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Opinião

A vida na ponta dos dedos: por mais amor, abraço e colo

Nilse Berlatto Leite

Desde tenra idade, temos a oportunidade de ler inúmeros livros, dos mais diversos assuntos. Dentre essas leituras, particularmente, um projeto me chamou a atenção. Uma obra que buscou alcançar muito mais do que leitores/clientes, mas a memória de todo indivíduo. Vídeos foram feitos, campanhas publicitárias foram lançadas. O livro, de conteúdo simples, porém fantástico, é daqueles que exercem o poder do convencimento. É um livro de pequenas frases, pequenos sentimentos, os achados da vida. Aquele que descrevia o poder do colo. Nada específico. Totalmente magnífico. E este é, provavelmente, apenas um exemplo das inúmeras leituras que toda pessoa já teve acesso, mas que talvez não tenha dado a importância devida.

Esta lembrança, contudo, trouxe à baila outros pensamentos, sobre a infância e adolescência.

Inúmeros foram os estudos sobre as fases da vida do indivíduo, durante longos períodos da nossa história. Houve épocas, inclusive, que não havia um sentimento de infância, ou seja, a pessoa passava da infância para a fase adulta sem que houvesse uma consciência da particularidade infantil que diferenciasse a criança do adulto. Houve épocas em que a criança não tinha valor. À criança era atribuído status de adulto de tamanho reduzido ou em miniatura e que deveria garantir a sua própria sobrevivência, o que não raras vezes a colocava numa posição de pouca importância na sociedade, tendo em vista sua idade e capacidade produtiva, se comparada a um adulto.

E hoje, qual papel é atribuído à criança e ao adolescente? Que papel desempenha na família, na escola, na igreja, no clube, na sociedade como um todo? Será que é dado o devido valor às fases da vida, ou a sociedade está retornando à era medieval, onde o indivíduo passava da infância para a fase adulta num piscar de olhos? Será que é permitido que crianças sejam apenas crianças, ou elas são transformadas no que os adultos gostariam de ser, ou de ter sido? Será que recebem um olhar meigo, olhar de amor, olhar de querer bem?

O mundo vive tempos em que é muito fácil e cômodo terceirizar os serviços. Em 2020, o telefone, a televisão, a internet, são os responsáveis pela educação. A vida está na ponta dos dedos. Não tem mais o calor humano, o abraço apertado da professora, do professor, da amiga, do amigo da tia, do tio, da vovó, do vovô. É mais seguro estar distante.

“A pessoa dá o que tem”, é frase comum de se ouvir. E criança tem muito a dar, resta saber se tem a quem dar. Pode querer muitas coisas, mas não importa de que continente seja, amor, abraço e colo, é o que mais deseja.

E a proposta é esta. Por mais amor, abraço e colo. É o melhor remédio. É a melhor terapia. Amor é sentimento supremo. Abraço é rodear a pessoa do melhor que se tem. Colo é refúgio, confiança, segurança, proteção, consolo.

“A pessoa dá o que tem”, é frase comum de se ouvir. E se crianças e adolescentes não tiverem alguém para receber e dar amor, receber abraço e colo, se tornarão adultos que só darão o que receberam. Ou seja, o ciclo de ausência se repetirá.

A proposta é retirar da caixa o que em muitas pessoas está bem guardado. A proposta é fazer desabrochar o sentimento guardado a sete chaves com medo da rejeição. A proposta é começar, talvez, pelo lugar mais difícil, mas necessário. Na família, lugar onde todo sentimento nasce.

Crianças precisam de amor, abraço e colo. Adolescentes precisam de amor, abraço e colo. Adultos precisam de amor, abraço e colo. Idosos precisam de amor, abraço e colo. E são sentimentos e gestos simples que fizeram a diferença no passado, fazem no presente e farão no futuro.

O mundo não está perdido, como muitos propagam. Às mães e aos pais cabe o papel de estar presente na vida dos filhos. São as pessoas que jamais deveriam ter deixado de lado a tarefa a que foram destinados a exercer, a de dar amor incondicionalmente, aquele abraço apertado, aquele colo gostoso, sensações que todo indivíduo deveria ter acesso. São, ou deveriam ser, os responsáveis por ensinar valores morais e éticos aos pequenos seres de hoje. São os responsáveis pelos sentimentos e ações dos indivíduos de amanhã.

A proposta é simples: por mais amor, abraço e colo. Ontem, hoje, amanhã.
 

Nilse Berlatto Leite, advogada, mediadora, membro da Comissão de Direito das Famílias e Sucessões da Associação Brasileira de Advogados - ABA, em Cuiabá/MT.
 
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