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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Moradora de VG com duas vaginas usa redes sociais para falar sobre o tema com humor e leveza

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Moradora de VG com duas vaginas usa redes sociais para falar sobre o tema com humor e leveza
Uma a cada 3 mil pessoas são condicionadas a possuírem dois úteros, dois colos e dois canais vaginais, condição denominada útero didelfo. Massagista, Maisa Rodrigues, de 27 anos, ou simplesmente Isa, como gosta de ser chamada, é uma dessas pessoas que apresentam esta condição, mas decidiu utilizar as redes sociais para desmitificar e naturalizar para outras pessoas que são como ela, debatendo sobre o tema com humor e leveza. Em um dos vídeos para o TikTok, são mais de 2,6 milhões de visualizações.

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A partir dos 12 anos, Isa, que atualmente mora em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, passou a sentir fortes dores durante o período de sua menstruação - algo inimaginável, mas acreditava ser comum, principalmente por não ter qualquer domínio sobre educação sexual e não frequentar ginecologistas. Somente aos 17 anos descobriu o que motivava as dores imensuráveis: ela possui útero didelfo.



A descoberta aconteceu depois de uma relação sexual com o ex-marido, após alguns meses do casamento. Por conta das dores, Isa optou buscar, pela primeira vez, um ginecologista, em Cáceres (a 219 km de Cuiabá), para entender melhor o que estava acontecendo. Ao fim da consulta, a surpresa veio. “Hora que cheguei no ultrassom, tinham dois úteros, dois colos uterinos e na transvaginal constou que eu tinha dois canais vaginais”, conta em entrevista ao Olhar Conceito.

Isa se assustou. Ao chegar em casa, contou para mãe, que é enfermeira, na busca de um “conforto” na situação, por acreditar ser algo que ela saberia lidar, mas a matriarca também estava tendo contato pela primeira vez com esta condição. Assim, por não ter conhecimentos sobre o seu próprio corpo, Maisa precisou de muito tempo para conseguir se "adaptar" e encarar com a leveza que encara hoje.
 
“Até os 17 anos eu não conhecia o meu corpo”

“Eu tive que me adaptar. Até os 17 anos eu não conhecia o meu corpo. Não tinha ideia do que eu tinha. Não me tocava, não me olhava. Hoje vemos mulheres dando autoconhecimento, [incentivando a] pegar o espelho e se tocar. Eu não fazia isso. Era um bloqueio enraizado pela minha criação, bem tradicional e cheia de tabus. Depois dos 17, primeira e segunda gravidez que foi me amar”, conta.

A primeira coisa que o ginecologista disse para Isa foi para esquecer a possibilidade de ter filhos. As chances de futuras crianças nascerem prematuras ou Isa sofrer de um aborto expontâneo eram grandes, mas cerca de dois anos depois a massagista descobriu estar grávida do primeiro filho, João*. “Pensa em uma coisa caótica. Eu entrei em desespero. Foi assustador saber que eu poderia ter um aborto”.



O primogênito nasceu prematuro com 32 semanas e passou por volta de um mês no hospital internado, mas depois tudo se resolveu e João é uma criança de 8 anos muito saudável. O segundo filho, Marcos*, veio dois anos depois. A criança nasceu tão saudável que foi diretamente para casa após o parto.

Natural de Rondônia, Isa começou a se questionar sobre a possibilidade de falar mais abertamente de sua condição nas redes sociais por acreditar que poderiam ter outras pessoas ou adolescentes passando pelo mesmo e também por querer que elas não descobrissem tardiamente, assim como ela. Então, há cerca de um ano, começou a publicar os primeiros vídeos no Instagram e Tik tok, onde acumula mais de 8 mil e 76 mil seguidores, respectivamente.



A massagista conseguiu atingir o seu objetivo. Diariamente ela recebe relatos de pessoas que possuem filhas que estão na mesma situação que a dela. Uma das mães, inclusive, tem uma filha de dois anos com útero didelfo.

“O mais recente caso, que eu fiquei com muita amorosidade, foi uma mãe com uma filha de dois anos. Ela descobriu na barriga, por um exame de rotina. Ela descobriu a mesma condição: dois canais vaginais e dois úteros. Ela veio falar comigo porque ainda tinham muitas perguntas na cabeça dela. Ela perguntou: Isa, qual a dica e o conselho que você me dá? O mais importante que falo, independente da idade, é: procure um ginecologista de confiança”.
 
“É a minha história e as pessoas devem respeitar isso”

Apesar da ajuda que Isa consegue dar, o lado negativo veio junto da fama nas redes sociais. Muitas pessoas, em sua maioria homens, acabam sendo incovenientes com algumas perguntas, ultrapassando ao ponto de se configurar como assédio sexual, pedindo fotos, sugerindo carreira em sites de pornografia e questionando se Isa havia algum Pix para pagar caso enviasse uma foto.

Essa inconveniência incomoda, mas também não surpreende Isa. "O homem tem uma dificuldade enorme de conhecer o corpo de uma mulher”, afirma ao Olhar Conceito. “A pessoa tem a audácia de vir comentar no meu perfil, no meu Instagram uma coisa que ele nem está procurando entender, que não está nem aí. (...) É a minha história e as pessoas devem respeitar isso”, afirma.

Isa está no Instagram, TikTok e YouTube.
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