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Opinião

Suicídio em tempos de crise

Alan Barros

Cada vez mais percebo o quanto as influências externas são capazes de nos desestabilizar completamente. O quanto, infelizmente, não temos controle sobre os nossos pensamentos e sobre os nossos sentimentos.

Sentimo-nos tristes, derrotados, desmotivados e principalmente frustrados pelo descontrole de algo que em tese teríamos domínio.

A situação fica ainda mais crítica quando passando por dificuldades emocionais, físicas e financeiras, que é o tema deste artigo.

Mesmo sabendo que tudo que acontece em nossas vidas de alguma forma nos traz ou trará algum aprendizado, ainda assim, é difícil e desafiador passar por essas turbulências.

Lembro-me de quando tinha por volta de 12 anos de idade e soube que o pai de um amigo havia cometido o suicídio. Lembro-me que essa notícia me deixou muito reflexivo.

Não fiquei chocado, fiquei pensativo e curioso para entender o que poderia ter se passado na cabeça daquele pai de família para optar por esse irreversível recurso.
Naquele momento, fiquei sabendo que aquele homem foi massacrado pela crise financeira. Uma pesada carga, que eu mesmo tive a oportunidade de enfrentar.

Sim. Muitas dívidas, cobradores e um cenário ruim, que me impediam de ver soluções. O desespero tomou conta de mim e quando percebi, sentia apenas a vontade de parar de sofrer.

Hoje, analisando o caso do pai do meu amigo pela lente da minha experiência, percebo que ele provavelmente nunca pensou em morrer. Queria apenas o fim da angústia e dor. Um coração sem esperanças que batia em um corpo carregado de negatividade.

Apesar deste contexto de dor, não é esta a minha intenção com este texto. Quero falar de superação e de como se apoiar nas forças que restam para buscar a ajuda.
E, nesse processo, falar é a melhor solução. Buscar auxílio de amigos e principalmente de grupos e profissionais como psicólogos e psiquiatras.
Lembre-se que esta batalha não se vence sozinho. E por mais que você entre na luta em desvantagem, você pode crescer, amadurecer e encarar o processo como aprendizagem.

A vida é sempre mais importante e espelhe-se em histórias inspiradoras de quem venceu esta fase ou compartilhe sentimentos com quem passa por isto.

A crise econômica tem sido gatilho para muitos casos graves. Este ano tivemos dois empresários brasileiros que se mataram porque os negócios naufragaram. Um deles dentro de um evento, com a participação do Ministro de Minas e Energia.

Quando vi este caso, que ganhou notoriedade nos jornais, logo lembrei de um artigo que li sobre a crise de 1929 nos Estados Unidos. Os jornais da época narraram que investidores pulavam dos arranha-céus quando houve a quebra da bolsa em 24 de outubro.

Então, quero só reforçar as pessoas que as crises vão e vêm, mas a vida deve prevalecer sempre. Por mais que as dificuldades pareçam intransponíveis, a esperança não deve acabar.

Termino este texto com um trecho da música de Gilberto Gil, que nos traz muito direcionamento: "ando com fé eu vou, a fé não costuma faia"



Alan Barros é escritor do livro "Tenho Depressão. E Agora?" e idealizador do Projeto de Conscientização da Depressão e do Suicídio que inclui o Grupo de Apoio  Terapêutico "#Fale", que é GRATUITO e acontece todas as terças-feiras no Cine Teatro.
 
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