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Opinião

Desenvolvimento integrado na região do Real do Trem de Guerra

Jandira Maria Pedrollo

O Real Trem de Guerra foi criado apenas 10 anos após a vinda da família Real para o Brasil, por Carta Régia de Dom João VI em 1818 e servia como estabelecimento militar para conserto e fabricação de armas.  Sua construção teve início no ano seguinte e concluído em 1832. Porém, já em 1831, por determinação legal, foi indicado a servir como Arsenal de Guerra da Província de Mato Grosso. A edificação é tombada como patrimônio histórico estadual, pela Portaria n. 61 de 1983. Em 1989 foi adquirido pelo Sistema Fecomércio / Sesc / Senac - MT e atualmente no local funciona o Sesc Arsenal, um dos mais importantes equipamentos culturais de Mato Grosso.
 
Em frente a esse equipamento militar havia uma ampla área livre, possivelmente para ser usada nas formações e demonstrações militares, a qual recebeu posteriormente a denominação de Praça Benjamin Constant.
 
Em frente, e do outro lado da grande área, foi construída a Cadeia Pública, entre os anos 1858 e 1862. A antiga funcionava no entorno da atual Praça da República e não oferecia mais segurança. E assim foi se estabelecendo nova centralidade urbana, entre o centro da cidade e o antigo Distrito Dom Pedro II, atual região do Porto. Atualmente o prédio, apesar de tombado pela Portaria n. 55/1983, está abandonado. Ali funcionou por um longo período o Centro de Reabilitação Dom Aquino Correa. Ao lado desse há outra edificação centenária, porém não consegui precisar sua utilização original.
 
Já em meados do sec. XX, quando na Presidência da República o cuiabano General Eurico Gaspar Dutra (jan. 1946 a jan. 1951) foi construído o Estádio que prestou homenagem ao Presidente, denominado popularmente de Dutrinha, inaugurado em 1952, reformado e entregue a população em 2022. O Estádio ocupou parte da Praça Benjamim Constante, restando uma área livre utilizada extraoficialmente como estacionamento privado.
 
Ao lado do Dutrinha já havia o Grêmio Esportivo e Recreativo Antonio João, declarado de utilidade pública estadual em 1953 sendo a área adquirida por doação municipal em 1957, ao lado do então Ginásio Brasil, atualmente sedia o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso. Na outra face havia a vila militar, conjunto residencial destinado a esses e seus familiares, demolido dias atrás pela nova proprietária da área. Acredito que a construção da vila seja contemporânea ao estádio. Há ainda na região diversas edificações de relevante expressão arquitetônica que têm sido refutadas pela cidade.
 
A explicação referente a ocupação dessa região objetiva apresentar uma proposta para esse importante conjunto arquitetônico. Tal proposta foi concebida por ocasião dos Projetos para a Copa de 2014, pelo arquiteto Ademar Poppi sob orientação do também arquiteto José Antonio Lemos. Trata da integração do conjunto Sesc Arsenal, Dutrinha e Cadeia Pública com a construção de uma grande Praça frente ao Sesc Arsenal com estacionamento em piso inferior. O estacionamento poderia ser concedido a iniciativa privada tendo como contrapartida a construção deste e da praça. Tal praça, além de proporcionar maior qualidade urbana àquele local árido, permitiria a apreciação do belo Arsenal de Guerra, sem eliminar as tão necessárias vagas de estacionamento.
 
E o mais interessante seria aproveitar o potencial da região para transformá-la em uma grande área de interesse turístico / cultural com a requalificação e promoção de empreendimentos comerciais no seu entorno. Valorizando assim tão importante espaço urbano que, excluindo o Sesc Arsenal e o Dutrinha em dias de jogo, tem sido muito desvalorizado urbanisticamente.
 
Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista. jandirarq@gmail.com
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