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Já que o mundo corporativo é uma "selva", empresas têm investido em treinamento de equipes no Pantanal

28 Mai 2013 - 16:47

Stéfanie Medeiros - Especial para o Olhar Conceito

Foto: Stéfanie Medeiros

Já que o mundo corporativo é uma
Papéis na mesa, prazos apertados, um processo judicial atrás do outro, a mídia na porta da sua empresa esperando o próximo deslize. Sem contar os funcionários, a dificuldade do trabalho em equipe, as brigas internas e a fragilidade física das pessoas que insistem em ficar doente mais de duas vezes por ano. O mundo corporativo é uma selva, conflito de egos e disputas diárias pelo comando.

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Mas e quando a chamada “selva” ajuda a harmonizar o dia a dia de uma empresa? E quando um líder, através de atividades desenvolvidas no meio de um ecossistema como o Pantanal na verdade aprende a coordenar seus funcionários, estreitar suas relações e tornar o ambiente de trabalho coeso e até mesmo agradável?

Por incrível que pareça, foi este o objetivo da MV Consultoria, em parceria com a Zetta Coaching e a pousada Araras Eco Lodge. Reunindo executivos, funcionários de alto escalão e profissionais liberais de diversas áreas, liderados pelo master coach Marcelo Homci, 49 anos, e auxiliados pela psicóloga consultora Márcia Venturini, o grupo dirigiu-se ao rio. Remos na mão, coletes salva-vidas e instruções dadas, foram, em duplas, para um dentro de uma canoa.

O propósito é muito simples e claro: chegar até o final do rio, quem sabe sem se enroscar em nenhum galho, ficar preso nas plantas aquáticas, perder o remo ou desviar a canoa para as raízes submersas. Parece algo fácil, mas na verdade exige uma quantidade considerável de esforço, concentração e trabalho em equipe. As mesmas habilidades exigidas em um escritório. Mas ao invés de uma palestra em uma sala confortável com ar condicionado, os líderes estavam embaixo do sol, em um rio cheio de jacarés, adquirindo os requisitos com o próprio suor.

“O objetivo do coaching é você ir de um lugar e chegar a outro, atingir seus objetivos. A diferença dele para as outras modalidades é que você tem deste momento, do aqui e do agora, em diante. O coaching não trabalha com o passado, mas sim com meios de se atingir objetivos futuros”, havia explicado Marcelo no dia anterior.

A atividade na canoa, além de trabalhar a harmonia da equipe, visa que a dupla se comunique sem palavras, apenas por sinais, movimentos do corpo e pelo som. O mais forte, responsável pela locomoção e direção, vai no banco de trás. Já o mais ágil, encarregado de ajudar na rapidez e equilíbrio das remadas, vai no banco da frente. Apesar de a dupla não poder conversar, nem ao menos se ver, as remadas deviam sincronizar-se e cada um sentir o comando de seu parceiro.

As duplas foram escolhidas de forma aleatória: cada um recebeu uma frase de algum pensador ou cientista notório. Para saber quem seria seu par, bastava achar a pessoa que tinha a frase igual a sua. “O cientista não pensa através de fórmulas”, era a minha frase, e também a de Márcia Venturini, minha dupla na atividade.

Aquecimento feito, de dois a dois, então, as equipes foram entrando na canoa, e em seguida no rio. As damas da noite, apenas em botão, coloriam as águas de cor opaca com verde, rosa escuro e diferentes tons de amarelo. As plantas subaquáticas era visíveis quando se estava dentro do rio. Os jacarés, imobilizados, observavam a movimentação na sombra das raízes da árvores. Os pássaros voavam de um galho para o outro, cantando indiferentes ao grupo que agora seguia em direção à parte mais baixa do rio.

Algumas das duplas não conseguiram desenvolver a harmonia necessária para direcionar a canoa e seguir em frente. Uma delas foi eu e Márcia, que, sem nos entendermos com o lado das remadas, ficávamos presas nas raízes ou, quando finalmente pegávamos velocidade, íamos de supetão em direção aos jacarés.

O desespero começou a bater, pensei que não sairíamos dali nunca, ou pior: que a qualquer momento a canoa fosse virar no rio cheio de piranhas. Mas este é o negócio da canoagem: no desepero, fique parado, mesmo que frente a frente com animais selvagens. Se houver movimentos bruscos, a canoa irá virar ou ficar ainda mais presa na vegetação. E não é exatamente assim no mundo corporativo?

O diretor de segurança e guia residente da pousada, Aynore Cauda Soares veio nos auxiliar. Ele dava as instruções, falava como tínhamos que remar, mas não obtivemos sucesso. Todas as outras duplas já tinha saído de vista, estavam rio abaixo, quase chegando no ponto final, prontos para voltar. Depois de tantas tentativas frustradas de ir em frente, decidimos trocar de duplas. Não adiantava insistir em algo que se recusava a funcionar.

Esta é uma das lições que o coaching no meio do Pantanal nos ensinava: se uma dupla ou equipe não está dando resultados, talvez o melhor seja reorganizar o conjunto. O trabalho cooperativo e empresarial não depende de uma pessoa, mas de um time. Se a canoa não está indo pra frente, não é culpa de quem guia ou de quem dá rapidez. É a falta de harmonia que faz a embarcação ficar presa.

Assim que trocamos de equipe, desta vez Márcia com Aynore e eu com um dos cooperados da Rhumo Consultoria, Nelson Martin Almeida, 54 anos, o rio deixou de ficar tão pesado, as remadas fluíram e a canoa finalmente tomou uma distância apropriada da vegetação lateral.

Comecei a sentir o vento e o cheiro de água gelada. O suor na minha testa evaporou-se e gotas de água jogadas pelo remo refrescavam-me. “Stéfanie, olha aquela flor”, dizia Nelson, quebrando o pacto de silêncio. Olhava a flor e pensava: “Até que não é tão ruim quando têm harmonia”. . E nos auto-avaliavamos: como desespero vai cedendo lugar para a calma, que transforma-se em admiração pelo Pantanal, pelas dezenas de marimbondos rodeando uma árvore, pelas capivaras andando nas margens, dóceis, acostumadas com a presença humana.

Serviço:

O Araras Eco Lodge fica na Estrada Parque Transpantaneira, km 32 - Mato Grosso - Brasil e está localizada no Pantanal Norte, principal santuário de vida silvestre do continente sul-americano. Inserida num ambiente de rara e múltipla biodiversidade, a pousada foi construída em harmonia com seu entorno e tem acesso, durante todo o ano, pela Estrada-Parque Transpantaneira, a 132 km ao sul de Cuiabá, capital de Mato Grosso.

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