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Opinião

Políticos na Era da Automação

Vinicius Miranda

Estamos vivendo uma nova era, na qual robôs e computadores podem não apenas realizar uma série de atividades físicas de rotina de um modo melhor e mais econômico do que humanos, mas também estão cada vez mais aptos a realizarem atividades que incluem capacidades cognitivas. Isso inclui fazer julgamentos tácitos, sentir emoções ou até dirigir - atividades que costumavam ser consideradas profundamente difíceis de serem automatizadas com sucesso.

A automação não é um fenômeno novo, e perguntas sobre suas promessas e efeitos foram por muito tempo realizadas e acompanhando seus avanços. Mais de meio século atrás, o presidente dos EUA, Lyndon B. Johnson estabeleceu uma comissão nacional para examinar o impacto da tecnologia no economia e emprego, declarando que a automação não precisava destruir empregos, mas "pode ser o aliado da nossa prosperidade se apenas olharmos para o futuro. "

Muitas das mesmas perguntas têm surgido hoje novamente à tona, como resultado de notáveis avanços recentes em tecnologias incluindo robótica, inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina. A automação agora tem o potencial de mudar as atividades diárias de trabalho de todos, de médicos a advogados, jardineiros a banqueiros comerciais, estilistas, caixas de supermercado - e CEOs. Mas com que rapidez essas tecnologias se tornarão realidade no local de trabalho? E qual será o impacto delas no emprego e produtividade na economia global?

Para os negócios, os benefícios de desempenho da automação são relativamente claros, mas os problemas são mais complicados para os formuladores de políticas, porque eles precisam responder as perguntas acima. Isso provavelmente incluirá repensar educação e treinamento, apoio à renda e redes de segurança, bem como apoio à transição para aqueles deslocados.

A redistribuição do trabalho será um dos mais importantes desafios da sociedade. Governos muitas vezes não são particularmente hábeis em antecipar os tipos de empregos que poderiam ser criados, ou novas indústrias que se desenvolverão. No entanto, eles poderiam iniciar e promover diálogos sobre o trabalho e o que precisa ser feito, sobre os grandes desafios sociais que exigem mais atenção e esforço.

Os governos também poderiam procurar incentivar novas formas de empreendedorismo habilitado pela tecnologia e intervir para ajudar os trabalhadores a desenvolver habilidades mais adequadas para a era da automação.

Os sistemas educacionais precisarão evoluir para melhorar as habilidades básicas nos campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, e colocar uma nova ênfase na criatividade, bem como nas críticas e pensamento sistêmico. Para todos, o desenvolvimento de agilidade, resiliência e flexibilidade serão importantes em uma época em que o trabalho de todos provavelmente mudará até certo ponto.

Os trabalhadores que já se encontram no mercado de trabalho não estão aptos e capacitados com o conhecimento exigido para essa nova era de automação, de igual modo, os jovens que estão nas escolas não têm recebido a preparação para serem inseridos dentro dessa nova realidade, por consequência, a economia Brasileira pode sofrer seriamente com essa lacuna educacional. Um estudo realizado pela Udemy para negócios, elencou os treinamentos mais importantes para os profissionais de 2020. A lista trouxe inovação como primeiro item, seguido por gestão da mudança, comunicação e storytelling, inteligência emocional e mindset de crescimento e gestão de tempo.

Por fim, a automação criará uma oportunidade para os que estão no trabalho de fazer uso inato das habilidades humanas que as máquinas têm mais dificuldade em replicar: pensamento lógico e resolução de problema, capacidades sociais e emocionais, fornecendo experiência, treinamento e criatividade, na medida que as máquinas realizem cada vez mais atividades previsíveis da jornada de trabalho, essas habilidades terão um prêmio. A automação pode nos tornar mais humanos, certamente, todas essas mudanças terão maior avanço ao ser propulsionadas por forças políticas, como legislação, políticas públicas de fomento à pesquisa e inovação, nível de regulação de mercado, investimento educacional, infraestrutura, dentre outros.


Vinicius Miranda é advogado, especialista em Direito Processual Civil, Direito Tributário e discente de MBA Executivo em Direito: Gestão e Business Law na FGV/SP e membro da Comissão Nacional de Direito para Startup do Conselho Federal da OAB.
 
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