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Opinião

O luxo da comunicação honesta

Heduardo Del Pintor Vieira

Presume-se que transmitir desejos e sentimentos seja fácil. É só abrir a boca e dizê-los, certo? Entretanto, a vida revela problemas incomuns acerca da comunicabilidade clara e honesta das intenções e das emoções.

O sujeito nada diz. Ainda assim, fica à espera que a compreensão atinja o outro a qualquer custo; não raras vezes, culpa-o por não decifrar sua mente – que conveniente seria nascermos com esse superpoder. Em vez de comunicar, guarda-se o que sente, escolhendo comportamentos “agradáveis”, enquanto secretamente empilha ódio e ressentimento. Fingir que nada é tão importante assim torna-se um mantra; evasivo, recita a todos que as coisas estão bem, quando, claramente, não estão. É a receita pontual para futuramente gerar uma explosão dramática.

Geralmente, ela é a sequela de um problema guardado há tempos, que, repentinamente, mostra-se como a erupção do ressentimento. Acontece com (quase) todo o mundo: reclamações amargas e desistência das tentativas de elucidação. Oportunamente, interessa mais impor e controlar ao invés da calmaria da explicação. Má comunicação tem suas raízes no sentimento de que “não podemos ser verdadeiros, tolerados e amados”. Sem perceber, o sujeito abraça o hábito lamentável que se lapidou durante anos numa tentativa – compreensível – de lidar com os problemas do passado. É somente com a consciência da relutância ao diálogo que a capacidade de agir floresce.

Para Nietzsche, sempre será melhor dizer o que se deseja ao invés de distorcer sua personalidade inteira para evitar o desconforto. Dê-se ao luxo de ser mais ousado! Se quem o rodeia não suporta a honestidade dos seus sentimentos e do seu querer, você pode ir embora. Suportar o risco de alguns “deslikes” é um preço justo em nome da purificação mental. Exercite a renúncia à resistência interna quanto à comunicação. Ao fazê-lo, será catapultado para uma clássica viagem heideggeriana, deixando a “Uneigentlichkeit” (Inautenticidade) para “Eingentlichkeit” (Autenticidade). Chega de caminhar na Terra com os ombros curvados e os olhos cautelosos. Não há o que se envergonhar. O luxo de expressar o que realmente sente para quem merece ouvir é o luxo de ser mais ousado e mais honesto.

Heduardo Del Pintor Vieira é Psicólogo – CRP: 18/05294 e pós-graduando em Psicoterapia Psicanalítica. Meu contato está aberto para te ouvir: (65) 98124-3734 / Email: psi.heduardodelpintor@gmail.com


 
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