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Notícias / Diversão e Lazer

Vielas do entorno da Igreja de São Benedito são tomadas pela multidão de fiéis

Da Redação - Priscilla Silva

Ainda era possível ver espaços vazios entre as barracas gastronômicas que ocupavam as vielas ao redor da Igreja de São Benedito, na Prainha, em Cuiabá. A festa do Santo Negro, símbolo de luta e fé, ainda começava a receber os seus primeiros convidados, às 19h, de sexta-feira (05) e o grande jantar já estava na mesa.

A Maria Izabel acompanhada com a farofa de banana e tutu de feijão eram as estrelas do cardápio e saíam da cozinha do Santo instalada atrás da Igreja. O cheiro da comida, já havia se espalhado pelo local. O prato começou a ser preparado por mais de 20 festeiros ainda no alvorecer do dia.

Há mais de 100 anos, a tradição é mantida e acompanhada por mais de 10 mil pessoas que prestigiam os últimos dias de festejos. Além dos pratos típicos, há um menu variado que inclui pastéis, creps, strogonof, paçoca de pilão e sarapatel. Tudo para agradar os diferentes paladares. 



Antes de alimentar o corpo, alimenta-se o espírito. A visita ao dono da festa é obrigatória para os mais devotos. À frente da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a imagem do Santo é reverenciada, acariciada, contemplada e presenteada com flores e velas postas aos seus pés. O silêncio e o respeito predominam no momento da oração.



Com o passar das horas, as ruas vão sendo tomadas pela multidão. O espaço já preenchido vai ficando cada vez menor . Nas calçadas, vão se formando rodas de famílias já servidas e ansiosas para as apresentações culturais. A principal atração da noite é a tradicional Dança dos Mascarados de Poconé.

Enquanto esperam, é possível ouvir os burburinhos de um português bemmm puxado, o cuiabanês e suas nuances prolongadas. “Mas como comadre Dita, não veio? O que hove cô ela?”. O papo vai sendo colocado em dia. Os mais novos quando chegam tomam benção dos mais velhos e vão se acomodando pelo chão ou nas escadarias da Igreja.

Os mascarados são anunciados pelo microfone, os convidados abrem a roda para o grande grupo entrar. Ao som da banda que os acompanha, o balanço das saias das damas e do lenço dos homens cumprimenta a multidão que se aperta e briga por uma brecha de visão.



Típica da cidade de Poconé, região pantaneira de Mato Grosso, a dança tem origem controversa e está ligada a misturas tanto da contradança europeia, influência dos colonizadores espanhóis e portugueses, quanto das tradições indígenas locais com ritmos negros.

Apesar de ser dançada exclusivamente por homens, a imagem feminina é representada pelas saias rodadas, brilho e colorido das roupas. O marcante, que tem a função de conduzir a dança, dessa vez encantou os presentes. Ele era o menor e mais jovens de todos os dançarinos e deu uma aula de tradição aos espectadores. Acompanhado pelas balizas de segurar o mastro com fitas coloridas e a bandeira de São Benedito, o pequeno conduzia o espetáculo.



Finalizada a apresentação, os Mascarados seguiram rua acima e terminaram o ato  fazendo uma visita à cozinha do Santo. Para dar sequência à festa, o cantor Roberto Lucialdo sobe ao palco e arrasta todos para o centro da pista. Começa o rasqueado cuiabano. Momento de resgatar na memória as histórias contadas pelos mais antigos e aproveitar o ritmo animado da música cuiabana.

Quando o relógio já aponta meia noite, um casal acompanha a despedida do cantor, as mesas são recolhidas e os espaços voltam a crescer nas ruas do entorno da igreja do Rosário que cedeu um espaço para o Santo negro.
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