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Opinião

A esquerda e a pauta ambiental

Julio Cezar Rodrigues

A absurda politização dos incêndios florestais, fenômeno anual que há décadas acontece no Brasil e em diversos países, deve, a meu sentir, ser analisada à luz da visão de mundo característica das esquerdas. É fato notório que a histeria coletiva e alarmista capitaneada pelo governo da francês, em conluio com a nossa esquizofrênica e cínica esquerdalha-lulo-petista, é a mais pura expressão de oportunismo político irresponsável, urgida para desestabilizar o primeiro governo de direita no país desde a entrega do poder político aos civis pelos militares em 1985. Portanto, as perguntas que deveriam ser formuladas são: POR QUE A ESQUERDA QUER APROPRIAR-SE DA PAUTA AMBIENTAL? TERIA A ESQUERDA LEGITIMIDADE PARA QUERER PRIMAZIA NESSE TEMA? HISTORICAMENTE, GOVERNOS DE ESQUERDA DESTACARAM-SE EM POLÍTICAS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE?

Apenas para que o leitor apreenda a tese em questão, veja o que pensa o ícone da esquerda mundial, o linguista americano Noam Chomsky (1928), a respeito desse episódio: a esquerda brasileira deveria aproveitar a “oportunidade” que esta “crise na Amazônia” está a proporcionar para unirem-se em torno de uma causa comum. Segundo o site da Folha de São Paulo, Chomsky afirmou que “a esquerda de vários países abraçou o combate à mudança climática e a defesa do meio ambiente como formas de fazer oposição a líderes populistas de direita”. Ainda, nas palavras do linguista, “o Brasil ainda não desenvolveu uma oposição [a Bolsonaro]. É preciso que a crise na Amazônia funcione como um ponto de inflexão para a oposição” (disponível em www1.folha.uol.com.br, acessado em 28/08/2019). Coincidência? Jamais. Chomsky sabe muito bem o que está dizendo e suas palavras encontram ouvidos atentos na militância, servindo, principalmente, como combustível para os idiotas úteis, adestrados pela inteligentzia tupiniquim, exteriorizarem a retórica desinformante.

Como já discorri em outras oportunidades nesta coluna, o entendimento da mente esquerdista revolucionária, necessariamente, passa pela teoria marxista/leninista, a qual tem na visão de mundo materialista, sua concepção de movimento da história pela luta de classes (determinismo histórico) culminando com o fim da história e do Estado e a chegada do utópico comunismo, antecipado, logicamente, pela implantação à força da revolução, via ditadura do proletariado. Se você não entender que todo intelectual da esquerda “bebe” nessa fonte, jamais compreenderá as ações, na atualidade, feitas por essa gente. Isso quer dizer que eles defendem uma “revolução” para a abolição da propriedade privada através do proletariado? Não! Os pensadores neo-marxista já evoluíram nessa questão. Desde que Antonio Gramsci e os criadores da Escola de Frankfurt constataram que o proletariado não iria mais fazer revolução alguma tiveram que salvar a teoria marxista adaptando-a aos novos tempos. “Proletários de todo o mundo, uni-vos”, disseram Marx e Engels ao final do “Manifesto Comunista”, contudo, nunca houve ou haverá tal união. E agora?

Como lembra o Professor Olavo de Carvalho “um cérebro marxista nunca é normal”! Assim, Marx jamais estaria errado, são os proletários os idiotas incapazes de conscientizarem-se do seu papel de agentes da revolução. Para o húngaro Gyorgy Lukács, a culpa, claro, devia ser da cultura ocidental. “Quem nos salvará da cultura ocidental?”, exclamou um dos expoentes da Escola de Frankfurt. Na Itália, Antonio Gramsci, também chegou a conclusão parecida e passou a, no interior da cadeia, desenvolver sua “revolução cultural” com vista a reformar o “senso comum da humanidade”, elegendo os intelectuais e não mais os proletários os atores da revolução comunista. Juntos inauguraram o já decantado “marxismo cultural”, ideia a ser introduzida nos meandros da sociedade e máquina estatal para destruir a cultura ocidental sem que esta percebesse. 

Feita esta pequena digressão (o assunto, claro, é mais complexo) voltemos ao tema. O que tem a ver o meio ambiente com esta história toda? A filosofia criada por essa gente ficou conhecida como teoria crítica. Sua finalidade última era destruir. O mundo tem que ser reformado dos “valores burgueses e judaico-cristão”. É imperioso que seja destruído a confiança entre as pessoas, a fé religiosa, a linguagem, a capacidade lógica, desinformar, criar e disseminar o ódio. Como disse Marcuse “toda a tolerância para com a esquerda, nenhuma para com a direita”. Ora, se o meio ambiente está sendo explorado por forças capitalistas, fortalecendo o sistema e, via de regra, os governos liberais e conservadores, porque não tutelá-lo dos cruéis exploradores? Trata-se da mesma lógica aplicada ao lupemproletariado, agora alçado à condição de agente da revolução pelos teóricos do neo-marxismo. Na realidade, tudo é meio para que os fins sejam alcançados. A mentalidade revolucionária concebe o mundo em termos de coletivos e não da individualidade. 

Pois bem, então quer dizer que o meio ambiente deve ser destruído para a existência humana? Claro que não. Um conservador jamais defenderá tal desiderato. Ocorre que, para o conservador, a vida humana tem primazia, porquanto está dotada de consciência. O homem deve servir-se dos recursos naturais para tornar sua existência suportável. A preservação do meio ambiente deve estar equilibrada nesse contexto.
No caso brasileiro, a Constituição Federal fez previsão, no Art. 225, das condições a serem observadas pela sociedade e governo para preservação do meio ambiente.
Ainda, no Parágrafo 5º, está disposto que a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são PATRIMÔNIO NACIONAL, o que não deixar margem de dúvidas quanto ao caráter criminoso dos brasileiros que estão a aplaudir o posicionamento da França sobre nossa soberania, quando propõe discursos ensejadores de internacionalização de nossa floresta. 

A eleição de Bolsonaro, concomitante à quebra do discurso hegemônico da esquerda, porquanto afundaram-se na mar da corrupção, quebrou a marcha da revolução cultural gramsciana em curso desde meados da década de 70. O desaparelhamento da máquina lulo-petista entranhada no Estado brasileiro ainda levará algum tempo. As forças de esquerda, combalidas, necessitam aglutinarem-se em torno de uma causa comum. Tentarão, novamente, reorganizar a sociedade civil (termo técnico utilizado por Gramsci para designar a rede de entidades extrapartidárias controladas pelo Partido ampliado). Devemos estar atentos a todo movimento que essa gente patrocinar. As pistas estão sendo dadas diariamente. Políticos da esquerda defendendo abertamente que a reforma da previdência deve ser desidratada para que o atual governo não se reeleja; criação de factoides em cima das falas do Presidente e as inúmeras obstruções ao projeto anti-crime do Ministro Sérgio Moro são apenas alguns exemplos.

O conselho de Noam Chomsky à nossa esquerda corrobora com o acima narrado. Não existe nenhuma preocupação com o meio ambiente no sentido objetivo da coisa. Com exceção das ONGs infiltradas na Amazônia legal, essa gente desconhece o caminha da floresta. Trata-se apenas de manobra política desestabilizadora.

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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