A confeitaria entrou na vida do advogado Edison Goulart Puppin, de 53 anos, e da enfermeira Alessandra Nogueira Elias, de 52, por acaso. Eles começarem a fazer biscoitos em casa junto com o filho, como forma de fazerem uma atividade em família. No entanto, Edison e Alessandra se apaixonaram pela produção de doces, como brownies, pavlovas e suspiros, chegando ao ponto de abrirem uma cafeteria em Portugal e se tornarem referência em Cuiabá por conta das receitas que desenvolveram.
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Ao Olhar Conceito, os dois contam sobre as reviravoltas que fizeram dar uma pausa nas carreiras profissionais em que atuavam há décadas para investir na confeitaria Último do Pacote. A produção de doces começou ainda em 2014, quando o casal pensou que a atividade de cozinhar em família seria uma boa forma de criar memórias com o filho, que tinha seis anos na época.
O que sobrava, Edison costumava levar para o trabalho e, aos poucos, os doces começaram a fazer sucesso entre os colegas do setor, que passaram a comprar e encomendar novas unidades. “Decidimos que esse dinheirinho iria para a poupança do nosso filho”, lembra o advogado.
“Era uma brincadeira, foi realmente uma atividade para fazer com ele, mas as pessoas começaram a gostar. A gente começou a ver que tinha uma rentabilidade e fomos pesquisar receitas, fizemos algumas diferentes, o pessoal foi gostando. Nesse meio tempo, ele comprou o presente de Natal que ele queria, a intenção era ele fazer junto também. Ele tinha seis anos”.
Quando Edison foi demitido do emprego, o casal intensificou a produção de doces, participando de feiras, eventos e atendendo a encomendas em Cuiabá entre 2014 e 2017. Quando decidiram começar um planejamento financeiro para abrirem uma confeitaria, descobriram que a enfermeira tinha direito à cidadania portuguesa. Migrar para a Europa como empreendedores passou a ser o plano da família naquele momento.
Fachada da cafeteria Último do Pacote que o casal abriu em Braga, terceira maior cidade de Portugal. (Foto: Arquivo pessoal)
“Ficamos uns seis meses estudando em qual cidade a gente moraria em Portugal, optamos por Braga, uma cidade que é pequena, no nosso conceito, mas é a terceira maior do país. Tem uma universidade que recebe muitos jovens e muitas atividades na cidade”, conta Alessandra.
Eles deram entrada no pedido de visto de empreendedor no início de 2019 e foram aprovados em março daquele ano. Paralelamente, o casal se especializou na confeitaria, aperfeiçoando as receitas de biscoitos e brownies. A jornada com o suspiro começou na mesma época, quando eles fizeram um curso presencial para aprender a produzir o doce em Fortaleza.
“A chefe hoje é nossa amiga, já fomos para lá em outras oportunidades e vamos voltar para começar a gravar um curso de suspiro. Serão aulas virtuais”, explica a enfermeira.
Vida na Europa
Edison e Alessandra conseguiram inaugurar a loja apenas em 2020, em Braga, um ano depois de se mudarem para Portugal e um mês antes da pandemia da covid-19 provocar um severo lockdown na Europa. As adversidades causadas pelo avanço do vírus e a solidão da quarentena se tornaram um peso para o casal.
“Foram 45 dias que você não podia sair de dentro de casa, foi um lockdown muito severo. Ela se deprimiu, ficava na cama o dia inteiro. Só nós em outro país, sozinhos, sem poder visitar ninguém”, lembra Edison.
“A gente não tinha movimento para delivery, porque tínhamos acabado de abrir. Mas não tinha como saber que isso iria acontecer”, conta Alessandra.
No período em que precisaram manter o café fechado, o casal teve poucas encomendas. Mas, no final de 2020, poucos meses antes da segunda onda da covid-19, viveram um momento de muitos pedidos.
Suspiros são modelados em diversos formatos e podem ser recheados. (Foto: Arquivo pessoal)
“Fiquei mal de novo, decidimos voltar para o Brasil. Na semana seguinte Portugal fechou as fronteiras, por 90 dias não tinham voos do Brasil para lá. Conseguimos voltar apenas em março de 2021, pela França”, diz Alessandra.
“O euro disparou para 6,70 e quando fomos estava em 3 euros”, completa Edison.
Apesar das dificuldades do período pandêmico, o casal hoje em dia, depois de superadas as turbulências emocionais do lockdown, carrega na bagagem a experiência que tiveram por empreender em Portugal.
“É interessante como uma moeda mais forte favorece você a empreender, é muito caro sairmos daqui e montar um estabelecimento lá, mas a gente tem o retorno mais rápido. E com pouco movimento. Era só nós dois no café, a gente funcionava durante a manhã, até às 18h no inverno, no verão a gente esticava até 21h. Só nós dois tocamos o café por cinco meses. Foi uma experiência incrível, explica Edison.
O casal também sentiu as diferenças na qualidade de vida durante o período em que moraram em Braga. “Meu filho em escola pública, ótima, nós usando o serviço de saúde pública, com 200 euros a gente fazia o mercado do mês. Outro estilo de vida. O movimento é pequeno comparado com o daqui, mas sempre tinha gente entrando no café”, conta Alessandra.
Apesar de não serem portugueses, a enfermeira lembra que ela e o marido foram acolhidos pelos clientes da cafeteria em Braga, que se tornaram frequentadores fieis. As pavlovas e suspiros eram os favoritos, produtos que não podiam faltar nas prateleiras do estabelecimento do casal. “Eles são extremamente bairristas, então quando você conquista um cliente português é uma vitória”.
O casal notou, por exemplo, que produzir doces portugueses não era algo rentável, já que os clientes de Braga chegavam buscando pelos outros doces produzidos pela Último do Pacote.
“Nós fizemos um doce português com vinho do Porto e gemas chamado Papa de Anjo. Essa amiga portuguesa provou e disse que ia comer porque a gente estava oferecendo, mas que ela ia no café para comer doces portugueses. Realmente não vendeu, não colocamos mais”, lembra Alessandra.
Casal se tornou referência no mundo dos suspiros. (Foto: Reprodução)
Retorno para Cuiabá e engajamento no Instagram
Quando chegaram em Cuiabá, em uma das ondas da covid-19, o casal encontrou dificuldade para encontrar emprego. Eles decidiram comprar um forno e voltaram a produzir os doces no apartamento em que estavam morando. Durante esse meio tempo, Alessandra e Edison também passaram a publicar conteúdo no Instagram da doceria, sendo que alguns deles chegaram a viralizar. Atualmente, a Último do Pacote tem mais de 26 mil seguidores.
Como o suspiro fez sucesso em Portugal, o casal decidiu continuar aperfeiçoando a receita do doce, que é feito em versões modeladas em diversos formatos e com recheio.
“Estamos descapitalizados, estamos tentando juntar um capital, mas não queremos abrir uma loja, queremos abrir um ateliê pequeno, vender os doces como presentes mesmo. Estou me aperfeiçoando nos brigadeiros modelados, em caixas presenteáveis, não queremos ficar só no nicho das festas, porque acho que esses doces podem ser presentes que encantam os olhos”, explica Edison.
Apesar do suspiro ser uma receita que leva apenas clara de ovo e açúcar, o casal se especializou em uma receita que tem menos teor de açúcar do que convencional. “Faz muita diferença, ele é leve, não é enjoativo. Leva três horas de forno, no suspiro convencional. O modelado leva de quatro a cinco horas para secar”, explica Alessandra.
“Os clientes elogiam muito a beleza principalmente nas sobremesas como a pavlova. Sempre tento fazer o pós-venda, mas de uma forma que não seja agressivo, que a pessoa não se sinta forçada a me dar um feedback. Primeiro se apaixonam pelo visual, depois vem o sabor”, continua a enfermeira.