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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Quando o “não sei” é o melhor caminho...

Arquivo Pessoal

Antonio Ermírio de Moraes em um de suas entrevistas disse que o ser humano erraria menos, os prejuízos seriam menores e pouparia tempo se conseguisse dizer “não sei” com maior facilidade.

Concordo em número, gênero e grau com ele, não entendo porque é tão difícil para algumas pessoas pronunciar estas duas palavras que são a somatória de seis letrinhas.

Quantos aborrecimentos e confusões ridículas deixariam de acontecer caso assumíssemos de forma natural que não sabemos algo?

Onde está escrito que devemos saber e opinar sobre tudo?

Tem gente que não tem a menor noção a respeito de determinados assuntos mas não consegue ficar de boca fechada, tem que emitir sua opinião independente de estar certo ou errado, além de pagar o maior mico, corre o risco de alguém acreditar e cometer uma grande bobagem.

Quem age assim, além de orgulhoso (pois vê como crédito passar a imagem de conhecedor de tudo) é inseguro, e permanece na ignorância porque raramente vai em busca de saber o certo.

Comumente aqueles que são detentores de profundos conhecimentos sabem que não sabem tudo, que não são obrigados a saber e não fazem a menor questão de mostrar o que sabem, a não ser quando necessário. Agora... os exibicionistas não, ao contrário, muitas vezes sabem só na superficialidade, mas se vestem com a roupa do rei.

Eu fico daqui só observando...

Já presenciei situações hilárias ao lado de alguns sabichões e aqui vou relatar uma delas, afinal hoje meu lado fofoqueira está comichando.

Estávamos em um grupo de amigos em um restaurante francês, o menu vinha escrito no referente idioma e em inglês, o que para mim é um grande erro, afinal estamos no Brasil, penso que deveria conter a língua pátria também.

Após os drinks passamos ao pedido da entrada e prato principal.

Quando todos que ali estavam começaram a pedir indicações e informações a respeito do cardápio ( ninguém falava francês e poucos o inglês) o sabichão nos passou um “pito “ de que era muito feio ficar pedindo tantas informações a respeito dos pratos, que mostrar que não sabíamos a romântica língua e pouco da língua quase universal não caía bem.

Desnecessário elucidar que seu comentário caiu como uma bomba entre nós e por pouco o ânimo dos presentes não se exaltaram ao ponto de ferir a regra da boa vizinhança.

Depois de tudo explicadinho e pedidos feitos voltamos a conversar animadamente.

Assim que os pratos chegaram à mesa, foi constatada que a espera valeu a pena, estava tudo delicioso, porém nosso amigo sabichão por mais que tentasse disfarçar o desagrado, ficou claro para qualquer um que o bonito engolia a seco, afinal ele deve ter feito seu pedido pensando ser lebre e o que veio deve ter sido um gato .

Outra vez que rendeu muitas risadas foi em um quarto de hospital.

Acho que todos tem um amigo (a) esnobe, eu tenho alguns (as), mas gente assim nunca considero amigos, são meus conhecidos.

Mas vamos lá...

Eu visitava um parente que estava passado por uma problema de saúde e estava hospitalizado quando adentrou no recinto minha conhecida esnobe, eles tinham uma ligação de amizade também. Cidade pequena sabe como é... todo mundo se conhece.

Muito simpática trazia flores e bombons, posso falar o que for, mas seria injusto negar sua educação.

Sorriu, se informou dos detalhes do ocorrido e ali ficamos a conversar.

É interessante como situações dramáticas e dolorosas tem o poder de se ressaltar perante a conversas que deveriam ser leves e amenas, o ser humano tem uma habilidade em se focar no ruim, se for relativo a doença então, beira a competição de quem tem o problema mais sério.

Você fala que está com uma dorzinha de cabeça, o outro fala que sofre de terríveis enxaquecas. Você diz que seu estômago digere lentamente, o outro diz que tem uma úlcera e por aí vai...

Conversa vai, conversa vem, a bela das flores contou da última viagem, das compras, dos restaurantes carérrrimos, que a primeira classe poderia ser melhor e blá... blá... blá...

Ela é bem rica sabe, e bastante viajada, mas sempre tive a impressão que a cultura dela não estava à altura da sua conta bancária.

O que não é demérito algum, porém, ao menos para mim, ser esnobe já denota certa burrice.

Aaffff.... hoje se eu me picar morro envenenada, mas vamos lá, um dia só pode...

À certa altura a conversa voltou para doença, afinal estávamos visitando um convalescente, quando a moça que só viaja na primeira classe passou a relatar que fulano de tal havia feito duas pontes de safira.

Inicialmente pensei ter ouvido errado, mas não... não ouvi errado, porque ela repetiu e aí pensei que ela havia falado errado, de forma equivocada e falei: “Você está falando de ponte de safena, né”?.

Qual não foi sua resposta: “Não, ele colocou duas pontes de “safira” mesmo.

Normalmente meu humor é mais pra lá do que pra cá, mas naquele dia ele estava bom e aí pensei que dar corda poderia ser divertido e ver até onde ela iria.

Foi longe... a moça das flores e dos bombons, educada de fato, é bem mais desprovida de massa encefálica do que eu supunha. Devia estar tão habituada ao mundo do ouro que via brilho e pedra preciosa nos lugares mais inusitados.

O parente doente, coitado, quase teve seu quadro complicado com tanta asneira que ouviu, a sorte é que por estar sob o efeito de forte medicação estava meio sonolento, e deve ter sido estes breves momentos de torpor que o deixavam meio sim meio não, tirando-o da consciência, que o livrou de mais um agravamento na sua saúde já debilitada.

Não é demérito algum dizer “não sei” ao assumir algo que não sabemos, estamos atestando nossa perspicácia, afinal, ser humilde é um profundo ato de inteligência!

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*Isolda Risso é pedagoga por formação, coach, cronista, retratista do cotidiano, empresária, mãe, aprendiz da vida, viajante no tempo, um Ser em permanente evolução. Uma de suas fontes prediletas é a Arte. Desde muito cedo Isolda busca nos livros e na Filosofia um meio de entender a si, como forma de poder sentir-se mais à vontade na própria pele. Ela acredita que o Ser humano traz amarras milenares nas células e só por meio do conhecimento, iniciando pelo autoconhecimento, é possível transformar as amarras em andorinhas libertadoras.

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