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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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EMPURRADOS PELO CLIMA

Número de imigrantes deve aumentar e brasileiro se tornará mais xenófobo, alerta pós-doutora da UFMT

Foto: Reprodução

Número de imigrantes deve aumentar e brasileiro se tornará mais xenófobo, alerta pós-doutora da UFMT
O cenário é distópico e desanimador, mas, segundo a pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e ambientalista Michèle Sato, não tem como ser diferente: cada vez mais pessoas vão fugir de seus lugares de origem em decorrência da crise climática, principalmente para o Brasil. Em consequência, o brasileiro se tornará mais xenófobo e o processo migratório, que já é perverso e excludente, será ainda mais cruel.

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Este é o alerta que ela – e um grande número de pessoas em todo o mundo – tenta fazer há anos. Recentemente, articulou a criação da ‘Coalizão pelo Clima’ em Mato Grosso e, com isso, uniu-se a partidos políticos, Organizações Não Governamentais (ONGs), Centros Acadêmicos e outras entidades da sociedade civil para debater e promover ações de informação e combate à crise climática.

Segundo Michèle, o contexto atual da migração é diferente de todos os outros momentos da história, e só tende a piorar. Isto porque há um ‘boom’ de pessoas migrando, vítimas desta crise climática – apesar de ela já ser antiga. “A dimensão climática é antiga, contudo, pouco falada, pouco percebida e politicamente deliberadamente invisibilizada, porque ela mexe com lobbys tradicionais do petróleo, do agronegócio, então não é vantagem para o capital ficar falando”, contou ao Olhar Conceito.

Formada em Ciências Biológicas em São Paulo, mestre em Filosofia na Inglaterra, doutora em ciências pela Ufscar, pós-doutora em educação no Canadá e Espanha, Michèle segue a linha do químico holandês Paul Crutzen, vencedor do prêmio Nobel em 1995, quando nomeou a era geológica atual de ‘antropoceno’. “Chamar essa era de antropoceno é bastante interessante porque responsabiliza a humanidade sobre a terra”, afirma.

No entanto, atualmente, alguns teóricos – ela inclusa – já questionam o termo. “Ele é interessante, traz à baila a importância da humanidade no planeta, contudo, nós não somos iguais. Um fazendeiro que tem criação de gado e elimina gases do efeito estufa, não pode ser o mesmo causador da mudança climática que um trabalhador da periferia que tem poucas condições de fazer essa alteração. Então muitos teóricos, inclusive eu, estamos chamando isso de capitaloceno”.

Neste capitaloceno, segundo a pesquisadora, são a crise climática e as guerras híbridas que expulsam as pessoas de sua terra natal – mesmo que o próprio imigrante não diga isso. No caso dos haitianos, por exemplo, a justificativa é sempre a falta de emprego que, segundo ela, foi causada pela falta de água no campo e na cidade.

“Esse discurso você não vê só nos haitianos, que passaram um terremoto em 2010 que foi o divisor de água econômico daquele país. Se você se deslocar para a Venezuela, que até recentemente tinha uma qualidade de vida muito bacana: O que aconteceu que de repente virou refém de tanta pobreza? A exploração do petróleo. Então vem toda uma maquinaria dessa – que a gente está chamando de guerra híbrida agora – dos Estados Unidos sobre a Venezuela, e todas as armas coloridas que cercaram a economia”.

Uma projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que, em um prazo de cinquenta anos, um bilhão de pessoas vão migrar. Segundo Michèle, o Brasil terá que se preparar para isso, já que grande parte destas pessoas desembarcará por aqui. “Você obstaculiza, por exemplo, em termos da entrada dos imigrantes no Brasil. O excessivo número de documentos exigidos para se entrar nesse país é completamente irreal daqui a no máximo 30 anos! Porque vai empipocar tanto desastre climático, que as pessoas vão fugir dos seus locais. E o Brasil não está preparado para receber esses migrantes sem documentação”, garante.

Como consequência, a atual visão do Brasil como um país acolhedor deve mudar. “O Brasil tende a ser mais xenófobo, a não acolher mais os imigrantes, porque vai aumentar bastante [o número]”, afirma Michèle. “Nós estamos passando por um período conturbado de uma crise verdadeira, global, universal, e os desastres vão acontecer, as migrações vão acelerar, vão se intensificar e vai vir muita gente para o Brasil”.

Dentro do Brasil, Cuiabá se destacará por não estar na costa: “A longo prazo, o Andes vai derreter, a água do mar vai levantar, o Atlântico vai subir. E aqui vai ser um lagoão na Amazônia. Então [a população de] países como Venezuela, Colômbia, Equador, vai vir para cá, e os povos amazônicos também”, lamenta.

Venezuelanos acampados na Rodoviária de Cuiabá (Foto: Wesley Santiago / Olhar Direto)

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho da Coalização do Clima em Mato Grosso pode acessar o blog da Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental (Remtea) AQUI, e acompanhar a pesquisadora em seu canal no Youtube.
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