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Opinião

Centro de Triagem - Os “3%” que não passam por lá

Juarez França

A plataforma Netflix lançou recentemente a 4º temporada da série brasileira 3%. A história retrata o mundo em total colapso socioeconômico e social. A miséria é apresentada de uma maneira global e vil. Há uma “triagem” no qual 3% dessa população consegue deixar a vida miserável por meio de um processo de “seleção” que qualifica quem está apto ou não para uma mudança radical, substituindo a miséria por uma vida estável e cheia de “privilégios”, enquanto os demais permanecem sem quaisquer expectativas.

Em Mato Grosso poderíamos cotejar parte da série sobre o “modos operandi” de vida no nosso estado. Dia após dia vivenciamos apenas 3% da população gozando de uma vida movida por prestígio e por privilégios. Há que se lembrar que gestores que qualificam a saúde pública no estado como “case de sucesso” para atendimento da população, são os mesmos que acomodados em serviços aéreos, circularam para outro estado em busca de atendimento a saúde que realmente consideram qualificado e isso está nos autos do Hospital Sírio Libanês, espaço no qual o governador Mauro Mendes ficou internado nesse período de pandemia.

Com falta de UTI’s, o governou criou apenas um “Centro de Triagem” para atender vítimas do COVID. Pessoas amarguram nas grandes filas de um único centro de triagem que foi criado para atendimento de toda população matogrossense, centralizado somente na capital, desconsiderando as distâncias territoriais dos 141 municípios do estado de MT.

Esse povo, o nosso povo, carece também pela falta de conhecimento do seu estado de saúde. Matéria veiculado no site “O Livre”, de 5 de agosto, reportou que mais de 12 mil testes para identificação do covid19 estão represados no LACEN por falta de estrutura para testá-los.

Com mais de 10 dias para divulgar o resultado do exame, pessoas vieram a óbito e somente seus familiares souberam nesse longo espaço de tempo que seu ente faleceu pelo vírus do COVID 19.

Propagandas e mais propagandas institucionais do estado apresentam um programa de saúde “padrão A” para sua população. Desconsideram o número da população matogrossense, que ultrapassa mais de 3 milhões de habitantes. Enquanto isso o governador comemora o pouco mais de 17 mil senhas distribuídas para atendimento no centro de triagem, desconsiderando a demora para que possam ser atendidas e também as grandes filas que deixam a população cada vez mais exposta ao vírus. Que não bastasse isso, nosso governador ainda se vangloria pela entrega de um pouco mais de 8 mil kits de medicação para o covid em suas redes sociais.

Ora, um estado cuja a população tem mais de 3 milhões de habitantes, sinceramente, não há o que se comemorar quando o número de pessoas que vem recebendo atendimento não chega nem aos 3% da população, como mencionado na série.

O que vemos em MT é um estado que cada vez mais perpetua a política de privilégios para apenas 3% da população. Nosso próprio governador é um exemplo latente desses 3% de privilegiados, quando saiu daqui para ser tratar da sua saúde em São Paulo.

Deixamos aqui o nosso clamor por um estado que faça políticas públicas para os 97% da população que carecem de atendimento efetivo para a manutenção da vida.

Chega de aumentar e manter os privilégios dos somente 3%. A população não aceita mais ser enganada por “maquiagens propagandistas” que estão longe de mostrar o quadro real da saúde no estado, repugnam o privilégio de alguns, em detrimento de outros que apenas levam “tapinha nas costas” com o discurso de que está tudo bem, maquiando a verdadeira realidade da saúde no estado.

Mauro Mendes, você foi eleito pela maioria da população. Governe para TODOS, e não para os seus 3%.


Juarez França, 23 anos, ativista dos direitos da juventude
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