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Opinião

Pesquisa e inovação: gasto ou investimento?

Caiubi Emanuel Souza Kuhn

Os cortes de bolsas e a redução do orçamento destinado a pesquisa e inovação estão sendo amplamente debatidos na comunidade científica nacional e internacional. Neste texto falo um pouco sobre o cenário da pós-graduação no Brasil e dos efeitos dos cortes drásticos dos investimentos destinados a pesquisa e inovação no país. 

A pós-graduação no Brasil vem crescendo desde a década de 90, mas nos últimos anos os avanços foram notáveis. Conforme Informações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), se comparados os números de 2007 com 2017, a quantidade de programas de mestrado saltou de 2.061 para 3.398, os programas de doutorado de 1.177 para 2.202 e os mestrados profissionais de 156 para 703. Os programas considerados de excelência, ou seja, aqueles que possuem nota 7, saltaram de 233 para 465. 

O número de alunos titulados também teve grande crescimento. Em 2010 foram concedidos 35.965 títulos de mestre, 11.210 títulos de doutores e 3.236 títulos de mestrado profissional. Já em 2016, foram concedidos 48.986 títulos de mestre, 20.599 títulos de doutores e 10.612 títulos de mestrado profissional. Analisando os números de 2010 e 2016, observa-se um aumento de mais de 10 mil títulos de mestrado, o número de títulos de doutorado quase dobrou e o número de títulos de mestrado profissional mais que triplicou. 

O crescimento dos números de estudantes-pesquisadores de mestrado e doutorado refletiu também no aumento do número de publicações. Em 2010 foram 127.860 artigos e 49.206 livros publicados, já em 2016, foram 218.588 artigos e 80.517 livros que chegaram até a sociedade. 

As bolsas de mestrado e doutorado são concedidas para os primeiros colocados nas seleções dos programas de pós-graduação, esses pesquisadores-bolsistas possuem dedicação exclusiva. As bolsas de mestrado e doutorado não são reajustadas desde 2013, e hoje, cada pesquisador contemplado com uma Bolsa da CAPES recebe uma bolsa de R$ 1.500,00 em programas de mestrado e de R$ 2.200,00 em programas de doutorado. Não chega nem a metade do valor de um auxílio paletó ou um auxílio moradia. 

Estes estudantes-pesquisadores dedicam de 2 a 4 anos para produzir estudos, muitas vezes inéditos, sobre temas variados dentro do universo científico. O desenvolvimento do agronegócio, da indústria nacional, a descoberta de novas vacinas, a realização de estudos sobre águas, mudanças climáticas, desastres naturais, inteligência artificial e robótica, entre muitas outras áreas passam diretamente pelos programas de pós-graduação do Brasil. Essas pesquisas geram resultados que auxiliam na melhoria de processos, apresentam soluções para problemas, curas para doenças, criam novas patentes e permitem uma melhor gestão pública. 

Se o Brasil não investir em ciência, ficaremos sempre atrás de outras nações, não teremos competitividade e ainda pagaremos patentes em cada um dos produtos e serviços que usarmos. Em países como Alemanha, França, Dinamarca, Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão e Austrália, se investi mais de 2% do PIB em pesquisa e inovação somados os investimentos públicos e privados, sendo que em qualquer um destes países o investimento estatal é fundamental e significativo. No Brasil, o governo vem reduzindo os investimentos em ciência e tecnologia desde 2015, contudo o orçamento para o ano de 2020 enviado para o congresso indica um corte de cerca de 50% do recurso da CAPES, o que na prática significa a paralização ou fim de milhares de pesquisas no Brasil. 

O mais trágico é que no mesmo momento, está acontecendo o aumento de 48% do fundo eleitoral, e o filho do Presidente da República Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, que foi dar uma passeada nos EUA, pagou mais de R$ 4 mil em almoço e acabou fugindo pela cozinha para escapar da imprensa. Com o valor dos hambúrgueres que Eduardo comeu, dava para pagar quase três bolsas de mestrado. Enquanto o mundo todo tem aumentado o investimento em pesquisa e inovação, no Brasil, parece que o presidente acha que fazer ciência e produzir novas descobertas não é algo relevante. Talvez o governo considere uma mamata o pesquisador receber R$ 1.500,00 para se dedicar exclusivamente a pesquisa. Para se ter saúde, educação e desenvolvimento é necessário existir pesquisa e inovação. Ou lutamos por isso agora, ou o país vai regredir décadas. 
 


 Caiubi Emanuel Souza Kuhn é Docente do Instituto de Engenharia, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)Doutorando em Geociências e Meio Ambiente, Universidade Estadual Paulista (UNESP)




 
 

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