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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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JOÃO DE BARRO

Casal de engenheiro e estudante de arquitetura comandam ateliê sustentável no centro de Cuiabá

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Georgia, Felipe e o pequeno João no ateliê

Georgia, Felipe e o pequeno João no ateliê

O João de Barro é conhecido como o arquiteto da natureza. Sagaz, escolhe o lugar ideal, com a quantidade necessária de luz solar e vento, para construir a sua casinha e, junto à sua companheira, carrega o barro para os galhos das árvores até terminar de montá-la. Em Cuiabá, Felipe Amorim Sancho e Georgia Filipovitch Ferreira comandam, há três anos, um ateliê sustentável que leva o nome do pássaro, onde desenvolvem técnicas de bioconstrução, ministram oficinas e comercializam terrários e kokedamas – e não só isso.

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“A gente estava trabalhando com bioconstrução e chegávamos cheios de barro, eu e Felipe na época, e meu sogro começou a chamá-lo de João de Barro”, conta Georgia. Foi assim que surgiu a ideia para o nome do ateliê. A história, no entanto, é mais antiga e cheia de pormenores.

Felipe é engenheiro civil, e trabalhava no Tribunal de Contas. Georgia sempre trabalhou com eventos. Quando os dois se conheceram, descobriram que tinham muito em comum, principalmente a vontade de mudar de vida. Ela começou a estudar arquitetura e urbanismo no Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), e os dois, a partir da vontade de transformar uma antiga casa da família do engenheiro, mergulharam de cabeça na permacultura, que tem como base “a ecologia e é um instrumento utilizado para a criação de sistemas humanos sustentáveis, valorizando e unindo conhecimento tradicional, agricultura ancestral, construções eficientes, equilíbrio (mental, físico e espiritual), diversidade, recursos naturais e sustentabilidade”.

Ao mesmo tempo em que iniciaram a reforma da casa, Georgia começou a produzir terrários, kokedamas e minijardins. No início, fazia para si mesma – já que em Cuiabá não encontrava para comprar – e aos poucos apareceu demanda para venda. Até mesmo nesta produção ela precisou encontrar a melhor forma de adaptar as plantas ao calor de Mato Grosso, e encontrou na reutilização de potes de vidro de palmito mais uma forma de ser sustentável em seu trabalho.

Terrário (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Kokedama (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Com o aumento da procura, ela conseguiu criar uma equipe e passou a oferecer também oficinas. Além de ensinar a fazer terrários e kokedamas, ela e Felipe também criaram a oficina de bioconstrução, onde ensinam sobre revestimento natural, construção de bambu a pique e tijolinho de adobe no primeiro módulo, e outras técnicas, como COB [material de construção composto de argila, areia e palha, similar ao adobe], taipa de pilão, telhado verde e geotintas nos módulos seguintes. Para aprender tudo isso, o casal chegou a fazer diversos cursos, inclusive no Pindorama, no Rio de Janeiro.
 
“Eu acho que é um resgate. É a construção mais antiga do mundo. Eu não estou inventando nada”, explica Georgia. “É claro que a gente pensa em novas tecnologias, porque estamos modernos e não tem como trabalhar da mesma forma que trabalhava antigamente. (...) É artesanal, mas é moderno. Precisa ter uma consistência, uma qualidade, uma durabilidade. É uma coisa que dura muitos anos, e a manutenção é simples”.

Somente com o barro, segundo eles, é possível construir desde uma casa até uma cuba de pia. E a grande diferença em relação ao cimento está tanto na qualidade de vida – já que deixa o ambiente de 3 a 4 graus mais fresco – quanto no acabamento, pois uma parede de barro consegue ‘respirar’, ou seja, não fica com infiltrações. Em Cuiabá, por exemplo, a ‘João de Barro’ já usou estas técnicas no Arado Natural, na Tapiocaria Da Feira, e tem parceria com diversos shoppings, Sesc e Senai.

Parede feita na oficina de bioconstrução do ateliê (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Georgia conta que também foca no paisagismo produtivo, ou seja, aquele que “fica bonito, resolve o problema, e ainda produz”. Com ele, por exemplo, ela plantou um jardim em seu ateliê, onde há pé de amora, limão, jabuticaba, banana, taioba, várias PANCs, manjericão, alecrim, rúcula, batata doce e maracujá.

Jardim do ateliê (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Para ensinar outras técnicas, como a horta orgânica, ou ministrar oficinas de arte, a João de Barro conta com parceiros. As aulas são ministradas três sábados por mês, e a programação é compartilhada nas redes sociais.

Futuro

Fachada do ateliê (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

O casal pretende, assim que terminar a reforma do ateliê, oferecer práticas de ensino ecopedagógico para escolas, e explicar para as crianças, por exemplo, o que é compostagem, o que são alimentos orgânicos, reciclagem, etc.

Além disso, em breve vão inaugurar um viveiro para venda de plantas – principalmente frutíferas, pensando no paisagismo produtivo, mas também ornamentais – e abrir para voluntários de bioconstrução ajudarem na montagem do ateliê e, assim, adquirirem conhecimento que podem utilizar até mesmo para encontrar uma nova fonte de renda.

“Não adianta ficar reclamando que nada funciona. O que você pode fazer hoje, agora? O que você tem à disposição, que pode fazer? O legal da permacultura é isso. Estar feliz onde você está, sabendo que está no lugar certo. Usar o que você tem”, finaliza Georgia .

O que é?



Terrários – Um pequeno ecossistema montado dentro de um pote de vidro. Ali dentro, a planta respira, transpira, e formam-se gotículas de água nas paredes, que depois ‘chovem’. Existem terrários que não precisam de nenhuma intervenção, e outros precisam ser podados ou molhados poucas vezes na semana.

Kokedamas – O nome é de uma técnica japonesa de amarração – variante do bonsai – usada para colocar ao redor da raiz das plantas. Ali, fica a terra, o substrato orgânico, e é envolto com o fio que é também é orgânico. É usado para decoração, e também pode ser plantado – com ou sem o fio – caso queira. Ele precisa ser molhado, e é uma opção mais versátil na decoração do que um vaso de plantas.

Permacultura – Tem como base “a ecologia e é um instrumento utilizado para a criação de sistemas humanos sustentáveis, valorizando e unindo conhecimento tradicional, agricultura ancestral, construções eficientes, equilíbrio (mental, físico e espiritual), diversidade, recursos naturais e sustentabilidade”. (Definição do site Alquimidia
 
Bioconstrução – “Toda a construção que congrega o menor impacto ambiental possível tanto na sua implantação quanto na escolha dos materiais, além de uma maior integração paisagística no entorno para privilegiar a aplicação de técnicas antigas e ancestrais e o uso dos materiais escolhidos”. (Definição do site Green Me)
 
Serviço

João de Barro Ateliê
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