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Opinião

O bairro Porto

Eduardo Póvoas

Foi nele que meu querido pai nasceu e passou seus dezesseis anos primeiros de sua vida, à beira do Rio que oxigena nossa cidade.

Nunca foi surpresa, para nós seus filhos e parentes, quando dele ouvimos que o bairro do porto era seu preferido na Cuiabá de 10 mil habitantes.

Passava suas horas de folga à beira do rio brincando com seus barcos de madeira por ele construído, fazendo-os singrar agua abaixo e agua acima, puxados por uma corda. Era o brinquedo de meninos pobres da beira do rio.

Eu fui criado na Avenida Getúlio Vargas e no bairro do Bosque e Popular, hoje reduto de restaurantes e bares da alta sociedade.

Confesso-lhes que quando vou ao bairro do porto, meu coração bate mais forte, talvez parecendo ouvir os elogios ao bairro que meu pai enchia o peito para fazê-los.

Quando joguei no Mixto e no Dom Bosco, chegava as 13 horas no Dutrinha pois as 13.30 começavam as partidas.

Lembro-me perfeitamente dos detentos da única cadeia que tínhamos à época sentados nas janelas de suas celas com suas pernas entre as grades e para fora delas, a conversar com aqueles que chegavam para o jogo e a pedir-lhes que comprassem para eles um picolé ou uma laranja.

Essa cadeia virou o centro de reabilitação Dom Aquino Correa, hoje esfacelado pelo tempo sem nenhuma manutenção. Aqueles que duvidam disto, ao passarem em frente ao Dutrinha, virem seus olhares à esquerda e constatarão o que escrevo.

Nunca houve uma fuga por algo que alguém da rua tenha entregue aos presos, tal qual uma arma ou uma serra.

Como gosto de relembrar minha juventude nesta terra de Dom Aquino e de Padre Firmo Duarte.

Escrevo o que vivi por aqui com lágrimas nos olhos e com taquicardia de alegria.

Pena que isso passou. Por essa felicidade de outrora, abriria mão da modernidade deste século para viver nas trevas e na ingenuidade desta maravilhosa Cuiabá.

Comer lambari frito à beira do rio, ver as lanchas e os batelões no seu porto, o hidro avião chegando e as despedidas daqueles que se iam, fez e faz de você Cuiabá, a princesa das princesas pantaneira.



EDUARDO PÓVOAS- PÓS GRADUADO PELA UFRJ.
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