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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Relacionamentos e suas roupagens...

Arquivo Pessoal

Gosto muito de uma frase atribuída a Mário Quintana e com o passar dos anos confirmo o quão sábio ele foi ao afirmar: “Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz com outra pessoa você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando... mas quem estava procurando por você. “

Embora não pareça, sou meio tranquila com algumas coisas, o que para muitos chamaria a atenção ou teria um grau de importância relevante, para mim, passa batido.

Em se tratando do universo feminino, aí sim meu atestado de avoada se confirma, pois raríssimas vezes, bolsa, sapato, carros, adereços, etc.. são capazes de chamar minha atenção.
Não porque eu não aprecie, gosto e gosto muito, mas sou distraída mesmo, quem sabe não seja algum tipo de autismo até então desconhecido ?!

Então... se coisas e adereços de outrem não são o centro da minha atenção, o comportamento alheio sim.

Observar gestos, olhares, atitudes e posturas, posso assegurar que me dá mais prazer que comer brigadeiro com colher na panela, de preferência ainda quentinho.

Em se tratando de observar, algo que me chama muito a atenção é quando vejo um casal sozinho sentado em uma mesa de restaurante.
Não são todos, óbvio, mas a grande maioria dos casais fica sentado cada qual em seu mundo, aguardando o pedido chegar.

Quando tenho essa cena diante de mim, me indago: “o que aconteceu com eles que até a conversa descontraída deixou de existir”?
Afinal, se nos dispomos a ir a um restaurante ou barzinho acompanhado do nosso par, devemos estar com vontade de comer algo diferente de casa, mas acredito que o que mais interessa é desfrutar de algumas horas de lazer e descontração.

Ao ver casais com idade mais avançada mudos diante do outro, até dou um desconto, mas os mais jovens, e hoje vejo mais os jovens casais que os da velha guarda tendo este comportamento, sinto pena.

Há poucos dias, eu estava em um restaurante nota dez, animado, com um som legal, um pessoal descolado, bem agradável mesmo, e me chamou a atenção um jovem casal, ambos lindos.

Escolheram uma mesa bem na minha frente, coitados, se soubessem que teriam dois olhos cravados neles, a opção teria sido outra.

Chegaram, sentaram, assim que o garçom os abordou eles fizeram o pedido, o garçom se foi, eles trocaram meia dúzia de palavras, cada qual pegou seu celular e enquanto aguardavam, intercalaram entre o celular e olhar para um lado, para outro lado e mal se olharam.

A princípio pensei: “Vai ver são irmãos, mas logo esta hipótese caiu por terra, porque comentei com quem estava comigo e ela me falou que chegaram de mãos dadas. Ou seja, formavam mesmo um casal”.

Aí me surgiu a ideia de estarem brigados, mas se estavam brigados, por que teriam ido a um lugar como aquele? Poderiam ter escolhido um canto neutro para se ajustarem, conheço pessoas que quando diante de um probleminha gostam de sair para acertar os ponteiros, mas se fosse isso, eles deveriam estar conversando e não alheios um ao outro.

Muita coisa passou pela minha cabeça, nenhuma confirmada, olhando aqueles dois presumi que o encanto acabou, a mesmice se instalou e eles por alguma razão não se deram conta disso, ou se deram, não estavam sabendo o que fazer com a situação.

Em um relacionamento duradouro é comum que as primeiras emoções vão tomando outras formas, vestindo roupas diferentes conforme o tempo passa. Algumas ficam mais belas, outras nem tanto e boa parte se transformam em decepção, descrença e certa amargura, caso os envolvidos não estejam empenhados em fazer com que essas mudanças causem o menor ruído possível na relação.

A rotina do cotidiano, os problemas naturais da vida são ingredientes poderosos para minar a melhor das boas intenções.

Todo inicio é recheado de palpitações, frio na barriga, muito tesão, delicadezas, gentilezas, cuidados, longas conversas, intermináveis planos, as horas passam e não nos damos conta.
Como já me referi, é natural que isso vá mudando e cabe a nós aceitarmos com relativa tranquilidade essas mudanças.

Umas chegam, outras se vão, mas entre todas as mudanças, essas não devem ir embora: a amizade e o prazer de conversar.
Para mim, quando estes elementos se tornam escassos em um relacionamento, é só uma questão de atitude.... sair dele ou sentar para conversar e ver se dá para recuperar.

Mas venha cá, o que isso tem a ver com a fala do Mario Quintana?
Tudo a ver... Se nós não gostarmos de estar na própria companhia, a dedicar um tempo em nos dar afeto e amor... dificilmente teremos prazer em outra companhia.

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*Isolda Risso é pedagoga por formação, coach, cronista, retratista do cotidiano, empresária, mãe, aprendiz da vida, viajante no tempo, um Ser em permanente evolução. Uma de suas fontes prediletas é a Arte. Desde muito cedo Isolda busca nos livros e na Filosofia um meio de entender a si, como forma de poder sentir-se mais à vontade na própria pele. Ela acredita que o Ser humano traz amarras milenares nas células e só por meio do conhecimento, iniciando pelo autoconhecimento, é possível transformar as amarras em andorinhas libertadoras.

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