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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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EM ALTO MAR

Pesquisador da UFMT participa de expedição para descobrir onde África e América do Sul se separaram há 120 milhões de anos

Foto: Arquivo Pessoal

Carlos D'Apolito é doutor em geociências e faz pós-doutorado na UFMT

Carlos D'Apolito é doutor em geociências e faz pós-doutorado na UFMT

Cerca de sessenta dias a bordo de um navio, ao lado de pesquisadores de todo o mundo. É isso que o ano de 2020 reserva para o gaúcho Carlos D'Apolito, 34, doutor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso. Ele, que é biólogo, será um dos integrantes da expedição IODP 388: ‘Equatorial Atlantic Gateway’, que começará em junho de 2020, na costa de Pernambuco.

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Carlos é natural de Passo Fundo (RS), graduado em biologia pela Universidade Federal da Grande Dourados, mestre em botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e doutor em geociências pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Na UFMT ele chegou em 2017, com uma bolsa de pós-doutorado. Em seguida, passou a integrar um projeto de Desenvolvimento Científico Regional (programa em conjunto da entidade local de amparo à pesquisa do Mato Grosso, a FAPEMAT, e do CNPq), que segue até 2020.

Em Mato Grosso, Carlos tem como foco o Pantanal. “Meu projeto está criando uma coleção biológica na faculdade de geociências (FAGEO) da UFMT. É uma coleção do pólen das plantas do Pantanal”, explica. “Cada planta tem um pólen com uma forma diferente. Nós coletamos este material de herbários, como o herbário da UFMT e da UFMS, processamos no laboratório na FAGEO e montamos lâminas permanentes de vidro para microscopia. Já temos mais de 1300 plantas catalogadas nesta coleção”.

Segundo o doutor, a importância da pesquisa é multidisciplinar, já que o foco é “Estudar os grãos de pólen fósseis em sedimentos de milhares de anos atrás do Pantanal. Por isso a coleção: para compararmos os fósseis com os recentes. Desta forma podemos reconstruir a vegetação de milhares de anos atrás, e assim falar também de clima na região”.

Expedição IODP 388

D'Apolito já esteve no meio da Amazônia perfurando rochas, e também em pequenos botes em lados do Panamá furando o fundo de lagos a poucos metros de profundidade, mas nunca participou de algo tão grandioso como a IODP 388. O navio Joides Resolution – que abrigará os pesquisadores - tem a capacidade de perfurar centenas de metros. “Até mais de mil em alguns casos! Além de ser equipado com laboratório que mesmo nas universidades nós não temos”.

Para conseguir esta vaga, o pesquisador teve que se inscrever por um edital, enviar carta de intenção, currículo e carta de recomendação. Segundo o pesquisador, a expedição é um consórcio de vários países, em que cada um banca uma parte dos custos, e, assim, têm o direito de enviar pesquisadores de suas instituições. No Brasil , foi a CAPES a responsável por esta parceria.

“O edital foi circulado nos principais meios entre geólogos/paleontólogos no Brasil, e eu tive a felicidade de ser escolhido. Contou bastante também eu já conhecer o projeto, pois havia participado de um workshop sobre este e outro parecido durante meu doutorado na Inglaterra alguns anos atrás. Nesta expedição, um dos chefes é o pesquisador brasileiro da UNISSINOS Gerson Fauth”, conta D'Apolito.
 
O objetivo principal da expedição é encontrar momento final de formação do oceano atlântico. “Teoricamente, aquela região foi a última a se separar do continente Africano, algo em torno de 120 a 100 milhões de anos atrás”, explica o pesquisador. Sua função específica será “estudar os microfósseis orgânicos como os grãos de pólen e algumas algas marinhas chamadas dinoflagelados. Estes microfósseis são bastante resistentes, então ficam preservados em sedimentos de centenas de milhões de anos sem perder suas formas características. Os dados do pólen e algas vão ajudar a definir as idades das rochas além de dizer como era o ambiente (ex. marinho, terrestre, etc)”.
 
Existem também objetivos adjacentes, como descobrir como o clima mais quente do Cretáceo (período geológico em que houve a separação) afetou os ecossistemas; se eventos de calor extremo teriam afetado a vida negativamente; além de questões sobre o ambiente marinho, acumulação de carbono nos mares rasos e restritos dessa época. “No início do oceano atlântico equatorial (nessa região do nordeste brasileiro), o mar era mais raso e não tinha grandes correntes oceânicas”, explica.
 
Depois que voltar do mar, o pesquisador pretende continuar estudando o Pantanal e a Amazônia. “Com o fim do projeto DCR em 2020, ainda não tenho certeza do que acontecerá, mas há possibilidades boas de continuar como pesquisador bolsista na FAGEO-UFMT com outros projetos que estão se desenrolando, e neste meio tempo vou desenvolvendo também a pesquisa com o material da expedição”, prevê.
 
D'Apolito não vai receber nenhuma bolsa de estudos ou salário pela expedição e, segundo ele, a maior parte da coleta de amostras e trabalho será feita nos próximos anos depois da expedição. “O que prevê coletas no repositório do programa IODP em Bremen, Alemanha”.
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