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Opinião

Uma nova política para um velho eleitor

João Edisom de Souza

O Brasil se prepara para ir às urnas ainda este ano, em plena pandemia, para aquela que se considera a eleição principal, uma vez que você elege os gestores da sua rua, do seu bairro, do seu município, que é onde realmente a vida existe e se faz valer os resultados de todas as políticas, seja para o bem ou para o mal. O momento exige uma nova política, mas nós não temos um novo eleitor para fazer as escolhas adequadas a esta nova realidade. Não educamos e nem nos preparamos para essa tarefa.

É possível que muitos perguntem: mas e os políticos, eles são novos? Estão preparados? Acontece que os políticos, principalmente os candidatos aos cargos eletivos, são os mesmos eleitores e, se você não muda, quem vai te escolher também não. Há uma sincronia perfeita entre o ato de escolher e as peças expostas na prateleira (urnas). Tanto que quem se candidata também vota.

E o que seria esta nova política? Ela é uma exigência de vida e de mercado global que envolve diversos fatores desde a localização, passando pela produção e consumo. Afeta a própria economia dentro dos aspectos do comportamento e principalmente das relações no entorno da produção. Não só dos cultivos e extração da matéria prima, mas também das condições sociais e ambientais onde são produzidos e transformados.

O novo comportamento que exige uma nova política está longe dos desejos e discursos dos ufanistas ativistas, mas ainda mais distante da política do “deixa como está para ver como vai ficar”. Como afirma Mario Quintana na canção do dia de sempre, “nada jamais continua, tudo vai recomeçar e sem nenhuma lembrança das outras vezes perdidas”.

As condições ambientais do local de origem dos produtos, as condições ambientais de onde estão instaladas as empresas, a forma como as empresas e fábricas procedem para chegar no produto final para uso e exportação, as condições dos trabalhadores envolvidos no processo, as condições das pessoas e comunidades no entorno destas empresas ou áreas contam muito tanto no preço final, quanto na aquisição de tais produtos e/ou peças.

Para ficar em um único exemplo, já é fato que não podemos mais ignorar o crescente mercado de vegetarianos, veganos e similares. Eles crescem assustadoramente no mundo, dinheiro para pagar à vista e não dão calote. O mesmo se aplica a produção sustentável e ao mercado de produtos verdes, sem química e sem sintéticos.

Dentro da perspectiva tecnológica e científica, não podemos mais ignorar a necessidade de uma educação para além dos velhos livros didáticos e dos professores desconectados. A internet 5G já é realidade, embora a maioria ainda adquira apenas um “telefone móvel”. Este simples aparelho é muito mais que um instrumento de fuxicar. Ele já é ferramenta operacional de trabalho somada a conexões de produtos e negócios. Mas para isso tem que ser usado com esta finalidade.

Com tudo isso acontecendo as distâncias estão encolhendo e as barreiras comerciais, inclusive de trabalho, estão indo muito além das fronteiras geográficas. Morar em um país e prestar serviços para uma empresa sediada em outro já é realidade cada vez mais crescente. Embora a grande maioria das pessoas só conheça as redes de golpistas internacionais.

Pensar politica para este novo momento exige pessoas (políticos) e eleitores que entendam este novo cenário mundial para promover o bem comum a todos os moradores do município do presente e, principalmente, para as novas gerações. Isso vai além das pontes quebradas, dos buracos nas ruas ou da falta de água tratada e frequente.

O novo não tem nada a ver com idade, nem com o modismo de sair bravateando com um celular na mão denunciando tudo e fazendo nada. Tem a ver com capacidade, leitura de realidade, perspectiva de desenvolvimento, engajamento e crescimento intelectual e social. Tem a ver com uma vida melhor para todos, uma vez que “a educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida” (John Dewey).


João Edisom de Souza é professor universitário e analista político em Mato Grosso.








 
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