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Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

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Corn dog, kimbap, katsudon e oniguiri: 'febre' dos doramas, k-pop e animes criam demanda entre cuiabanos

Foto: Reprodução

Corn dog, kimbap, katsudon e oniguiri: 'febre' dos doramas, k-pop e animes criam demanda entre cuiabanos
O aumento do interesse brasileiro por produções de países asiáticos como Japão, China e Coréia do Sul influenciou na busca por outros aspectos para além do que se vê em doramas, animes, no universo k-pop ou nas redes sociais, principalmente TikTok e Kawaii, de influenciadores que se dedicam a comer pratos típicos da Ásia em frente às câmeras. Em Cuiabá, a tendência criou uma demanda entre curiosos que buscam provar os sabores da gastronomia oriental. 


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Motivados pela tendência, o descendente de japoneses que chegaram em terras cuiabanas fugindo da guerra, Jorge Katagiri, de 58 anos, do Japan Food, e a gastrônoma rondonopolitana Marina Fontenelle, de 24, do Mai Mai Oniguiris, cada um em seu empreendimento, investiram na produção de pratos típicos do Japão e da Coréia do Sul. 

Além dos doramas e dos animes, influenciadores que mostram a culinária asiática como Haruyuki Ozawa (@imharuyuki no Instagram) e Ju yeong won (@priscilaju_) acumulam milhares de seguidores e visualizações entre brasileiros. Ao Olhar Conceito, Jorge explica que as receitas preparadas no Japan Food já eram sucesso nos eventos caseiros entre amigos, que o incentivavam a entrar no mercado gastronômico.

No entanto, foi a chamada "hallyu" ou "onda coreana", queprovocou um alvoroço cultural levando o entrenimento pop da Coréia do Sul para o centro do mundo e a febre dos dramas japoneses, que o fizeram tirar o projeto do papel. De acordo com o Sebrae, uma consultória da Timelens mapeou uma série de dados sobre o interesse pela cultura coreana.

Em três meses, a hashtag #kpop teve 23 bilhões de visualização no Brasil. Durante a pandemia da covid--19, os brasileiros se tornaram o terceiro maior consumidor de novelas coreanas do mundo. Nos últimos cinco anos, foram mais de 40 milhões de buscas pelo gênero de dramas coreanos no Google, superando a procura por filmes de ação.

"A gente já fazia essas comidas há muito tempo, nossos amigos sempre falavam: é tão gostoso, não achamos para vender em lugar nenhum, por que vocês não fazem para vender? Ficaram falando isso por muito tempo e decidimos ver o que daria, também por causa da febre dos doramas, a galera começou a pegar carinho por esse tipo de comida. Foi surgindo a ideia, começamos a fornecer para alguns restaurantes japoneses da cidade e um dia decidimos abrir logo uma coisa nossa, foi quando abrimos o delivery. Em breve, quem sabe, vamos abrir um local físico". 

O corn dog (salsicha empanada coreana), o topokki e o kimbap (sushi coreano) são alguns dos exemplos de receitas típicas da Coréia do Sul que Jorge decidiu colocar no cardápio da Japan Food motivado pela onda cultural que chegou em Mato Grosso. O topokki, por exemplo, começa a ser produzido na próxima semana depois de muitos pedidos de dorameiros. 
 

Além disso, a tradição japonesa que carrega no sangue também foi colocada no delivery em pratos como o katsudon, o oniguiri e o lámen, que são preparados da mesma forma há gerações pela família de Katagiri. 

"A gente pensou em voltar nosso cardápio mais para o típico japones e oriental. A galera conhece mais o sushi, mas lá no Japão comemos muito lamém, por exemplo, é como se fosse o arroz com feijão do brasileiro, assim como o katsudon, são alimentos triviais que comemos no dia a dia. Já o sushi e o temaki são coisas mais especiais".

A tradição familiar também está nas mãos que trabalham na cozinha do Japan Food, já que os pratos são feitos por Jorge, a esposa, a filha e o genro. O cuiabano com descedência japonesa morou durante mais de uma década no país asiático, onde casou e teve filho. 

"Meus pais vieram de navio chegaram no porto de São Paulo, ficaram lá por um tempo, mas vieram para Mato Grosso com promessa de terra barata para trabalhar, no tempo dos cafezais. Decidiram vir e se estabilizaram, viraram comerciantes na cidade. Tem uma originalidade, não é uma coisa abrasileirada como sushi com nutella e morango, a gente procura manter o sabor mais original possível, para não fugir do padrão. Quem comer no nosso restaurante, se tiver ido para o Japão alguma vez, vai lembrar do sabor". 

Katagiri conta que o lamén é parte da memória afetiva de todo oriental, já que a receita é replicada por vários países da Ásia, cada um com os próprio detalhes, mas que seguem a mesma premissa de um caldo cozido por horas e o macarrão. Além do preparo tradicional, o Japan Food também usa ingredientes que são importados do Japão, algo que Jorge garante influenciar no sabor. 

"É uma receita familiar, minha finada mãe cozinhava três vezes na semana, era o prato que mais tinha em casa", lembra. 

Pela complexidade do preparo do lamén, ele é feito pela família de Katagiri apenas aos sábados e reservado com antecedência pelos clientes. Em média, são vendidas 80 unidades por edição. Apesar do lamén ser um prato pensado para temperaturas frias, o calor não impede os cuiabanos. 

"O preparo começa um dia antes, na verdade o tempero da carne começa uns quatro dias antes, fazemos no fogão a lenha, durante horas. É um sabor extraordinário. É para se comer no frio, mas se for esperar para comer em Cuiabá, nunca vai comer. Ele sai bastante. Os clientes sempre falam: é gostoso no frio, mas temos que pedir quando tem, senão nunca vamos comer". 

Com base na movimentação dos clientes, Jorge constatou que a maior parte deles não são orientais, mas sim cuiabanos em busca de explorar comidas diferentes. "São pessoas que criaram desejo por ver na internet, as vezes não assiste dorama, mas viu no TikTok ou Kawaii, as vezes são pessoas que gostavam de anime como Naruto e Dragon Ball. É legal ver que 80% do público não é de coreanos, chineses ou japoneses, são brasileiros". 

Oniguiris do Mai Mai 

Formada em gastronomia há dois anos, trabalhar com ingredientes asiáticos e explorar os sabores orientais sempre foram uma constante na trajetória profissional de Marina. Apesar de ainda não ter viajado ao Japão, a curiosidade pala cultura japonesa e ver o mesmo se repetindo entre os cuiabanos foram a virada de chave para que a jovem deixasse as cozinhas profissionais para empreender no próprio negócio. 
 

"Meu público alvo hoje, até as pessoas descobrirem sobre os oniguiris, são as pessoas do nicho nerd, que já estão familiarizadas com a cultura japonesa, seja por música, animes ou doramas que estão super em alta. É um pessoal que se surpreende de achar oniguiri aqui em Cuiabá". 

Nas redes sociais, influenciadores que exploram o nicho asiático preenchem os feeds com conteúdos em que compram comida em conveniências, por exemplo, algo tradicional no Japão. Por conta disso, a ideia de Marina com o Mai Mai é fazer com que os oniguiris cheguem aos mercados e estabelecimentos comerciais com a proposta de um lanche rápido e prático. 

"A embalagem é de plástico, fiz de um jeito bem fofo, kawaii, propositalmente, porque no Japão você passa no mercado e leva embora. Então, para mim não teria compatibilidade colocar uma sacola kraft por exemplo, porque queria relembrar os mercados. Implementar nos mercados, no futuro, seria bem interessante, é algo que planejo, mas primeiro as pessoas precisam conhecer meu produto". 


Marina explica que se inspirou nas sacolas de plásticos de conveniências japonesas, chamadas de "kombinis". (Foto: Reprodução) 

No cardápio, Marina definiu três sabores: o tradicional de atum com maionese Kewpie, salmão, kani e o vegetariano de beringela feito com molho de ostra. Apesar de ter deixado a criatividade fluir para criar os oniguiris, a jovem ressalta a importância de respeitar as bases tradicionais da culinária japonesa. 

"A questão da criatividade é importante, mas quando você trabalha com algo tão tradicional como o oniguiri, há resquícios dele na história da humanidade de 2 mil anos, faz parte da cultura do Japão. Então, como fazer um produto desses sem saber as bases como técnica de arroz, de manuseamento e filetamente de peixes, a alga nori, que temos uma infinidade... Tento seguir os princípios fielmente, mas usando essas bases é possível inovar e é aí que entra a criatividade, não dá para inovar na base, que é o mais importante". 

Como começou há apenas um mês, a jovem ainda busca consolidar o oniguiri na rotina dos cuiabanos e furar a bolha dos dorameiros para que o produto não fique nichado. Quando decidiu abrir o delivery, Marina lembra que foi guiada por um dos conselhos da mãe: "vai com medo mesmo". Ela conta que é inevitável sentir receio em começar algo novo, mas tem se surpreendido com a demanda. 

"Eles estão me procurando muito, sempre são pessoas que já tem a familiaridade, mas quero romper essa bolha, porque é importante chegar em outros. Tem pessoas mais velhas na minha família que falaram: mas que bolinho de arroz é esse? Quando ofereço para provar, eles gostam, é só uma questão de ter o primeiro contato". 

Para Marina, os oniguiris chegam para somar à cultura cuiabana, que tem seu próprio bolinho de arroz eternizado. "Estou trazendo um bolinho de arroz também, só que do outro lado do mundo", brinca a jovem. 
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