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Opinião

​Brasil, país conservador?

Guilherme Horie César

Essa é, definitivamente, uma pergunta constante no cotidiano brasileiro, cuja principal resposta, sem dúvida, é afirmativa. Sim, podemos afirmar que sim, o conservadorismo prevalece. Por outro lado, essa atitude revela um total desprezo para com as tendências liberais presentes principalmente entre o público universitário. Exemplos, nesse sentido, não estão em falta, como o MMDC do governo Vargas, o MR-8 na ditadura civil-militar e outros. Dessa forma, é nítido que há, sim, um liberalismo no Brasil, ainda que cheio de resquícios e encoberto pelas práticas conservadoras presentes desde a colonização, mas que representam uma alternativa ao ideal vigente.
 
Nesse contexto, para que se possa entender como esse ideal foi impregnado, é necessário se ter conhecimento acerca da Teoria da Tábula Rasa, uma das teses defendidas por John Locke. Segundo o filósofo inglês, as pessoas, bem como seus comportamentos são construídos ao longo da vida de acordo com as experiências vividas e a educação recebida. Assim, é fácil de se compreender o comportamento conservador que prevalece na atualidade, haja vista que sofremos uma forte influência de uma nação católica em nossa colonização, a qual foi transmitida às próximas gerações e que, por conseguinte, preencheu as tábulas rasas da hodierna sociedade brasileira.
 
Sob outra perspectiva, ao se analisar algumas obras literárias, também é possível comprovar a persistência do conservadorismo no Brasil, haja vista que a literatura representa, muitas vezes, o comportamento prosaico de parcelas significativas da população nacional. Dentre a vasta coleção de obras brasileiras, cabe citar as prosas românticas de José de Alencar, além dos romances realistas de Machado de Assis. Na produção ficcional de ambos os autores, embora eles pertençam a escolas literárias diferentes, há o traço comum de uma incrível representação de uma sociedade conservadora por meio de seus romances, comprovando a tese da persistência desse ideal mesmo com o passar das gerações.
 
Em suma, o Brasil é, de fato, um país conservador pela transmissão desse comportamento, o que, infelizmente, encoberta as ideias liberais presentes no âmbito acadêmico, privando o país de uma diversidade ideológica bastante desejável, a qual poderia contribuir para resolver problemáticas oriundas da onda conservadora que ainda prevalece por aqui. Desse modo, não há dúvida de que esse “monopólio” priva a nação de inúmeros benefícios, abrindo, portanto, uma deixa para mudanças sociais nesse âmbito.
 
GUILHERME HORIE CÉSAR, 17, é estudante do ensino médio na Escola do Farina, em Cuiabá.
  
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