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Opinião

Pantanal em perigo

Rubem Mauro Palma de Moura

O Pantanal abriga mais de 263 espécies de peixes, entre eles os mais cobiçados pela gastronomia nobre, como o pintado, pacu, cachara, piraputanga, dourado e outros, reserva da biosfera e patrimônio mundial da humanidade. Hoje, existem muitas reclamações e constatações de que o Pantanal já não é mais o mesmo, não disponibilizando essas espécies com a mesma abundância de outrora. As espécies forrageiras também se encontram fragilizadas.

 A culpa, vejamos; uma delas foi noticiada nesta última semana pela imprensa mato-grossense, após a Sema (Secretaria de Estado do Meio Ambiente) apreender uma rede de pesca quilométrica, instalada na baía de Siá Mariana, em Barão de Melgaço, e encontrou também um barco usado para auxiliar a pesca ilegal. A estimativa é de que a rede tenha mais de mil metros, e os fiscais estimaram que os infratores iriam retirar mais de 150 indivíduos da baía utilizando apetrechos de pesca predatória. Como sempre, os predadores não foram presos.

A novidade até aí; nenhuma, pois todos os anos, dentro ou fora do período de Defeso, que é proibitivo para a pesca amadora e profissional, a matança nos rios e baias é frequente, causando prejuízos a ictiofauna. A baia de Chacororé é a que mais sofre com essa prática, pois o acesso e o seu interior é muito difícil, pois além de ser de baixa profundidade, impedindo que a fiscalização adentre ao seu interior, ela é de grande extensão e rasa nos meses de julho, agosto, setembro e outubro, proporcionando fuga aos predadores, tornando difícil que se faça a sua proteção.

Antigamente esses predadores sinalizavam com foguetes a aproximação da fiscalização, porém hoje, quando saem de Cuiabá esses maus elementos se comunicam via celular. Todos sabem quem são, mais a fiscalização nada pode fazer.

O pior de tudo, é que esses predadores são pescadores profissionais, contemplados com um salário mínimo por quatro meses no período de outubro a janeiro, (período do defeso), para ajudar na preservação das espécies, recursos esses saído dos nossos impostos, e invariavelmente continuam depredando.

 Para se ter uma ideia de quanto são esses predadores e o seu poder de destruição, só no nosso Estado, mais de (10.000) dez mil associados cadastrados nas colônias de pescadores, podendo retirar da natureza, 150Kg de pescado por semana. Não há na natureza, coleção de águas interiores que suporte esse esforço de pesca.

Outra prática, tão ou mais nociva do que as redes, são as cevas e seus tablados de pesca. Só no trecho de Cuiabá a Barão de Melgaço, são mais de mil. Os peixes saem da área alagada do Pantanal, gordos pela fartura de alimentos, e na época das vazantes, chegam aos rios pelos Corichos, nadando rio acima, queimando gordura e desenvolvendo o seu aparelho reprodutivo, para nas primeiras chuvas descerem desovando.

O alimento disponibilizado por essas cevas, “toneladas de milho e soja”, além de interromper o seu processo migratório, os tornam presas fáceis dos pescadores amadores, frequentadores desses lugares. Essas e outras práticas, tem feito com que as espécies estejam cada dia mais escassas. No Mercado do Peixe lá no Porto, 80% do pescado comercializado advém de criatórios. As peixarias, também são por eles abastecidas. Apesar de tudo isso, ainda há pessoas, despreparadas ou cegas, que atribuem às PCHs, a destruição do Pantanal.


Rubem Mauro Palma de Moura é Mestre em ambiente e Desenvolvimento Regional, Professor aposentado da UFMT e consultor.


 
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