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Opinião

Dona Ananiza, uma várzea-grandense nata

Wilson Pires

Nascida em 16 de agosto de 1913, exatamente há 107 anos no distrito de Passagem da Conceição, em Várzea Grande, a senhora Ananiza da Costa Arruda veio para a parte central da cidade (quando ainda era uma pequena vila), em 1942. “Fiquei na Passagem da Conceição por um bom tempo”, dizia. Cursou até o quarto ano do primário. Casou-se em 1930 com Benedito Pedro de Arruda.

Ananiza da Costa Arruda é uma é uma varzeagrandense nata. Sua história, inicialmente, reside no distrito de Passagem da Conceição, onde viveu até os 29 anos de idade. Filha de Castorina da Costa e João Roberto da Costa, iniciou os estudos na Escola Mista e Isolada existente na própria localidade onde residia. Cursou até o quarto ano do primário. Filha de família tradicional da região, ela contava que nasceu, viveu e se criou na Passagem da Conceição.

Após os Estudos, em 1930, casou-se com Benedito Pedro de Arruda, também filho de família tradicional da região. Desse relacionamento surgiram onze filhos: Maria Benedita de Arruda, Emanuel Benedito de Arruda, Marilce Benedita de Arruda, José Benedito de Arruda (Saborosa), Mary Benedita de Arruda, Mariluce Benedita de Arruda, Jamim Benedito de Arruda e Jurema Benedita de Arruda. A união familiar estava sempre em primeiro plano para dona Ananiza Arruda.




“O PROGRESSO AFASTOU OS AMIGOS EM VG”




Inclusive, as festas religiosas e familiares, conforme destacava, eram os melhores momentos que ficavam na memória de dona Ananiza. “Era muito bonita a união familiar e não abro mão disso”, comentava Ananiza. A convivência familiar era tamanha que dona Ananiza não abria mão de se reunir constantemente com os netos e bisnetos, além dos filhos, é claro.


NA CIDADE

Em 1942, quando se mudou para o “centro” da cidade, ao lado do marido e dos filhos, recordava que Várzea Grande não tinha nada no que se refere a infraestrutura básica. “Aqui tinha poucas casas e todos se conheciam. Os vizinhos por exemplo se reuniam defronte às residências, no final da tarde. Hoje isso quase não é mais possível devido ao crescimento populacional, com destaque para o surgimento de vários problemas, como o da segurança. Naquela época, dizia, asfalto era só na capital do Estado, mesmo assim, em poucas ruas e avenidas. O ônibus que fazia o trajeto Cuiabá-Várzea Grande, por exemplo, quando funcionava, fazia três viagens durante o dia”.

Segundo dona Ananiza, Várzea Grande funcionava, na época, como um verdadeiro corredor, passagem obrigatória de viajantes que se deslocavam para o Norte e até mesmo para o Sul do Estado. “A noite, a escuridão tomavam conta de tudo, pois não havia energia elétrica. Mas era muito bonito observar o luar”, completava.

O desenvolvimento da Cidade Industrial, conforme esclareceu, teve início com a vida política do município. “O asfalto veio com Júlio Campos na prefeitura, e a energia, com Sarita Baracat”. A administração da professora Sarita Baracat foi elogiada por ela pelo fato de ter promovido, em curto espaço de tempo, a industrialização, através de incentivos aos empresários. Como doação de terrenos.

Ela contava que nunca participou ativamente da vida política do município. “Esse era um assunto que meu marido dominava bem, inclusive como cabo eleitoral”. Entretanto, Benedito Pedro de Arruda nunca quis disputar qualquer cargo público. “Ele sempre trabalhou duro para garantir o futuro dos filhos, através de estudos, principalmente”. Na política – a nível de família, quem se destacou foi o filho Emanuel Benedito de Arruda, o popular Caboclinho, que foi vereado em Várzea Grande, e sua esposa, a professora Sarita Baracat, prefeita. “Meu marido, ao contrário, desenvolveu atividades como agente de portaria na Escola Estadual Fernando Leite”.

Sobre a nova Várzea Grande dona Ananiza via com bons olhos o progresso, apesar de achar que mudou coisa na vida dos varzeagrandenses. “Não existe mais a união de antigamente entre as famílias da terra de Couto Magalhães”. Inclusive, apontou que há poucos varzeagrandenses natos no anel central, como na Avenida Couto Magalhães, que era exclusivamente formada por famílias tradicionais. Conforme esclareceu, o progresso é fundamental para a sobrevivência das novas gerações. Daí, disse a necessidade de se entender e, inclusive, apoiar as iniciativas governamentais que estejam respaldadas no anseio popular.

OS POLÍTICOS

No que se refere ao futuro político do país, dona Ananiza fazia questão de frisar que a única deficiência reside na falta de políticos sérios, comprometidos com a coletividade. “É fundamental para a saúde política do Brasil que existam políticos sérios, que descartem o interesse próprio em favor de toda coletividade. Os políticos precisam perder o costume de divulgar simplesmente a parte bonita da cidade. É preciso olhar com carinho para a periferia, onde reside a classe trabalhadora. Tenho a certeza que ainda voltarão os políticos sérios para reverter o atual quadro que todo país atravessa, ou seja, de crise financeira, política e administrativa”.

Dona Ananiza da Costa Arruda, morreu em 03 de setembro de 2012, aos 99 anos.




Wilson Pires de Andrade é jornalista profissional em Mato Grosso.

 
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