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Casa Barão de Melgaço sob constante ameaça: de espaço da História e das Letras para território da barbárie

Elizabeth Madureira Siqueira

Desde que foi destinada, pelo Interventor Antonino Mena Gonçalves, no ano de 1930, às duas instituições mais antigas do Estado, o Instituto Histórico e Geográfico e a Academia Mato-Grossense de Letras, a Casa Barão de Melgaço se constituiu em Instituição sem fins lucrativos, tendo sido tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual.

Nas primeiras décadas após a doação, a instituição contou com verba estadual para garantir a segurança e o desenvolvimento desuas atividades culturais. Infelizmente, nas últimas décadas do século XX, não mais contou com qualquer subsídio, sustentando-se da contribuição anual de cada sócio do IHGMT e da AML, adicionado de eventuais alugueis do espaço para eventos. De outro, sobre ela recaem os tributos municipais e estaduais, a exemplo dos impostos e contas de luz e água. Para fazer frente às despesas corriqueiras, as duas Instituições vêm se mantendo graças ao amparo regimental e muitas vezes espontâneo dos associados. Porém, isso se tem mostrado insuficiente, pois as atividades de pesquisa, que demanda auxiliares capacitados, adicionadas às publicações se mantem em ritmo de espera.

A partir de 2015, a Casa Barão de Melgaço vem sendo alvo de constantes assaltos ao seu patrimônio arquitetônico e aos bens que acumulou ao longo de um século, a exemplo da biblioteca, hemeroteca e também dos acervos institucionais e privados. Isso de deveu ao fato de que a parte dos fundos da antiga Faculdade de Direito, doada, pelo governador Silval da Cunha Barbosa, no final de sua gestão, visando integralizar o espaço total da Casa Barão de Melgaço, uma vez que parte da residência original de Augusto Leverger, aquela parte localizada à Rua Comandante Costa, ficou desabitada desde então, e assim continua até hoje. No início do governo Pedro Taques foi firmado um Termo de Cooperaçãoentre a Casa Barão e o governo de Mato Grosso, datado de 22 de julho de 2015,que tencionava troca de experiências e projetos na área cultural, assim como edificar um centro cultural e literário, integrando-oao patrimônio cultural do centro histórico de Cuiabá, um belíssimo projeto. Infelizmente, até o momento, o espaço da Rua Comandante Costa não sofreu qualquer intervenção, o que oportunizou, desde então, a frequência de ladrões ao longo dos últimos três anos.

O maior assalto ocorreu no ano de 2016, mais precisamente durante o Carnaval, quando os meliantes quebraram paredes e teto, adentrando no interior do Arquivo da Casa Barão de Melgaço e raptando todos os aparelhos eletrônicos (filmadora, datashow, televisão 40 polegadas, nootboks, computadores de mesa, mesa de som, microfones e caixas de acústicas), adquiridos pelo IHGMT através do projeto Ponto de Cultura, tendo sido também subtraídos objetos que integralizavam os acervos pessoais dos sócios falecidos, em especial medalhas, imagens, moedas, cédulas e objetos. Esse assalto ao patrimônio foi extremamente lamentado por todos os sócios, mas especialmente pela Curadoria da Casa Barão de Melgaço, além de estudantes e comunidade acadêmica, que tinha no arquivo e na biblioteca e hemeroteca fonte inesgotável de pesquisa sobre Mato Grosso.

Após esse episódio, os assaltantes retornaram amiudadamente à Casa Barão, dilapidando toda fiação elétrica não só do solar do Barão de Melgaço, como da parte superior, onde o Arquivo e a Biblioteca estavam originalmente abrigados. A partir daí, sem luz e tampouco água, visto que os larápios retiraram toda fiação elétrica elevaram o motor de água, a situação de permanência e atendimento aos estudantes e pesquisadores tornou-se impossível, além de colocar em risco o que restava dos acervos institucionais e privados.

Diante dessa situação desoladora, a Curadora Madureira resolveu pedir socorro ao 44º BIMtz, então sob então comandante do Coronel Lauduger Marinho. Após exposição da difícil condição do patrimônio da Casa, e frente à sensibilidade do referido Coronel, foram cedidos, por 15 dias, 10 soldados que ficaram à disposição da Curadora, ocasião em que todo Arquivo e biblioteca foram mudados para o auditório da antiga Faculdade de Direito, graças à visão do comando e ao empenho, disciplina e boa vontade dos soldados voluntários do 44º BIMtz. Nessa mudança, grande parte do acervo da biblioteca e das coleções pessoais foi acondicionada em caixas, permanecendo nessa situação até o momento atual. Mesmo tendo sido removido para outro espaço, considerado mais seguro, os trabalhos de atendimento ao público ainda se encontram prejudicados, uma vez que no antigoauditórioinexisteluz ou água, porém, as coleções estão seguras e guardadas condizentemente, necessitando de ainda de ordenação.

A partir de 2016, a Casa Barão de Melgaço, na parte do casarão antigo, mereceu intervenção do IPHAN/MINc-Prefeitura Municipal de Cuiabá. Foram dois anos dificílimos, pois os assaltantes retornavam quase que diariamente ao local, furtando não só fiação, mas também equipamentos da empresa. Finalmente, em meados de 2017, a obra foi entregue e reinaugurado o Solar do Barão de Melgaço. Vale salientar que essa intervenção não contemplou a parte superior, onde está localizado o atual Arquivo, que continua, até hoje, às escuras e sem água.

O último assalto ocorreu na noite de 14 para 15 de janeiro de 2018, quando os meliantesabriram um grande buraco na parede frontal da Casa Barão, retirando a placa de bronze que nomeia as duas Instituições. Porém, não foram os mesmos capazes de leva-la, devido ao seu peso, abandonando a peça histórica próximo ao estacionamento vizinho à Casa Barão. Esse episódio está demandando ações por parte do IPHAN-IHGMT e AML, e também da empresa restauradora, visando cobrir e emparedar o rombo e pintar a parte danificada. A placa de bronze será posteriormente colocada no interior da Casa Barão, a fim de evitar novos assaltos.

Infelizmente, tanto os sócios do IHGMT quanto os da AML estão receosos que os ladrões voltem, especialmente no carnaval de 2018, causando outros danos a um dos mais antigos patrimônios históricos e documentais de Mato Grosso.

Semelhante situação precisa contar com o apoio da sociedade civil e dos poderes executivo, judiciário e legislativo de Mato Grosso, uma vez que a segurança de seu patrimônio está a demandar ações rápidas e eficientes. Conclamamos a população que nos ajude a conservar e revitalizar a Casa Barão de Melgaço, seja oferecendo apoio para segurança, seja disponibilizando funcionários e voluntários que possam ajudar no rearranjo dos acervos. Para que isso ocorra haverá necessidade de uma intervenção no antigo auditório, abrigo atual dos acervos e da Biblioteca e Hemeroteca, com limpeza do espaço, ligação de energia e colocação de ventilação, para que o Arquivo da Casa Barão volte a ser um centro de pesquisa e seu rico acervo volte a se tornaracessível a estudantes, pesquisadores e interessados em geral.

Sabemos que a problemática é mais ampla, envolvendo uma discussão sobre exclusão social e marginalidade, porém, a intenção desse artigo foi o de tão somente atualizar o histórico das barbáries ocorridas no complexo da Casa Barão de Melgaço.

É o que os membros do IHGMT e da AML aguardam com muita esperança. Para contato e propostas de ajuda, agendar conversa e visita: bethmsiqueira@gmail.com (Elizabeth Madureira Siqueira, Curadora da Casa Barão de Melgaço)
 
*Elizabeth Madureira Siqueira (Curadora da Casa Barão de Melgaço e Presidente do IHGMT)
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