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Opinião

A esquerda deu certo?

Caiubi Kuhn

Sempre nos debates políticos surge aquela pessoa que diz, “Mas onde a esquerda deu certo?” seguido do tradicional “Vai pra Cuba”. Até quero conhecer Cuba um dia, que parece ser uma ilha ótima para turismo, mas o debate sobre a esquerda é muito mais amplo do que algumas experiencias totalitárias. No mundo tivemos governos totalitários de esquerda e de direita, da mesma forma temos países de esquerda e de direita que são democráticos. E neste texto irei falar de algumas das nações que possuem o DNA da esquerda em sua construção.

A centro esquerda, representada por partidos trabalhistas, sociais democratas e socialistas, em geral no mundo defende um modelo reformista, ou seja, transformar a sociedade através de mudanças sociais gradativas. Outros grupos de esquerda defendem a chamada revolução proletária, que rompendo com o processo democrático atual.  Mas onde temos países no mundo que adotaram modelos de esquerda?  Alguns deles são a Alemanha, a Dinamarca,a Noruega,dentre outros. Mas baseado em que digo que esses países possuem uma construção de país baseada nos ideais da esquerda?

Ao analisarmos a estrutura de cada um desses países é possível observar várias coisas em comum, como por exemplo, todos possuem inúmeros serviços públicos prestados pelo estado. Essa informação se retrata na porcentagem de pessoas que são servidores públicos em cada país. Conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), na Dinamarca e Noruega 35% das pessoas são funcionários públicos, enquanto no Brasil apenas 12% das pessoas são servidores públicos. Um ponto que merece destaque é que, diferente do Brasil, nos outros países citados não existem diferenças tão grandes de salários e benefícios. Um juiz, um deputado e um professor possuem condições muito parecidas.  

Nestes países a quantidade de impostos pagos é maior que no Brasil, mas existe uma transparência muito grande sobre a aplicação dos recursos públicos. Mas a transparência não se resume apenas aos recursos públicos.Para evitar sonegação fiscal, na Noruega, por exemplo, todo cidadão tem acesso as informações sobre a renda de qualquer outra pessoa do país. Os Noruegueses defendem que esse tipo de medida ajuda a evitar sonegação fiscal, tornando assim todo sistema mais eficiente.

A Dinamarca possui um sistema de saúde e de educação de caráter universal e público. A Noruega possui uma grande estatal do petróleo, a Statoil ASA, que inclusive possui operações no Brasil. Mas outros fatores também chamam atenção:a Noruega possui um dos melhores índices de desenvolvimento humano do mundo, a igualdade de gênero é algo bem próximo da realidade eas prisões são humanizadas. O país é considerado o um dos mais prósperos e democráticos do mundo. No caso da Alemanha, o país também possui inúmeras políticas públicas de segurança social, e uma grande quantidade de serviços públicos.

Mesmo com inúmeras empresas e serviços públicos, com políticas sociais que prezam pela igualdade, esses países também conseguiram construir um ambiente de negócio favorável, demonstrando que tamanho doEstado não possui relação direta com burocracia estatal. A quem diga que Alemanha, Dinamarca e Noruega são “liberais”. Mas se ser liberal for ter educação, transporte e saúde pública, empresas estatais fortes, um serviço público amplo e de qualidade, um estado que preze pela igualdade e que apoie o desenvolvimento humano de cada cidadão, que fomente a igualdade de gênero e que defenda os direitos humanos, então tudo bem,podem implementar esse liberalismos aqui no Brasil também. Ou, do contrário, na hora de mandar o coleguinha de esquerda para fora do país diga: “Vá para Noruega” ou um “Vá para Alemanha”.


Caiubi Kuhn é Geólogo, especialista em Gestão Pública e mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Doutorado em Geociências e Meio Ambiente (UNESP); Docente do Faculdade de Engenharia UFMT-VG;
 
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