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Opinião

Eleições 2020 - PT de Várzea Grande se curva ao conservadorismo

Naldson Ramos da Costa

O Partido dos Trabalhadores (PT), criado em 1980, representou por três décadas, uma esperança para o povo brasileiro com uma nova forma de fazer política, voltada para as questões sociais que mais afetam historicamente a população de baixa renda e a classe trabalhadora do Brasil. No seu manifesto à sociedade, aponta que seu surgimento se deu a partir da “necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la”.
 
Mais adiante se coloca como um Partido voltado para defender os interesses da massa. “O PT nasce da vontade de independência política dos trabalhadores, já cansados de servir de massa de manobra para os políticos e os partidos comprometidos com a manutenção da atual ordem econômica, social e política”. Da sua fundação até a atual eleição para Prefeitos e vereadores há que se perguntar se o partido vem mantendo essa coerência com seu Manifesto e propósitos de não servir aos interesses da ordem burguesa e do conservadorismo que vem destruindo as conquistas sociais em todo o país?
 
Otto Von Bismarck, político e Chanceler alemão, dizia que a política é a arte do possível. Sabemos que a democracia exige debate, articulação e convergência. Mas será que no Brasil é impossível fazer esse debate sem se aliar a grupos e famílias tradicionais a fim de não servir de massa de manobra no cenário nacional e mato-grossense? Os partidos de esquerda estão condenados a se curvar aliando-se aos interesses dos conservadores oligárquicos e golpistas? O Partido dos Trabalhadores, diante da avalanche de denúncias envolvendo a sigla com a corrupção parece que se envergonhou do seu eleitorado, ao se fazer essas alianças contrárias a suas propostas de governo.
 
Como em diversas regiões do Brasil, o PT de Várzea Grande, nesta eleição, escolheu também se curvar ao se aliar aos interesses de uma família tradicional de Mato Grosso. Quais os interesses de ambas as partes com essa aliança? O candidato Emanuelzinho Pinheiro Primo é filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), aliado do atual governo de Bolsonaro, cujos deputados e senadores federais votaram majoritariamente no golpe parlamentar que retirou do poder Dilma Rousself do PT em 2014. Qual seria a saída para essas alianças espúrias que ocorre Brasil afora?
 
Estaria o PT de Várzea Grande interessado na Secretaria da Educação, ou em cargos no segundo escalão? Pelo que tenho lido nos noticiários de jornais impressos e eletrônicos o candidato do PTB parece sentir vergonha do seu principal Partido aliado. O candidato se apresenta apenas como candidato do PTB, sem mencionar ao menos a coligação, conforme matérias: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/09/17/quatro-candidatos-vao-disputar-a-vaga-de-prefeito-por-varzea-grande-nas-eleicoes-2020.ghtml https://matogrossomais.com.br/2020/09/17/pre-candidato-a-prefeito-emanuelzinho-diz-nosso-perfil-se-encaixa-no-coracao-varzea-grandense-mato-grosso-mais/.
 
Como essa aliança com um Partido conservador (PTB) poderá contribuir para resolver os graves problemas de Várzea Grande na área da saúde e de abastecimento de água, entre tantos outros? Mais, onde os servidores públicos municipais são massacrados  pelas elites políticas oligárquicas. Várzea Grande é dominada por elites conservadoras há décadas que se enriquecem as custa de gestões nem um pouco Republicanas, ou pouco preocupadas com a situação da falta de água, esgotos, saúde, moradia, educação, deixando a população desassistida pelo poder público municipal.
 
O grande desafio da política é, sem dúvida, lutar até vencer seus opositores e não se confundir em termos ideológicos com aqueles estão comprometidos apenas com os projetos de interesses particulares (família) e com a manutenção da ordem econômica, política e social. Governos baseados em autocracias, oligarquias, patrimonialismo, populismo são os maiores inimigos da democracia e os piores exemplos de como não transformar politicamente o país, os estados e os municípios.
 
Embora no 7º Congresso do partido foi decidido que o PT teria candidato próprio a prefeito onde fosse possível, com uma política de alianças democrática antimperialista, com PCdoB, PSOL e setores populares do PDT, PSB, o que se percebe no Brasil afora é que o PT deixou a sua ideologia de lado em mais de 140 cidades ao se coligar com o PSL, ou seja, na contramão do que defende esse partido no combate a direita golpista e ao projeto conservador de políticas voltadas para a gestão do mercado. Diante deste cenário pode-se concluir que as pressões internas levaram o PT compor com partidos golpistas (PSDB, DEM, PTB), partidos de aluguel e até bolsonaristas., como pode se comprovar no link a seguir: HTTPS://www.esquerdadiario.com.br/PT-coligado-com-PSL-em-140-cidades-na-contramao-de-qualquer-combate-a-direita-golpista
 
 
Caso essa coligação (PTB/PT/PTC/PSD/PMB e Republicanos) com o conservadorismo golpista saia vencedora, corre-se sérios riscos do PT/VG perder sua identidade ao se curvar ao “canto da sereia” com a promessa de participação na gestão de Secretarias, porém com políticas e a saídas nada Republicanas, ou que nada tenha de coerência com o Manifesto e o Programa de governo do Partido dos Trabalhadores. Enquanto não houver uma reforma política partidária essa promiscuidade prevalecerá atendendo interesses regionais que vão muito além da ideologia de esquerda e direita.
 
 
Habermas afirma que toda vez que perdemos a referência do horizonte, a gente se debruça sobre amenidades. Essa aliança com o deputado Emanuelzinho do PTB leva o partido a repetir as práticas e alianças com partidos tradicionais que não irá contribuir com seu programa e as reivindicações da população Várzea-grandense e dos servidores públicos mau pagos e pouco valorizados pela política tradicional das famílias Campos, ou dos Pinheiros.
 
Várzea Grande, 12/10/20.
 
 

Naldson Ramos da Costa Sociólogo, professor aposentado UFMT, membro do NIEVCI e do FBSP.
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