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Opinião

O PT colhe os frutos proibidos que plantou

Julio Cezar Rodrigues

“Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para o mais alto cargo do Executivo Federal com um ferrenho discurso anticorrupção, alardeando sua honestidade e prometendo combate aos dilapidadores dos cofres públicos. ELEGEU-SE EM VIRTUDE DE SUA RETÓRICA DE PROBIDADE E RETIDÃO. Tais fatos elevam sobremaneira o grau de censurabilidade da conduta do recorrente e devem ser punidos à altura” (disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/07/31, acessado em 31/07/2018). Este é um trecho da manifestação da Procuradora Geral da República, Raquer Dodge, contra recurso feito pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar suspender sua prisão.

Como o brasileiro tem memória curta, as palavras da Procuradora servem como uma recordação de fatos recentes, ao mesmo tempo em que ratifica aquilo que qualquer pessoa de bom senso capaz de concatenar ideias em uma sequência lógica já sabe: o PT, capitaneado pelo presidiário em Curitiba, cometeu o famoso crime de lesa-pátria ao esconder-se atrás de uma retórica falsa com a finalidade de instalar no seio da nossa combalida República um esquema de corrupção jamais visto em nossa história.

E mais, os eventos atuais mostram com riqueza de detalhes a total impossibilidade e improcedência do discurso farsesco do PT de que Lula nada soube em treze anos de governo sobre o citado esquema (que iniciou com o mensalão). Lula tem e sempre teve absoluto controle sobre o PT. Este não existe sem aquele. O Brasil acompanha o teatro apresentado, sob o comando do presidiário, de uma tentativa canhestra de candidatura ilegal e imoral (isso sim é fake news).

Como um partido de matiz revolucionária, o PT opera com as instituições do estado de direito como meios para a finalidade original da organização: a mudança gradativa da sociedade para o modelo socialista, ou como eles definem em seu estatuto, o contraditório por definição, “socialismo-democrático”. Para tanto, é preciso “servir-se” das instituições aos seus propósitos ou deslegitimá-las quando são barreiras a estes intentos.

Raquel Dodge captou esta visão de mundo petista e vaticionou que Lula "demonstrou DESPREZO AOS IDEAIS REPUBLICANOS QUE PROMETEU CUMPRIR COMO CHEFE DE ESTADO" e, ainda, "frustrou as expectativas de milhões de brasileiros" ao usar o cargo "para obter vantagem financeira". Perfeito.

Depreciar, desconsiderar, desdenhar, humilhar e desprezar as instituições do País com base em seus desígnios totalitários é uma das características da esquerda socialista. Com efeito, constroem uma narrativa que os isenta da responsabilidade pelo fracasso de suas ações políticas, depositando o ônus em um inimigo imaginário, também criado pela narrativa. Nesse momento, Lula denomina como “eles” tudos aquilo que, na doentia mente petista, contrariou o belíssimo projeto de trazer o “jardim do Édem” para o Brasil.

Quando o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, durante o processo da Ação Penal 470 (mensalão) confessou com todas as letras que o partido utilizou-se de “dinheiro não contabilizado” (um eufemismo para caixa 2) durante a campanha de 2002, acabou ali, naquele exato momento, o discurso ético que levou o PT ao poder e que agora a Procuradora Geral relembra a todos. Hoje sabemos que caixa 2 foi apenas o “embrião” do mais sombrio leviatã que um partido no Brasil conseguiu cultivar. A máquina devoradora de recursos públicos trabalhou incessantemente para atender o projeto da quadrilha autointitulada de “messiânica” e salvadora do Brasil. Deu no que deu.

Com um DNA marxista, atenuado pelo discurso inverossível de pensadores da chamada “nova esquerda”, o PT procurou transmitir a imagem de um partido de centro-esquerda, moderado e prudente quanto às críticas ao modo de produção capitalista, atualmente já deformado pela doutrina Keynesiana intervencionista. Contudo, sua essência, notadamente representada pelos “guerrilheiros” nunca deixaram de acalentar o sonho de ver o Brasil como o grande protagonista dos governos bolivarianos da américa latina. O Forum de São Paulo, criação aberrante de Lula e Fidel (depois que Cuba perdeu a mesada da URSS) está aí para materializar esse pensamento atrasado.

Lamentavelmente, o povo brasileiro não conseguiu durante este últimos quarenta anos entender a lógica da estratégia da esquerda para dominar o pensamento e construir a narrativa que os levaria ao poder. Para tanto, instrumentalizaram a ética aos contornos da ideologia.

Como não podem expressar aquilo que realmente pretendem, posto que certamente haveria uma rejeição óbvia, mascaram e dissimulam seus propósitos (lembram da carta ao povo brasileiro de 2002?). Para tanto, precisam legitimar o imperativo ético de que “os fins justificam os meios”, sem, contudo, explicarem, “quem justifica os fins quando os meios utilizados são maus”.

Parte da resposta, talvez, como Ipojuca Pontes ( 1942 – artigo do Jornal da Tarde - São Paulo - 20/10/2001) aborda,  possa ser encontrada no exame da própria conduta de Marx, à luz de dados biográficos reais e longe da imagem mítica partidariamente cultivada, na maneira como se comportava com amigos e familiares e, em especial, nos métodos que empregava no confronto com adversários para impor a doutrina comunista e sua ética de resultados.

Nesse sentido, continua Pontes, “a primeira coisa a ressaltar em Marx diz respeito ao caráter impositivo. Marx não pedia, mandava. Não se desculpava, justificava-se. Não dialogava, impunha ou aliciava. Um dos poucos homens com quem conviveu sem brigar, o poeta Heinrich Heine, escreveu que ‘Marx se julga um Deus Ateu autonomeado’”. Qualquer semelhança com a forma como os petistas reverenciam o presidiário em Curitiba não é mera coincidência.
 
O teórico do PT Marco Aurélio Garcia já se manifestou em entrevista ao Jornal da Tarde, alguns anos antes de assumirem o poder, que o partido almeja um “Estado Forte” e que seja dotado de “mecanismos de controle do Parlamento, da Justiça, do Tribunal de Contas e das estatais” (ver em Olavo de Carvalho. A Nova Era e a Revolução Cultural.

2014, pag 115). Fica até difícil dizer que fomos enganados. Eles disseram o que iriam fazer. Talvez a nossa salvação foi que não conseguiram aparelhar completamente o Estado. Pelo menos setores internos de algumas instituições resistiram. Tivessem, por exemplo, cooptado as Forças Armadas, não estaríamos distantes do destino do povo venezuelano. Tanto que, nesta mesma entrevista, quando perguntado sobre qual o destino dessas Forças sob um governo petista, Marco Aurélio responde que pensa: “mudar a Constituição, para que as Forças Armadas deixem de ter, entre suas atribuições, a de combater inimigos internos, e passem a se incumbir exclusivamente da defesa das fronteiras nacionais”.
 
Não sei qual o melhor modo de organizarmos uma sociedade complexa como a atual. Isso não significa dizer que seja impossível caminhar em busca de uma nação com prosperidade material, justiça e liberdade. A convicção que possuo está na absoluta impraticabilidade dos modelos socialistas/comunistas ou coisas do gênero.

São imorais e depõe contra nossa natureza de seres conscientes, livres e dotados de um sentimento natural que nos impele a ser contrários a tentativas de imposição de modelos organizacionais de sociedade que não foram formados pela cultura e tradição, portanto, solidificado por valores que resistiram ao teste do tempo.
 
 
Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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