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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Artigo de professor da UFMT em revista internacional mostra influência da mídia na eleição de Bolsonaro

Foto: Arquivo Pessoal

Bruno apresentando os resultados da pesquisa no  no 8º Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política

Bruno apresentando os resultados da pesquisa no no 8º Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política

A forma como a mídia nacional construiu uma legitimação da candidatura do atual presidente Jair Bolsonaro é mostrada em um artigo do professor doutor Bruno Araújo, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em parceria com professor Hélder Prior, da Universidade Autônoma de Lisboa, publicado na última segunda-feira (6) na britânica ‘Journalism Practice’, uma das mais prestigiadas revistas mundiais na área da comunicação.

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Bruno tem 29 anos, é cearense, doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília e graduado em Jornalismo pela Universidade de Coimbra (Portugal), onde também realizou o mestrado em Comunicação e Jornalismo. Atualmente, além de professor na UFMT, ele coordena o projeto de pesquisa "Democracia Mediatizada: comunicação política e produção de sentidos na cobertura jornalística das Eleições de 2018", que estuda as estratégias de comunicação usadas pelos candidatos nas eleições de 2018, principalmente nas redes sociais, e os sentidos construídos sobre os eventos e os atores políticos naquelas eleições.

Hélder, por sua vez, é professor visitante na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), além de ser docente da Universidade Autônoma de Lisboa. Ele e Bruno realizaram o estudo do artigo publicado recentemente e apresentaram, inicialmente, no 8º Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política, realizado em maio de 2019, em Brasília.

“A parceria com o Prof. Hélder Prior é um passo muito importante no processo de internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMT, que começará a funcionar em 2020. O professor é um pesquisador português, com passagem por diversos centros de investigação renomados no espaço ibero-americano e uma produção científica de referência nos estudos da comunicação política”, afirma Bruno.

O artigo

Segundo o professor, o estudo realizado para a confecção do artigo utilizou uma “análise de base qualitativa” a partir da “teoria do enquadramento”. Explica: “Trata-se de um conceito e, ao mesmo tempo, de uma operador analítico que permite identificar o modo como os meios de comunicação enquadram a realidade”. A ideia é que, ao retratar a realidade, a mídia “constrói esquemas de interpretação que são compartilhados com o público, entre vários outros possíveis”.

Para analisar o enquadramento nas eleições de 2018, os pesquisadores escolheram três jornais nacionais: O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo; e seis internacionais: The New York Times, The Guardian, El Pais, Publico, Le Monde e Libération. 

O conceito base utilizado foi o do ‘populismo’, “porque entendemos que o estilo e as propostas do candidato e atual presidente da República se enquadram naquilo que a literatura especializada considera como populismo, ou seja, o realce da soberania popular e o desprezo pelas instituições, a divisão da sociedade em grupos antagônicos (nós e eles), a construção de inimigos geralmente vinculados às minorias, o moralismo, o nacionalismo”, justifica.

A partir da análise, o que saltou aos olhos foi a diferença na forma em que os jornais brasileiros e estrangeiros retrataram a figura de Bolsonaro. “Enquanto os jornais brasileiros se referiram ao político como candidato da direita, os jornais internacionais o enquadraram como político autoritário e de extrema-direita”, explica o professor. Segundo Bruno, houve um “efeito de suavização de Bolsonaro nos editoriais brasileiros, não verificado nos editoriais internacionais”.

Outro aspecto relevante foi de que, principalmente o jornal ‘O Estado de São Paulo’ equiparou o candidato da oposição, Fernando Haddad, a Bolsonaro. “Em um de seus editoriais, o jornal paulistano chegou a afirmar que se há uma ameaça à democracia, esta estaria tanto em Bolsonaro quanto em Haddad. Diferentemente foi o que verificamos nos seis jornais internacionais analisados: para eles, não pode haver uma equiparação entre Haddad e Bolsonaro porque o PT, apesar dos casos de corrupção em que esteve envolvido, já havia governado o país respeitando as regras do jogo democrático, algo muito diferente das várias declarações dadas por Bolsonaro ao longo dos anos e que demonstrariam desrespeito aos valores democráticos”.

O resultado, para os pesquisadores, foi de uma “legitimação da candidatura de Bolsonaro, naturalizado muitas de suas falas como próprias do debate político. Assim, enquanto o El Pais e o The New York Times falaram de Bolsonaro como uma ameaça, O Globo considerou a sua candidatura como demonstração de força da democracia brasileira”.

O artigo foi publicado em inglês, e uma versão preliminar do texto também está nos anais do 8º Congresso da Associação Brasileira de Comunicação e Política. A opção, segundo o pesquisador, foi tanto pelo prestígio da revista – que está “indexada nas principais bases de dados internacionais e pertence a um dos maiores grupos editoriais do planeta, a Routledge, com sede em Londres, na Inglaterra” – quanto por verificar um amplo interesse da comunidade científica internacional no contexto político brasileiro. Além é claro, da estratégia de internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMT, que acaba de ser aprovado.

Para Bruno, é necessário admitir que o jornalismo funciona, muitas vezes, como “ator político interessado, influenciando a percepção pública sobre os fenômenos a partir dos sentidos que elabora e compartilha com o público”. Não são poucos os exemplos, como o caso de Fernando Collor de Mello (o ‘caçador de Marajás’) e a demonização de todos os políticos, recentemente.

“O modo como a corrupção política foi retratada nos meios de comunicação no âmbito da cobertura da Lava Jato não apenas contribuiu para mostrar os casos - o que é muito positivo - mas, também, para criar uma sensação de que toda a classe política estaria envolvida em ilícitos, o que é muito ruim. Em contextos de desconfiança generalizada, tendem a surgir figuras que se mostram como salvadoras da pátria - ou como mitos - que libertariam "o povo" da corrupção "das elites". Foi aí que surgiu a figura de Bolsonaro, apresentada supostamente como um candidato antissistema mesmo sendo ele um político tão tradicional quanto os demais”, finaliza.

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