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Opinião

O patriotismo é partidário?

Gilberto Gonçalo Gomes da Silva Junior

Como cidadão, esse é um questionamento recorrente em nossos momentos de reflexão sobre o atual cenário político brasileiro.
 
Ao que parece o partidarismo tem transformado o conceito constitucional, político científico e até da opinião pública, do que seja patriotismo, em bandeiras quase estatuária de seus ordenamentos internos.
 
O cenário tem sido tão evidente que a impressão de quem lê matérias e artigos sobre o tema ou participa de conversas ou debates, é que as pessoas não conseguem mais identificar ou emitir uma opinião isônoma sobre qualquer que seja o tema de interesse nacional, gerando automaticamente um binômio que divide todo e qualquer assunto entre os que apoiam o atual governo e o governo passado.
 
Isso certamente tem fomentado um sentimento de cisão entre o velho e o novo, honesto contra o errado, o vício contra a virtude e assim por diante, e isso de modo tão voraz, que recorrentemente se ouve falar que famílias se desentenderam, amigos deixaram de se falar e até grupos de pessoas, que nem ao menos guardam ideologia política foram extintos.
 
Por óbvio que é legítimo todamanifestação de pensamento, até por que a constituição assim assegura, já que vivemos em um regime democrático. Entretanto, a história mundial e principalmente nacional, mostra que essa bipartição não é prudente, produtiva e eficaz para o que realmente importa para o povo.
 
Toda a literatura disponível sinaliza em seu enredo que essa confusão entre partidarismo e patriotismo move a opressão dos divergentes, e coloca em “xeque” assuntos que realmente importam ao coletivo, gerando enfraquecimento e prejuízos incalculáveis aos projetos econômicos, sociais entre tantos outros itens de interesse nacional e servindo esse debate apenas como guerra política e de estratégia de fortalecimento político/social de ideologia de grupos.
 
E na atual conjuntura brasileira, parece-nos que o cenário se assemelha com tais precedentes, respeitando por óbvio os desenhos e seus contornos particulares.
 
O fato é que a reflexão sinaliza ser necessário que façamos uma distinção mais adequada de tais temas de relevância indiscutível.
 
Ao nosso sentir, o patriotismo é o “sopro de vida” de todo e qualquer movimento político/partidário, pois ele legitima a própria existência e razão de ser de um grupo dessa natureza, no regime político brasileiro.
 
A constituição inclusive destaca e traça em linhas gerais o próprio conceito de partido, partidarismo e processo político e corrobora com isso, sob o prisma sociológico, científico e filosófico, toda a motivação e enredo das ideologias que dão vida aos projetos partidários, transcritos em seus estatutos.
 
Assim sendo, é extremamente saudável debater política partidariamente, conclamando os cidadãos à raciocinarem o País, suas políticas nas mais variadas vertentes, fomentando pela criticidade um pensamento eficaz e que possa resultar em um produto positivo para o coletivo.
 
E para tanto, no exercício de tão nobre labor, incitar, AQUI SIM, APROPRIADAMENTE, o patriotismo outrora convalescente ou mesmo esquecido, que em muitos tem aflorado instantaneamente em forma de reação intransigente, nutrida de ira e revolta e em outros na forma de mero ato cívico de cantar o hino nacional e vestir a camisa de uniforme da seleção brasileira.
 
O patriotismo representa, a nosso ver, remédio de trato contínuo de um processo viral, cuja cura exige o enfrentamento de etapas longas de renovação de hábitos e disciplina de escolha para o melhor resultado, metaforicamente falando.
 
No modelo hoje propagado, e ao nosso ver errado sob o prisma da importância e da essencialidade que é a política e o seu processo de existir, têm-se a impressão de que para ser nacionalista precisa escolher uma frente de batalha, quando na verdade ambos os lados dessa guerra pensam, ou pelo menos deveriam pensar, em uma só nação, um único propósito, o bem do Brasil.
 
Defender opinião, conceito e ideologia, não pode afetar a coluna vertebral do processo de construção nacional, que é o patriotismo.
 
Talvez é chegada a hora de um debate amplo, onde se possa na mesma mesa sentarem aqueles que vivem o partidarismo, mas todos eles nus, deixando apenas aflorar na pele, mente e coração o seu patriotismo puro e sem condicionantes.
 
Muito embora possa soar demagogo ou até ficção, constantemente o que assistimos são surpresas advindas de sentimentos esquecidos, que motivadas por uma razão, igualmente não levada em consideração por pensadores, resultam em mudanças surpreendentes de ruma de histórias.


Gilberto Gonçalo Gomes da Silva Junioré Advogado, professor, assessor parlamentar, ex secretario municipal de Cuiabá e cursando MBA em Relações governamentais pela FGV.
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