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Opinião

A mestra, para todos os mestres!

Wellington Fagundes

"Ensinar não é transferir conhecimento,

mas criar as possibilidades para a sua própria

 produção ou a sua construção".

Paulo Freire
 

O Brasil celebrou no último dia 15 o Dia do Professor. A data é uma justa homenagem àqueles homens e mulheres responsáveis pelo maior tesouro da Pátria, que são as nossas crianças e os nossos jovens — as futuras gerações! A par das imensas dificuldades e do momento angustiante que vive a educação brasileira, um passeio pelo passado próximo nos leva a uma das mulheres mais célebres da história de Mato Grosso: a educadora Maria Ponce de Arruda Müller.

Neta de Generoso Ponce, grande liderança política do Estado na virada do século 19 para o século 20, dona Maria Müller nasceu em Cuiabá no ano de 1898 e, desde pequena, era presenteada pelo avô com livros que estimularam o gosto por aprender e ensinar, e se tornaram a paixão de sua longa e produtiva vida. Uma vida dedicada às salas de aula desde os 16 até os 96 anos de idade!

Jovem normalista, foi professora primária em Cuiabá e Poconé e secundária na Escola Normal "Pedro Celestino", tendo também trabalhado como diretora do Grupo Escolar "Senador Azeredo", em Cuiabá.

Como extensão natural dessa missão pedagógica, a professora Maria Müller desenvolveu intensa atividade cultural e social. Fundou a primeira revista feminina do Estado, intitulada de "A Violeta", e publicou textos em veículos  de renome Nacional como 'A Cruz' e 'O Cruzeiro', a maior revista brasileira da época, e teve seu talento de poetisa e escritora reconhecido pela Academia Mato-Grossense de Letras, onde foi a segunda mulher a conquistar uma cadeira.

Obras como a coletânea de poemas marcaram sua trajetória de grande repercussão na cuiabania e, por extensão, em todo Mato Grosso.

Casou-se, em 1919, com Júlio Müller, que governou Mato Grosso como interventor durante o regime do Estado Novo e cuja gestão se notabilizou

por realizações marcantes, como a ponte sobre o Rio Cuiabá, a estação de tratamento de água e o Liceu Cuiabano, primeiro colégio estadual de Mato Grosso. Em uma justa homenagem, aquele tradicional educandário seria rebatizado como "Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller".

Durante a interventoria do marido, a educadora fundou o Abrigo Bom Jesus, para crianças desamparadas, o Abrigo dos Velhos e a Sociedade de Proteção à Maternidade e à Infância de Cuiabá. Foi ainda presidente da antiga LBA (Legião Brasileira de Assistência), posição na qual priorizou os cuidados para com as famílias dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, enviados à Itália para combater na Segunda Guerra Mundial.

Mãe de sete filhos,  enfrentou o duro desafio que caracteriza a vida de tantas de suas colegas, ontem, hoje e sempre: a dupla jornada de trabalho, na escola e no lar. Ela também dedicou à vida a parte dos 23 netos e mais de 60 bisnetos e trisnetos.

A lição maior de sua vida foi o amor ao ensino. Em 2002, pouco tempo antes de falecer aos quase 105 anos de idade, a professora mais antiga do Brasil recebeu do ex-ministro Paulo Renato a Ordem Nacional do Mérito Educativo, no grau de Grande Oficial. 

Talento!  Espírito de luta e sacrifício! Devotamento ao bem comum em forma de paixão por orientar, formar, encaminhar e ensinar! A educadora mato-grossense Maria Müller encarnou e continuará encarnando todos os valores e qualidades que traduzem a imensa dívida do conjunto da sociedade brasileira — governados e, principalmente, governantes — para com nossos professores e nossas professoras. 

Uma dívida que, obviamente, merece ser lembrada com justas homenagens, mas que, para ser resgatada, exige gestos concretos de incentivo e valorização profissional da carreira do magistério.

 

Wellington Fagundes é senador por Mato Grosso, membro da Comissão de Educação do Senado e líder do Bloco Parlamentar Vanguarda.
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