates o então candidato pode participar porque tinha e ainda tem restrições médicas para algumas atividades. Mesmo assim, aquela parcela dos meios de comunicação que lutaram contra sua eleição permanece em campanha usando dos mesmos artifícios para atacá-lo. A esses parece valer mais investir em uma meia mentira que em uma verdade inteira.

Quais governantes desceram de seus palanques em algum momento de seus mandatos? Os do PSDB, aqueles dos governos PTistas ou o MDBista de plantão? É fácil responder: – Nenhum deles. Aliás, sequer foram cobrados. Muito pelo contrário, a eles foram dados todos os palanques disponíveis por essa mesma gente que hoje faz as críticas.

Ora, todos sabem que muitos dos membros do novo governo se conheceram a pouco tempo e sequer refinaram , muito menos concluíram a maioria dos planos de ação, quanto mais a formatação daquelas propostas que de uma forma ou de outra causarão impacto. E mais, a maioria das propostas ainda precisará ser apresentada ao Poder Legislativo para discussão, eventuais ajustes e aprovação antes de serem colocadas em prática.

Vejamos o caso da divulgação das idades mínimas para a aposentadoria de homens e mulheres ainda em discussão para serem incluídas na reforma da previdência. O assunto é tratado como se fosse uma decisão do Presidente sendo contestada por sua equipe econômica. Na verdade suas palavras sobre o assunto mostram claramente ser sua intenção propor idades e prazos de transição diferentes daqueles que sua equipe entende serem mais adequados. Mas não, não foi assim que o tema foi colocado a público pela imprensa.

É esse o tipo de manipulação dos fatos que pode ser entendido como uma proposital forma de causar dúvidas na população e não o de promover sua correta informação que se entende como desprezo à verdade.


Marcelo Augusto Portocarrero é Engenheiro Civil.
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