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Opinião

Como a família empresária pode enfrentar crise econômica

Cristhiane Brandão

Quando olhamos para uma família empresária, sempre devemos nos lembrar de três subsistemas que atuam juntos: família, propriedade e negócio. Então, um contexto de crise pode impactá-la mais profundamente, pois adentra camadas mais profundas que vão além dos resultados do negócio.
 
Uma crise pode eclodir afetando, por exemplo, a revisão dos valores das retiradas, alternando rotas previamente programadas, gerando despesas extras. É comum haver interferência ainda no subsistema da propriedade, impactando nos planos para realizar investimentos, em dividendos e/ou no aporte de capital dos sócios.
 
É importante focar na "galinha dos ovos de ouro" e que geralmente é a principal fonte de renda da família. Penso que a principal ferramenta em momentos como esse é ter 'timing', agindo em tempo rápido com comunicação e engajamento, envolvendo todos, família empresária e funcionários, principalmente na solução.
 
É um excelente momento para reforçar os diferentes papéis vividos pelos membros da família, e inclusive focar naqueles que envolvem o negócio (sócios e gestores). Uma vez integrados ao problema, todos precisam compreender o que devem fazer e o porquê.
 
Para sobreviver e mesmo avançar em momentos de crise, deve-se primeiramente olhar para dentro da empresa e se perguntar: o que podemos fazer para reduzir nossos custos sem impactar negativamente nos clientes? "Custo é como unha. Tem de cortar sempre", já dizia Beto Sicupira, sócio da companhia belga-brasileira Anheuser-Busch Inbev, a maior cervejaria do mundo.
 
Você pode se surpreender, a equipe que lida com a execução sabe identificar oportunidades, precisa ser conduzida e as decisões devem ser tomadas. A experiência me diz também que é preciso procurar oportunidades no mercado que possibilitem geração de receita.
 
Muitas vezes há outras maneiras no negócio atual para isso. O milho da safrinha, por exemplo, é uma possibilidade que se concretizou em Mato Grosso agregando aos produtores rurais. Na indústria, lembro-me de um empresário que produzia móveis e, num momento de crise, ganhou dinheiro com a manutenção desses produtos, justamente pela sensibilidade de ouvir o mercado.
 
Também existem algumas posturas importantes a serem adotadas por empresários e gestores, entre elas, a principal é não se colocar no lugar de vítima, nem responsabilizar a economia ou o governo pelos problemas. Depois, respirar fundo e avaliar a dimensão do 'estrago'. É vital ter a máxima objetividade. Afinal, é um momento de fazer o que precisa ser feito e não de se lamentar.
 
Crises são oportunidades para renovação! Há três anos, a Samsung teve agilidade na medida certa para lidar com uma das suas maiores crises, quando um dos seus aparelhos começou a pegar fogo. Mesmo com a imagem prejudicada, a corporação manteve a calma e esclareceu o que estava acontecendo.
 
 
Algumas lições que podemos aprender com este caso: seja o primeiro a dar a notícia, atue com transparência junto aos consumidores, explique o que está acontecendo e como o problema será resolvido e interrompa as ações de marketing.
 
É o momento de colocar a mão na massa e mais do que nunca estar muito próximo da operação, trabalhar mais! Aliás, você tem um plano de gestão da crise? Sabe como enxugar a estrutura sem impactar negativamente no resultado final? Como sua família empresária está lidando com essa situação?
 
Sou otimista e acredito na previsão de melhoria econômica e política apontada pelos palestrantes Ricardo Amorim e William Waack. Acontece que as crises sempre vêm e devemos crescer com elas, estar abertos para a transformação exigida. Na natureza, quem não flui corre sério risco de se estagnar e morrer. Vamos pensar sobre isso e agir o quanto antes?
 

Cristhiane Brandão é administradora pela UFMT, especialista em Dinâmica dos Grupos pela SBDG, 20 anos de experiência em Gestão e Estratégia para empresas familiares e sócia proprietária da Nunes Brandão Consultoria Empresarial & Empresas Familiares,crisbran@nunesbrandao.com.br
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