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Opinião

Boqueirão tá aberto pra o Senado

Suelme Fernandes

Com a cassação do mandato da senadora Selma abriu-se um boqueirão como se diz na gíria da política para novos candidatos. Boqueirão na geografia é um acidente geográfico, algum episódio anormal que muda a paisagem, na política é uma grande oportunidade eleitoral para se eleger.

Na primeira leva de pré-candidatos já anunciados contei pelo menos 23 já interessados na vaga, nessa conta consideraremos como candidatos naturais os nove derrotados das eleições 2018: Carlos Fávaro (PSD), Adilton Sachetti (PRB/Republicanos), Nilson leitão (PSDB), Aladir (PPL), Dr. Valdir Caldas (Novo), Gilberto Lopes (PSOL), Professora  Maria Lúcia Neder (PCdoB), Sebastião Carlos (REDE) e Procurador Mauro (PSOL). Soma-se a eles outros novos nomes como Piveta (PDT), Juca do Guaraná (Avante), Stopa (PV), Cidinho (PP/Progressistas), Neurilan (PR/PL), Medeiros (Podemos), Barbudo (PSL), Pedro Taques (PSDB), Gisela Simona (PROS), Júlio Campos (DEM), Vitório Galli, Odir Caçula e Ver. Abílio (PSC), Rodrigo Rodrigues (Sem Partido).

Os políticos estão vendo um cavalo arreado passando na frente como se diz na política e quem disputar essa eleição, no mínimo, mesmo que seja derrotado, terá um bom tempo de propaganda e mídia espontânea pra se cacifar pra concorrer a qualquer outro cargo depois. Pavimentando futuros projetos de prefeito ou para o legislativo em 2022, como se diz quem candidatar não tem nada a perder!

Se mantiver essa quantidade de nomes concorrendo ou parte deles, haverá uma pulverização dos votos na eleição e consequentemente o candidato que bater a casa dos 200 a 300 mil votos estará beliscando a vaga.

Um candidato da baixada cuiabana teria maiores chances eleitorais nesse processo por causa da densidade eleitoral 2/3 do eleitorado? E quais serão os suplentes dessas chapas, financiadores de campanha ou aliados com potencial eleitoral?

A eleição será curta, até 17 de março registro de candidaturas e as eleições estão marcadas para o dia 26/04.  Esse prazo apertado favorece os candidatos com algum recall de imagem, pois não dará tempo para novatos viajarem o Estado para serem conhecidos, a campanha será fundamentalmente feita pelo horário de rádio, TV e rede social.

Mesmo assim, os neófitos apostam no fenômeno chamado outsider que tem ultimamente eleito candidatos que correm por fora do sistema ou que não representam grupos tradicionais da política como foi as eleições de Serys, Pedro Taques e nas últimas eleições 2018 de Barbudo, Medeiros e da própria Selma Arruda. Apresento alguns nomes nessa aposta: Ver. Abílio, Rodrigo Rodrigues, Stopa, Gisela Simona, Neurilan, Prof. Maria Lucia Neder e Procurador Mauro.

Selma Arruda se elegeu ancorada no foguete do Bolsonaro, mas tinha uma boa história de justiceira quando foi juíza, resta saber se nessas eleições Bolsonaro continuará como grande cabo eleitoral ou se ele meterá a mão na cumbuca pra apoiar alguém. E se for apoiar, quem seria a noiva da vez? Medeiros, Galli ou Barbudo?

Outra curiosidade é saber como que o governador Mauro Mendes vai tirar mel desse vespeiro de interesses políticos sem resvalar na sua governabilidade.  Qual será p escolhido entre seus aliados políticos: Favaro, Piveta, Júlio Campos, Cidinho, Barbudo ou Medeiros? Pra complicar mais ainda, essa disputa será no interstício das eleições de prefeitos e vereadores. Se o governador “puser a mão” em alguém e perder a eleição pode ser ruim pra sua imagem, será um teste de popularidade e prestígio de seu governo, a conferir!

Ouvi falar nas esquinas que a candidatura do Piveta é um trunfo pra inviabilizar o possível apoio de Mauro Mendes a Favaro, seu desafeto político de Lucas do Rio Verde. Isso colocaria Favaro duplamente fragilizado na disputa: pelo motivo exposto acima e pelo risco de ser responsabilizado pela cassação da senadora  perante a opinião pública, gerando desgastes. Isso tornaria ele menos competitivo? A conferir.

Pela sinalização posta na conjuntura atual, o grupo de oposição ao governador que passa pelo prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro pode e vai demarcar território já antecipando as eleições municipais de Cuiabá, como um cabo de guerra ou uma prévia de outubro nas eleições da capital.

A senadora cassada participará como “viúva” da política no processo eleitoral apontando dedo para possíveis culpados da sua cassação ou indicando o candidato de sua preferência? Seria decisivo seu apoio? Quem ela apoiaria? Piveta, Medeiros ou ninguém?

As eleições complementares passará pelas mãos de 4 grandes líderes importantes, mas não decisivos: o governador Mauro Mendes, o senador Jaime Campos de Várzea Grande, o prefeito Emanuel Pinheiro de Cuiabá e Blairo Maggi, 3 governadores e um prefeito. Quem melhor explorar as contradições nesse arranjo complicado pavimentará melhor a eleição do senado e encaminhará seu futuro político nas eleições subsequentes.

O ano começou quente e promete ser agitado, quero saber quando esse debate vai chegar no nível das propostas para podermos escolher soberanamente quem nos representará no senado. Porque segundo a doutrina da democracia moderna, a despeito das discussões das cúpulas partidárias, diz a constituição no seu preâmbulo que o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido.


Suelme Fernandes ​Analista Político e Mestre em História pela UFMT.

 
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